Hamilton lembra origem e diz que hoje não chegaria à F1: “Clube de meninos bilionários”

Em entrevista ao jornal espanhol AS, o piloto da Mercedes afirmou que quer se dedicar a viabilizar os sonhos de outras pessoas e manifestou o desejo de ver um automobilismo mais inclusivo e acessível

Trailer dos personagens clássicos do F1 2021 (Vídeo: Codemasters)

Lewis Hamilton afirmou que a Fórmula 1 se tornou um “clube de meninos bilionários”. O piloto da Mercedes relembrou as origens humildes e considerou que, se tivesse de recomeçar agora, jamais chegaria ao Mundial.

Em entrevista ao jornal AS, o Hamilton foi perguntando sobre o que pensa da nova geração de pilotos, inclusive Carlos Sainz Jr., Lando Norris e Charles, mas lembrou da própria trajetória no esporte.

“Não sei se importa muito o que eu penso, não sei se posso julgar se é uma boa ou má geração. Sempre tem pilotos que chegam”, disse Hamilton. “No meu caso, fiz isso com Nico [Rosberg] e [Robert] Kubica, um pouco veio [Fernando] Alonso, a era de [Michael] Schumacher… sempre haverá uma era”, seguiu.

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Lewis Hamilton quer ser lembrado por contribuição social (Foto: Mercedes)

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“Para mim, pessoalmente, vivemos em um momento em que isso se tornou um clube de meninos bilionários. Se tivesse de começar outra vez, vindo de uma família de classe trabalhadora, seria impossível que estivesse aqui hoje. Pois os outros garotos tinham muitíssimo mais dinheiro”, avaliou. “Temos de trabalhar para mudar isso e para que esse seja um esporte acessível, para ricos e para pessoas com origem mais humilde”, defendeu.

Já nos últimos anos, Hamilton se tornou um defensor da inclusão no esporte e tem trabalhado ativamente no combate ao racismo. Perguntado se alguma vez na carreira dividiu o grid com outro piloto preto, Hamilton respondeu: “Nunca, não. Eu nunca nem sequer vi outro. Meu pai, meu irmão e eu sempre éramos as únicas pessoas de cor. Era normal para nós, apesar de termos sempre sido conscientes. Se tornou uma coisa normal, claro, mas, no começo, era óbvio que não éramos bem-vindos. Inclusive hoje, é a mesma coisa”.

“Depois do kart, coincidi com alguns pilotos chineses ou asiáticos, mas nenhum piloto negro. Eu me dei conta desde o primeiro momento em que cheguei no kart e me lembraram disso a cada corrida desde que tenho oito anos. Mas continua acontecendo agora. Aqui nós temos um piloto asiático, não tem nenhum negro e tampouco tem alguém vindo”, apontou.

Ao contrário de outras categorias, como a NBA, por exemplo, Hamilton tem sido voz solitária no automobilismo no combate ao racismo, ainda que tenha companhia de alguns de seus colegas sempre que ajoelha em protesto. O piloto, porém, sabe de que há um longo caminho a ser percorrido.

“Como vimos desde o ano passado, é questão de manter conversas incômodas. Existe cada vez mais consciência sobre o problema. Na Europa, o racismo é diferente da América do Norte, mas também está presente de forma notável. Esses últimos meses foram um período de aprendizado para que muita gente se tornasse consciente do que as pessoas negras, em especial, experimentam ao longo da vida”, comentou. “Por coisas como essas, montei uma comissão que mostrará todos os desafios que as pessoas negras enfrentam e, possivelmente, as brancas, não. Não é questão de dividir, nós queremos unir as pessoas e educar. Se você tem um amigo que pertence a uma minoria, talvez possa perguntar a ele que tipo de dificuldades teve de enfrentar por ser diferente”, sugeriu.

“No meu caso, mantenho conversas incômodas com meu chefe, com a Mercedes, com os patrocinadores. É preciso ter essas conversas e não temos de nos envergonhar, mas sim ver o que podemos fazer entre todos nós para conseguir uma Fórmula 1 mais diversa, como qualquer outro negócio. Vai levar tempo, não vai mudar do dia para a noite, mas todos nós somos iguais, ainda que a cor da nossa pele seja diferente”, ressaltou.

O ativismo de Hamilton é alvo de críticas de pessoas que entendem que ele deveria colocar a Fórmula 1 como prioridade. Questionado sobre qual a posição do esporte em seu ranking pessoal, Lewis respondeu: “O esporte é a minha vida, o meu trabalho. Diria que é a minha segunda prioridade”.

“Não seria capaz de fazer nenhuma das outras coisas sem essa competição. Quero ajudar as pessoas, me educar e incentivar os que estão ao meu redor para que façam o mesmo. Isso está me levando muito tempo, assim como me sento para falar com quem gere a Fórmula 1 para ver como podemos melhorar, como podemos ser mais eficientes e diversos no futuro do automobilismo. Eu nunca aceito um não como resposta”, relatou. “Assim, na pista eu sigo tendo que ser o melhor, o que requer o mesmo tempo, mas para mim é divertido, é algo de que gosto desde que sou criança. O outro problema, algo com que luto, pois não será fácil de resolver”, admitiu.

Por fim, Hamilton voltou a deixar claro que o legado pelo qual quer ser lembrado não é o da pista.

“Quando vierem os últimos dias de vida na Terra, com o que você vai ficar? No meu caso, será com ter ajudado as pessoas. Não existe sentimento melhor do que ajudar outras pessoas a realizarem seus sonhos. E se for mais de uma pessoa, pode descansar em paz, porque fez algo com o seu tempo”, considerou. “Eu consegui muitas coisas, mas agora toda a minha concentração será para ajudar os demais. Eu estou vivendo um sonho, não preciso de nada para mim, mas como posso ajudar um garoto que quer ser engenheiro ou piloto?”, concluiu.

A Fórmula 1 volta a acelerar em Mônaco neste sábado, com o treino livre 3 marcado para 7h (de Brasília), enquanto a classificação acontece às 10h, sempre com transmissão ao vivo pelo canal por assinatura BandSports e também pelo serviço de streaming F1 TV Pro. O GRANDE PRÊMIO acompanha tudo AO VIVO e em TEMPO REAL.

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