Coluna Apex, por Andre Jung: O guerreiro silencioso

Depois de deixar a F1 para trás, nitidamente desmotivado, Kimi Räikkönen, viciado em velocidade, tentou se divertir na Nascar e no Mundial de Rali, mas viu que para se divertir tinha de ganhar, e que ganhar, em atividades em que era novato, estava longe de seu alcance.

(Ilustração: Marta Oliveira)

Como confrontar os comportamentos que surpreendem? No passado, homens destemidos, que ousavam arriscar a vida nas pistas, em busca da glória de ser o melhor eram “normalmente” surpreendentes. Não foi exatamente por serem comuns que resolveram arriscar o pescoço no caminho da velocidade.

Pilotos de forte personalidade deram a tônica da F1 por décadas. Na de 80, Piquet, Mansell, Prost e Senna dividiam a torcida, que assistia fascinada a uma combinação de performances, dentro e fora das pistas, protagonizadas pelo talento e pela forte personalidade de seus ídolos.

Mas o dinheiro das grandes corporações começou a falar mais alto, e os pilotos, antes oradores destemidos, foram amansados para não sair do roteiro programado pela assessoria de imprensa de suas equipes.

E Vettel, Alonso, Hamilton, Button, Webber e companhia não fogem do script. Suas grandes “polêmicas” não passam de mensagens irônicas ditas via rádio, numa corrida qualquer, uma vacilada no Twitter é imediatamente seguida de um cabedal de desculpas. Um, e apenas ele, entre todos os que alinham no grid de 2012 é, para usar uma imagem cinética, “um ponto fora da curva”.

Não que os outros pilotos não tenham personalidades interessantes, devem ter, não são os melhores pilotos do mundo à toa, apenas as omitem sob um verniz “responsável”. É dentro dessa estrutura domesticada que um jovem senhor sobressai. Alguém que não faz jogo de cena, que não cumpre roteiro programado, que impõe um limite claro sobre o controle que a equipe pode exercer sobre seu comportamento.

E esse homem venceu o GP de Abu Dhabi, no mesmo ano em que, para a surpresa geral, resolveu que queria voltar a correr na F1, coisa que, diga-se de passagem, tem feito muito bem. De fato, nem seu mais fanático torcedor poderia prever que ele não só voltaria a vencer, como estaria num sólido terceiro lugar no campeonato, com apenas duas provas restantes.

Depois de deixar a F1 para trás, nitidamente desmotivado, Kimi Räikkönen, viciado em velocidade, tentou se divertir na Nascar e no Mundial de Rali, mas viu que para se divertir tinha de ganhar, e que ganhar, em atividades em que era novato, estava longe de seu alcance.

Quando começaram os boatos sobre sua possível volta na Williams, confesso que duvidei, não conseguia ver sentido em alguém deixar a F1 desmotivado, pelas portas da Ferrari, e retornar numa Williams, que acabava de fazer o pior campeonato de sua existência. Mas era verdade, Räikkönen queria um espaço para voltar, espaço que ele encontrou no cockpit da Lotus.

E agora ele volta a vencer, como sempre fez, sem chororô, dancinha, pulinho, o Kimi Räikkönen de sempre. Sua declaração, durante a coletiva pós-corrida, de que ficava mais feliz pela equipe, do que por si, é emblemática. Dita com sinceridade, essa frase exprime um desapego que nos tira da zona de conforto, daquele “gente como a gente” que buscamos encontrar no próximo.

Kimi é diferente mesmo e sabe preservar seu jeito diferente de ser com uma sabedoria rara. Quando foi promovido à F1, depois de umas poucas provas na F-Renault, chegou cercado de justa desconfiança, diante da precocidade do feito. Na ocasião, Max Mosley, então presidente da FIA, chegou a afirmar que não deviam ter dado a superlicença para um piloto tão imaturo.

A estreia foi pela Sauber, em 2001, na Austrália. Depois de ter deixado o kart e ter corrido apenas 23 provas de F- Renault, o jovem finlandês pontuou em sua primeira corrida na F1, ao chegar em sexto lugar, o que na época garantia apenas 1 ponto.

Calado, não aproveitou a ocasião para retrucar seus questionadores, respondeu na pista, como continua a fazer. O terceiro posto no campeonato é um dos grandes feitos da temporada. O velho guerreiro nórdico é a melhor novidade de 2013.

Vettel teve muita sorte, seu time falhou, o que o levou a largar dos boxes, depois de fazer todas as alterações necessárias para aumentar a velocidade em reta. Logo no início teve de abortar uma boa recuperação para trocar a asa dianteira danificada, mas as duas entradas do safety-car trabalharam a seu favor, e ele arrancou um pódio excelente diante das circunstâncias.

A expressão exausta e séria de Alonso na sala de espera, antes dos troféus, dizia bastante sobre o esforço que ele fez nas voltas finais, em sua tentativa alucinada de alcançar o líder. Durante as 15 voltas finais, o espanhol usou toda a pista, tirando tudo que sua Ferrari poderia dar.

Com apenas duas provas pela frente, Vettel e Alonso deixaram a corrida tendo do que se orgulhar.

Enquanto isso…

… outro piloto escapa ileso depois de ver uma carro passar a centímetros de sua cabeça…

Felipe Massa erra e deixa de ajudar a conter Sebastian Vettel

… Jenson Button “dorme” e faz a mesma coisa.
 

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