Retrospectiva 2024: Ducati ofusca concorrência em ano quase perfeito
A Ducati reinou soberana na temporada 2024 da MotoGP e amargou uma única derrota em GP. Aos sábados, na sprint, o aproveitamento foi ligeiramente menos perfeito, mas com o ‘quarteto fantástico’ formado por Jorge Martín, Francesco Bagnaia, Marc Márquez e Enea Bastianini, a marca de Bolonha conseguiu mais um ano para a história
QUEM É QUE PODE PARAR A DUCATI? Em 2024, a resposta é simples: ninguém. Mais uma vez, a Desmosedici reinou soberana na MotoGP, mostrando versatilidade na versão atual, força no modelo anterior e uma elegância ímpar no conjunto da obra.
Para 2024, a casa de Borgo Panigale começou com as equipes um pouco diferentes. No time oficial, Enea Bastianini seguiu ao lado do bicampeão Francesco Bagnaia apesar do campeonato pavoroso do ano anterior. Mas, na Pramac, Franco Morbidelli chegou para fazer par com um mordido Jorge Martín. Na VR46, o resgatado Fabio Di Giannantonio fez dupla com Marco Bezzecchi.
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Mas nenhuma outra equipe começou o ano mais sob os holofotes do que a Gresini. Depois de 11 temporadas, Marc Márquez deixou a Honda e foi para o time de Nadia Padovani para tentar reencontrar a competitividade. O casamento com a GP23 despertou muita curiosidade, especialmente depois de três anos de martírio resultante da fratura no braço direito. Para completar, a equipe ainda seria 100% família, já que Álex Márquez era quem estava do outro lado da garagem.
Mas, ao contrário do que aconteceu em 2023, as diferentes versões da Ducati não tinham um nível tão parelho de desempenho. A GP24 tinha uma superioridade clara em relação à antecessora. E essa discrepância colocou Bezzecchi, por exemplo, de escanteio. A temporada do italiano não foi um completo desastre, mas tampouco esteve no mesmo nível do ano passado. Álex Márquez tampouco conseguiu mostrar o mesmo bom ritmo que teve nos momentos de brilhantismo do ano anterior.
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O caso de Di Giannantonio é um pouco diferente. O italiano sofreu com problemas físicos ao longo do ano e encerrou a temporada mais cedo para poder passar por uma cirurgia no ombro e chegar fisicamente pronto para o campeonato de 2025. A retirada precoce de Fabio, aliás, promoveu um momento marcante da temporada: o retorno de Andrea Iannone à MotoGP após uma despedida melancólica resultado de um gancho de quatro anos de suspensão por doping.
Antes de chegar ao ‘quarteto fantástico’, como definiu Claudio Domenicali, diretor-executivo da Ducati, vale lembrar o ano de Morbidelli. O ítalo-brasileiro recebeu uma chance de ouro com a Pramac após campanhas ruins com a Yamaha, mas a chance de redenção meio que subiu no telhando antes mesmo da pré-temporada, graças a um acidente em um teste privado que causou uma forte concussão. Franco disse meses depois que perdeu a memória e teve problemas para reconhecer a própria família.
Com o acidente, o #21 perdeu toda a pré-temporada e teve de conhecer a moto da Ducati com a temporada já em curso. Aos poucos, o desempenho foi melhorando, mas não chegou a ser o ano redentor que ele precisava que fosse.
No quarteto mais brilhante, a situação de Bastianini foi a mais fragilizada. Ruim, a temporada não foi. Tampouco foi gloriosa quanto deveria. Antes de chegar à equipe oficial, ‘Bestia’ mostrou um enorme talento, mas sobrou azar em 2023 e faltou explosão em 2024. No fim, coube a ele a briga pelo terceiro posto na classificação, mas ele não conseguiu e foi batido na última etapa, o GP Solidário de Barcelona.
O terceiro homem mais forte na temporada foi Marc Márquez. Mas, antes de qualquer resultado, o mais importante foi conseguir respostas. O #93 foi para a Gresini para colocar as mãos na melhor moto do grid e saber se ainda era competitivo. E agora ele sabe. Ele e todo mundo.
Mesmo com uma moto mais frágil, Marc chegou a flertar com o título, mas, mais do que isso, o espanhol deu as cartadas certas para definir o futuro do jeitinho que queria. Em meados do campeonato, chegou a circular na imprensa italiana que o destino do seis vezes campeão da MotoGP era a Pramac com uma moto de fábrica. Mas, como dizem, Marc foi ‘grandão’ e, no meio de uma coletiva de imprensa, disse que não aceitava. Satélite por satélite, ele ficava onde estava. Afinal, se a Gresini tinha feito tudo por ele neste ano, porque abandonaria o time de Nadia Padovani por outra estrutura satélite se a moto do ano poderia ser colocada lá mesmo?
A fincada de pé do piloto de Cervera resultou em uma reação de cadeia. Ele foi selecionado para formar dupla com Bagnaia a partir de 2025. Martín, depois da terceira rejeição, decidiu fazer as malas e assinar com a Aprilia, e a Pramac optou pelo divórcio após um longo casamento e assinou com a Yamaha para encarar um novo desafio. ‘Make Yamaha Great Again’, como Paolo Campinoti vem anunciando por aí.
A decepção pela nova rejeição, contudo, não abalou Martín. Assim como em 2023, o espanhol de Madri foi o grande rival de Bagnaia na luta pelo título e, mais uma vez, a disputa chegou à corrida final. Só que desta vez, o cenário era diferente: o espanhol era quem tinha a melhor mão para fazer a última jogada.
No todo, Pecco não fez um ano ruim. Ele venceu 11 GPs, um aproveitamento de 55%. Nas sprints, ele também conseguiu equilibrar o número de vitórias com Martín e os dois terminaram empatados com sete para cada lado. Mas o italiano errou mais. E os muitos abandonos pesaram na conta final.
Pecco arrastou a briga para o GP Solidário de Barcelona e fez tudo que podia — pole e vitórias na sprint e no GP —, mas de nada adiantou. Martín podia controlar a situação e assim o fez, garantindo o título com dez pontos de frente.
A Ducati amargou a derrota da equipe comandada por Davide Tardozzi, mas, para a marca em si, 2024 ficou longe de ser insucesso. Nos GPs, a casa de Borgo Panigale perdeu uma única corrida — para a Aprilia de Maverick Viñales no GP das Américas. Nas sprints, só três vezes um piloto montado na Desmosedici não levou a medalha de ouro — Viñales em Portugal e Austin e Aleix Espargaró na Catalunha. E até na classificação a soberania de Bolonha ficou evidente. A Ducati saiu na pole em 80% das oportunidades, superada apenas nos GPs de Américas — por Maverick Viñales —, de Catalunha e Grã-Bretanha — por Aleix Espargaró —, e do Japão — por Pedro Acosta.
Ao fim das 20 etapas, a Ducati fechou o ano com 722 pontos o Mundial de Construtores, quase 98% dos tentos disponíveis. A fábrica comandada por Gigi Dall’Igna só não somou o máximo possível nos fins de semana dos GPs de Portugal, Américas e Catalunha, justamente as corridas em que a Aprilia se destacou.
Mas a casa de Noale, mesmo que tenha sido a única a quebrar o domínio vermelho, não ficou com o vice-campeonato. A Aprilia foi superada pela KTM por 25 pontos e terminou no terceiro posto. A marca de Mattighofen, contudo, engoliu um atraso de 395 pontos para a campeã.
Além de mais uma vez mostrar a força da Desmosedici, 2024 deu à Ducati a oportunidade de mostrar, também, que ela é uma marca que joga limpo no esporte. Mesmo com o divórcio da Pramac e a possibilidade de ver a equipe oficial derrotada, a marca italiana silenciou os rumores e manteve intocado o apoio a Martín. Até o fim, o espanhol receber o melhor que Bolonha tinha a oferecer. E, assim, o #89 fez história como o primeiro piloto na era da MotoGP — que começou em 2002 — a conquistar o título correndo por uma equipe satélite.
O sarrafo que já estava lá em cima ganhou um pouco mais de altura em 2024. E, mesmo que a Ducati tenha perdido mais de 37% do pool de talentos com as saídas de Martín, Bastianini e Bezzecchi, a chegada de Marc Márquez tem potencial não só para suprir no campo esportivo, mas também de visibilidade.
2024 foi um ano incrível para a Ducati, mas está todo mundo já ansioso para saber o que vem a seguir.
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