Barba, rali e treino: Bottas afasta papel de ‘segundão’ com vitória imponente e pode dar tempero que 2019 precisa

Depois de um 2018 amargo e apagado, Valtteri Bottas precisou se voltar para si mesmo e recuperar a ambição do jovem que ainda tentava chegar à F1 para retomar o caminho das vitórias, se impor e riscar a imagem de submisso que ficou do ano passado. E esse Bottas 2.0 é o que pode dar o tempero de um campeonato que começa um tanto confuso


Ao final da corrida de Abu Dhabi do ano passado, Valtteri Bottas se sentia cansado e precisava de um tempo longe da F1. Não era para menos, o finlandês havia sido massacrado pelo companheiro de Mercedes, Lewis Hamilton, sem contar a imagem de submissão quando teve de cumprir pelo menos duas ordens claras de equipe ao longo da temporada. Mas talvez o que tenha doído mais foi a falta de performance e maior agressividade. Bottas terminou 2018 apenas na quinta colocação, com 161 pontos de desvantagem para o campeão Hamilton. E detalhe: mesmo tendo nas mãos um carro altamente vencedor, o nórdico não levou nenhuma das 21 corridas. Enquanto isso, Lewis ganhou 11 vezes. Era necessário um recomeço.
 
Bottas, então, decidiu voltar para a Finlândia, procurando refúgio e paz na família. Passou o Ano-novo ‘turistando’ por Chile e Argentina, visitando anonimamente, ao lado da esposa da Emilia, vinhedos e pontos turísticos. Na volta para casa, ainda competiu no Rali do Ártico, antes de iniciar um forte treinamento físico e mental para a temporada que se aproximava. Em Barcelona, palco dos testes, o finlandês surgiu barbudo e falando sobre como precisou se voltar para si, para avaliar os erros e se reencontrar. 
 
"A cada ano, você aprende mais sobre si mesmo, percebe aquilo que funciona e o que não funciona em termos de preparação, e isso inclui coisas como: a maneira como você descansa, dorme, o que faz com o seu tempo livre e como é seu treinamento, além de planos de viagem e outras mil coisas. Então, neste ano, tentei entender tudo para maximizar o que fosse possível", contou.
Valtteri Bottas no Rali do Ártico (Foto: Campeonato Finlandês de Rali)
"Não sei bem explicar, é difícil falar sobre o que aconteceu durante o inverno passado. Mas, definitivamente, muita coisa mudou na minha cabeça e na forma como eu me sinto em relação à vida e ao esporte", revelou Valtteri, logo depois da surpreendente vitória no GP da Austrália. "Foi a melhor corrida da minha vida."
 
Pois é, todo o esforço para um novo começo foi recompensado com um triunfo imponente, categórico. E necessário. A verdade é que Bottas não está em qualquer equipe. A Mercedes é onde quase todos querem estar e, apesar da alta exigência, é um time que defende a igualdade de condições – haja vista a rivalidade entre Hamilton e Nico Rosberg, as vitórias do próprio finlandês e episódios como o da Hungria em 2017, ainda que a memória remeta mais ao caso da ordem na Rússia.
 
Mesmo assim, a esquadra alemã trabalha de forma diferente e há a chance de uma disputa real, só que depende do piloto. Por isso, quando Bottas saltou à frente de Hamilton na largada do GP da Austrália, ele passou a ter a preferência da estratégia – ou seja, não foi o #77 que teve de ‘marcar’ a Ferrari e, sim, o pentacampeão que, apesar da extraordinária pole, acabou perdendo a liderança no apagar das luzes. Ou seja, mais do que virar prioridade, o nórdico mandou um primeiro recado: estou vivo. 
 
O desempenho, sem dúvida, foi um reflexo do trabalho feito na pré-temporada, em que Valtteri precisou não só se fortalecer fisicamente, mas buscar a ambição que o fez alcançar a F1. “Desde que comecei a trabalhar com pilotos 15 anos atrás, tento compreender o que passa na cabeça deles e não consigo”, disse Toto Wolff, o chefe da equipe prateada.
 
“Como ele se recuperou depois de ser cortado, de não ser bom o bastante na segunda metade da temporada no ano passado e aí conseguir uma das vitórias mais dominantes que já vimos nos dias de hoje? Isso mostra o potencial humano, como é o jogo mental”, seguiu.
 
Essa é a oportunidade de Bottas. O finlandês de 29 anos tem mais essa temporada de contrato com opção para mais uma. A renovação depende exclusivamente de seus resultados. Como se o papel não fosse o bastante, Valtteri tem ainda uma pressão extra em forma humana: Esteban Ocon. O pupilo de Wolff, que perdeu lugar no grid no ano passado, já é presença constante nas garagens e ao lado do chefão, apenas esperando uma chance.

Só que Bottas tinha uma carta na manga como bem descreveu o chefão da Mercedes. "Em 2008, eu recebi uma ligação de um jovem garoto que queria conversar. Era um dia frio em Viena, e esse rapaz finlandês veio com um pulôver, sem uma jaqueta, e pediu um conselho. Ele havia dominado a F-Renault Eurocup, quase deu uma volta inteira no pelotão inteiro, foi esse Bottas que vi na Austrália. Era ele. Valtteri terminou o ano cansado, mas quando retornou, era aquele garoto de 2008. Ele voltou”, completou Wolff.
Valtteri Bottas (Foto: Mercedes)
A raiva e o desabafo após a corrida são uma prova.

O fim de semana sem erros e vitorioso logo na abertura da temporada tirou um peso dos ombros, mas certamente não é o bastante e nem uma garantia. Só que se o #77 seguir embalado pelo espírito do Valtteri de 2008 também pode tornar o campeonato ainda mais interessante. Com uma Ferrari  tentando compreender o que houve em Melbourne – a bem da verdade é que nem eles sabem se foi algo pontual ou se a performance em Barcelona foi enganosa – e uma Red Bull buscando se firmar, Bottas tem nas mãos também uma chance de ouro para deixar o núcleo dos coadjuvantes e entrar em cena como protagonista. E ainda assegurar o emprego.

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