Era a mesma Valência – talvez uma de poder aquisitivo mais alto antes da explosão da maior crise financeira em escala global nas últimas oito décadas. Era uma outra MotoGP. E era Valentino Rossi no centro do furacão. Ele chegava à prova derradeira da temporada com oito pontos de vantagem para Nicky Hayden. Um a mais do que neste domingo,
quando é Jorge Lorenzo quem vai tentar desbancá-lo.
Rossi, na mesma Yamaha de hoje, enfrentava Hayden, então na Honda – hoje de Márquez, a terceira via. Quem vinha atrás, já ficara com o título fora de alcance. Loris Capirossi, de Ducati, e Marco Melandri, de Honda, não brigavam mais. O companheiro de Rossi era Colin Edwards, que assistia de longe, ainda atrás de um jovem Dani Pedrosa e de Kenny Roberts Jr.
Valentino chegara à Yamaha da Honda três anos antes, já tricampeão e mesmo assim para uma enxurrada de críticas feitas diretamente ao salário que a companhia de Iwata o ofereceu. Levou consigo quase toda a sua equipe, inclusive o chefe dela, Jeremy Burgess. Rapidamente, o 'Doutor' venceu as dúvidas: levou a então malvista YZR-M1 ao título nos dois primeiros anos. Quando 2006 chegou, a Yamaha acreditava que passearia no parque. E não foi assim.
Menos potente, mais pesada, com pneus diferentes ao qual não se adaptou, a M1 viveu um ano complicado. Rossi não teve um começo bom a despeito de ter vencido a prova em Losail. Foi 14º na Espanha graças a um toque em Toni Elías, quarto na Turquia e abandonou na China e França por puros problemas de confiabilidade. Eram cinco primeiras provas que ligavam o sinal de alerta, porque enquanto isso as Honda acumulavam pontos. Hayden teve quatro pódios, Capirossi venceu uma, fez mais um pódio e outros três top-10.
Rossi tenta levantar a moto para voltar ao combate (Foto: Getty Images)
Das cinco provas seguintes, Valentino venceu três, foi segundo em outra e oitavo na restante. Era uma reação, mas Hayden ganhou a corrida seguinte, em casa nos Estados Unidos, e a diferença entre os dois era de 51 pontos. Ainda restavam seis provas, mas a situação não era promissora.
Só que cinco pódios seguidos mudaram os contornos do campeonato. Rossi fez 59 pontos a mais naquela sequência e tomou a liderança em Portugal, quando Hayden se encontrou com o companheiro Pedrosa logo no início e ambos foram ao chão e abandonaram. Mas a vitória escapou do então pentacampeão próximo da bandeirada, quando foi passado por Elías. Faltava Valência.
Não parecia uma história triste após a classificação. Valentino fez a pole, Hayden largou no quinto lugar. Para o italiano, era um bom presságio do final que se aproximava no dia seguinte. Mas então veio a corrida e o destino se encontrou com o Doutor.
Rossi caiu e saiu da briga em 2006 (Foto: Getty Images)
Rossi, voando no sábado, largou mal no domingo e simplesmente não tinha o ritmo que aparentava um dia antes. Tentando se recuperar, sofreu uma queda – o campeonato estava, então, fora de alcance.
"Foi um final de semana muito estranho para mim, porque eu estava voando na sexta e no sábado. Fiz a pole, mas também estava com um ritmo muito, muito forte de corrida com os pneus duros, então eu estava relaxado para o domingo", contou certa vez.
"Mas no domingo, desde a manhã, algo estava errado, porque eu estava muito lento. É estranho. Algo estranho aconteceu, eu acho. Mas, de qualquer forma, eu sofri muito e cometi um erro na corrida. Todo final de semana, toda a corrida tem uma história diferente", afirmou.
Rossi foi atrás da M1, levantou e seguiu. O suficiente apenas para o 13º lugar, longe de quem vinha à frente, uma temporada inteira atrás de Hayden. O americano foi terceiro colocado, atrás de Troy Bayliss e Capirossi, mas levou 16 tentos contra três de Valentino.
Valentino Rossi cumprimenta o campeão de 2006, Nicky Hayden (Foto: Getty Images)
Nicky Hayden quebrava, assim, a sequência de Valentino Rossi e se sagrava campeão mundial de motociclismo pela primeira e única vez.
Nove anos se passaram, mas Rossi segue desgostando de Valência por conta daquela prova mais do que por não ser seu desenho favorito. Se pudesse dedicar uma música à pista onde decide o campeonato neste domingo, seria algo como 'Bad Blood', de Taylor Swift.