Ainda inconstante, Alpine vê vitória cair do céu para ajudar a sustentar novo projeto

A vitória que encerrou a primeira parte da F1 2021 dá a força que a Alpine precisa para acreditar que está no caminho certo para o futuro

Os melhores momentos do GP da Hungria (Vídeo: GRANDE PRÊMIO com Reuters)

A temporada da Alpine não é a melhor entre todas as equipes e também não é a pior dentro das proporções que se esperava para 2021. O salto de qualidade não veio, mas também não houve a queda da Aston Martin, por exemplo. Em momento de absoluta falta de constância, a Alpine tentou se encontrar e ganhou presente pela insistência: a vitória que veio do céu no GP da Hungria. É a possibilidade de sustentar o projeto que não dará frutos maiores neste ano, mas tem a possibilidade das novas regras do ano que vem.

Na realidade, muito do conjunto da Alpine para 2021 está presente no limbo da mediocridade. Mas veja, não se trata de menosprezar o conjunto francês, apenas do reconhecimento do médio, mediano mesmo, no meio do bolo e sem grande destaque, mas não necessariamente ruim das novidades do ano.

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A mudança de nome e cores após a Renault entregar a equipe nas mãos e símbolos de sua divisão esportiva fez pensar que o crescimento visto em 2020 apenas continuaria, mas não era bem assim. Com nova gerência após a saída de Cyril Abiteboul e a chegada do diretor de corridas Davide Brivio, além da importância reforçada do diretor-executivo Marcin Budkowski, não há dúvida que a Alpine busca um caminho que ganhou contornos mais de estrada em construção que em 2020, com as promessas de tatuagem e a enorme boca de Abiteboul que faziam o pódio parecer um fim nele mesmo.

Só que a situação não é tranquila quando se avalia as rivais. Primeiro, porque a Ferrari não teria dois anos como aquele 2020 de pesadelo e a Aston Martin, apesar da enorme decepção, agora é time de fábrica com orçamento reforçado, ao passo que a AlphaTauri entrou de vez na faixa intermediária do grid. A ‘F1 B’ ganhou contornos olímpicos numa luta de foice no escuro.

Fernando Alonso e Esteban Ocon no carro beluga da Alpine (Foto: Alpine)

E o A521 não veio para a baila tão forte quanto veio bonito. A tampa do motor cabeçuda, no estilo beluga, passou bastante tempo na pista ao longo dos testes de pré-temporada e evitou problemas de confiabilidade, mas o desempenho não estava lá. Ferrari e McLaren confirmaram rapidamente que tinham carros melhores, enquanto o desafio dos franceses estava na AlphaTauri.

O começo foi complicado, mas as coisas melhoraram com o desenvolvimento do sistema de direção a partir do GP de Mônaco, quando apareceu primeiro no carro de Fernando Alonso. De lá para cá, a Alpine foi mais competitiva, embora tenha se mantido no mesmo nível dentro do pelotão. E Alonso passou a levar vantagem para Esteban Ocon após ver o francês se destacar no princípio. De Mônaco até antes da Hungria, Alonso se deu melhor que o companheiro em cinco provas seguidas.

A dupla é um exemplo interessante do que funciona. Os problemas de ambos foram exatamente os esperados: Alonso sofreu com o feeling do carro no começo do ano de retorno ao grid, enquanto Ocon mostrou pilotagem de extremo destaque cruzada com momentos prolongados de baixa – trata-se de um piloto muito talentoso, por isso a renovação contratual com a equipe, mas inconstante. Qual a comparação dos dois? Em termos de pontos, talvez fosse Gasly, mas a AlphaTauri conseguiu ter corridas múltiplas em que furaram a bolha das rivais McLaren e Ferrari, coisa quase que impensável para os franceses até aqui.

Então, Ocon e Alonso estão colocados no Mundial de Pilotos à frente da dupla da Aston Martin e do segundo e inexperiente nome da AlphaTauri. Olhando em escala um pouco mais completa, correm um campeonato à parte e contam com ares de povo sem Estado. Mas corridas como a Hungria mostram tudo de melhor que ambos podem ser, certo?

DAVIDE BRIVIO; ALPINE; FÓRMULA 1; FERNANDO ALONSO;
Davide Brivio, diretor de corridas da Alpine, ao lado de Fernando Alonso (Foto: Alpine F1 Team)
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O golpe de sorte da largada abre a porta e serve aos dois. Ocon aproveita a chance de uma vida e guia boa parte da corrida numa das pistas mais técnicas do calendário como se tivesse passado a carreira toda na liderança de uma corrida da Fórmula 1. Parece bobo, mas andar de cara para o vento numa prova assim faz a perna de quem não está acostumado pesar – Lance Stroll na Itália 2020 que o diga. Ocon, não. Atrás dele e sem a mesma sorte de pingar na liderança, Alonso guiou como nos velhos tempos. A batalha com Lewis Hamilton foi a cereja no bolo de um dia especial.

Tão importante quanto os predicados de ambos é a boa relação. Mais velho e sem a mesma pressão de outros dias, Alonso tem contornos muito mais terrenos e tranquilos, enquanto Ocon é praticamente obrigado a mostrar mais respeito ao histórico companheiro que a Sergio Pérez anos atrás. A experiência também ensina. A forma como Alonso esperou Ocon cumprimentar a equipe toda para abraçá-lo de forma efusiva em Budapeste foi mais que um gesto, foi um sinal de que, pela primeira vez na carreira na F1, aceitou, ao menos de maneira parcial, colocar outro piloto sob sua asa.

“Eu ouvi muitas coisas negativas sobre o Fernando e, sendo franco, não sei de onde elas vêm”, disse Ocon, entrevistado pela emissora alemã de TV RTL. “Vendo as coisas de dentro, é inacreditável ouvir sobre pessoas que não confiam nele. Imagino que seja porque as pessoas não conhecem as coisas por dentro. Eu já falei com ele sobre isso. Ele teve momentos difíceis em entrevistas, com tudo aquilo que aconteceu no passado. É um grande cara. Ele é direto ao ponto, é muito motivado, trabalha pesado com a equipe”, seguiu.

“Nós compartilhamos informações, temos gostos em comum. Ele me deu um kart, eu dei um carrinho de controle remoto para ele de aniversário. Gosto desse trabalho que fazemos juntos. Acho que é algo que vai além porque eu tenho um enorme respeito por ele, simples assim. Somos uma grande dupla, eu diria. Sem estratégia, sem egoísmo, sem mentiras. Nada dessas coisas que eu já ouvi. Ele é um grande piloto e é isso, ponto final”, destacou.

Fernando Alonso abraçou Esteban Ocon e fez festa após o GP da Hungria (Foto: Reprodução/F1)

A Alpine provavelmente terminará a temporada 2021 exatamente onde está agora, na linha turva da mediocridade, mas tem sua dupla de pilotos para o futuro palpável e a chefia com a cara necessária. Budkowski e Brivio – este com o histórico de reconstrução e título da Suzuki na MotoGP – têm a paciência necessária para empreender um desafio como tal. Com tempo, dinheiro e um reset nas regras, contam com a capacidade de mudar de vez o patamar da equipe. É preciso um pouco mais de paciência.

Não apenas Brivio e Budkowski: com muitas mexidas no interior o time francês, há bastante se acertando. Rémi Taffin, diretor da divisão de motores, foi o último a deixar o cargo. Há uma reformulação em curso que se torna o principal deste 2021 da Alpine, e todos em papel diretivo tratam disso. Alan Permane, diretor-esportivo da Alpine e número três nas operações de corrida, fez questão de deixar claro ao falar oficialmente pela equipe após a vitória.

“Foi incrível, sempre é especial. Faz tempo que não vencemos, acho que desde Melbourne em 2013, e eu estava no pódio. Foi muito bom também, mas esta é especial, é claro. Primeiro ano de Alpine e tudo se acertando no time, com muitas pessoas novas e uma nova motivação”, deixou claro.

O que dá para dizer, para longe de tentar adivinhar o resultado final, é que o caminho da Alpine é feito de estrada sólida e cimentada antes que por lá passem os carros. É o que dá para exigir.

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