Seis anos depois de deixar a presidência da FIA com a credibilidade em baixa, Max Mosley tem ocupado novamente o noticiário da categoria com propostas de mudanças para solucionar a crise que a F1 enfrenta atualmente. Uma crise que, em 2009, ainda na sua gestão, já começava a se desenhar. E com a qual o atual presidente da entidade, Jean Todt, não vem conseguindo lidar.
Para muitos, esta crise é a pior da história de 65 anos do Mundial. Ela não se resume a um ou outro tópico: é generalizada. A categoria sofre no aspecto financeiro, principalmente, mas não vai bem também no âmbito desportivo e tampouco agrada ao público como no passado, o que implica na perda contínua de audiência.
As aparições repentinas de Mosley,
que vê o campeonato à beira de um colapso, com ideias que não são de se jogar fora fazem pensar a respeito do papel que a Federação Internacional de Automobilismo tem como reguladora do esporte — e nas diferenças entre as gestões do inglês e do francês.
Mosley nunca foi unânimidade enquanto esteve no comando da FIA, mas também nunca encarou uma crise grande como a atual (Foto: Red Bull/Getty Images)
Quem não se lembra de quando, em 2009, as equipes anunciaram uma debandada geral da F1 e a criação de um campeonato paralelo? A rebelião se deu pela imposição, por parte de Mosley, de um teto orçamentário de cerca de R$ 200 milhões para a temporada 2010. Os times foram contrários, bateram o pé e chegaram a comunicar uma medida extrema. Com a interferência de Bernie Ecclestone, a regra foi abandonada, as equipes voltaram atrás e Mosley sequer concorreu à reeleição no fim do ano.
Aquela foi uma batalha crucial perdida pelo britânico, a gota d’água para que ele deixasse o comando da FIA após 16 anos no poder. Seu moral já não era dos melhores desde o escândalo sexual no qual se viu envolvido em março de 2008. Os frequentes embates com os dirigentes das equipes causaram um desgaste crescente ao longo dos anos. E Mosley também não era grande fã das montadoras, que dominaram a F1 na década passada com suas equipes de fábrica. Sempre que podia, dava o recado: quando a coisa apertasse, elas pulariam do barco. Não deu outra, e a Honda anunciou sua saída da F1 imediatamente após uma crise financeira mundial estourar em 2008. No ano seguinte, Toyota e BMW seguiram pelo mesmo caminho. E o ano de 2010 foi o último da Renault com sua equipe de fábrica.
Um dos primeiros a tentar solucionar, com medidas radicais, o problema dos custos da F1, Mosley falhou na tarefa. Logo, não dá para dizer se saiu melhor que Todt neste sentido. Mas é um fato que, nos últimos seis anos, a situação apenas piorou.
A principal diferença entre os trabalhos de Mosley e Todt está no modo como cada um olhou para o que existe além da F1. Um, na verdade, não olhou. O outro vem fazendo um trabalho digno de elogios.
Todt é um dos principais responsáveis pelo renascimento do Mundial de Endurance (Foto: Toyota)
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A função da FIA vai muito além de fiscalizar o Campeonato Mundial de F1. Trata-se de uma entidade gigantesca, com sede em Paris, que é responsável por governar o esporte em escala mundial, através de suas próprias estruturas e das entidades filiadas. Fora isso, ainda age no mercado de carros de rua, com estudos principalmente para melhorar a segurança viária e dos automóveis usados pela população no dia a dia. No fim de abril, Todt foi nomeado Enviado Especial da ONU para Segurança Rodoviária, em um esforço da Organização das Nações Unidas para reduzir o número de acidentes nas estradas do mundo todo.
Desde que Todt é o presidente, dentre outras conquistas, o Mundial de Endurance renasceu, a F3 Europeia voltou a ser uma importante categoria de base e ganhou vida a F-E, um promissor campeonato de carros elétricos. A FIA trabalhou ativamente, junto de parceiros, para alavancar estes certames. Esforços também estão sendo feitos para fazer crescer outra vez o Mundial de Rali.
O crescimento destes outros campeonatos é ótimo para a ‘roda’ do automobilismo. É mais espaço para pilotos e equipes, mais emprego para os milhares de pessoas que estão ligados ao esporte, atrai mais dinheiro pelo envolvimento de mais empresas e patrocinadores. A questão do emprego, embora possa até parecer política de estado, merece ser destacada. O automobilismo, frequentemente chamado de ‘esporte de rico’, vai muito além do piloto — basta pensar que as equipes grandes de F1 possuem mais de 500 funcionários; ou que, em um simples campeonato de kart, uma equipe pode ter cinco, dez mecânicos.
Que se ressalte, portanto, o empenho de Todt nestas áreas.
Ao mesmo tempo, e em que pese toda a importância destas outras atribuições da FIA, a principal responsabilidade da entidade é e continuará sendo atuar como órgão regulador da F1 — pelo alcance e pela magnitude do campeonato. E, aqui, Todt não merece os mesmos elogios.
Mosley vivia batendo de frente com as equipes, mas em seus 16 anos como presidente da FIA, a única vez em que o negócio saiu mesmo de controle foi em 2009 — a crise que custou sua cabeça. Foi um período de boa estabilidade, especialmente se for feita a comparação com os mandos e desmandos de seu antecessor, Jean-Marie Balestre. Os avanços na segurança também foram imensos após o trágico início de 1994, com as mortes de Roland Ratzenberger e Ayrton Senna.
Todt, o candidato que Mosley apoiou na eleição de 2009, não demonstra a mesma habilidade do britânico para lidar com os assuntos da F1 no papel de presidente da FIA. Como já mencionado, a crise financeira só se agravou nos últimos seis anos. Grande parte disso se deu pela mudança no regulamento técnico, elaborado pela FIA junto das montadoras, que fez a categoria ingressar na era dos motores híbridos com estes V6 turbo. Um caminho que, sem dúvida, a F1 precisava tomar, mas não a qualquer custo. O preço dos motores triplicou e deixou os times médios e pequenos em situação delicada. As unidades de força também não caíram no gosto dos fãs.
E, pela primeira vez em três décadas, um Pacto da Concórdia não foi assinado.
Ecclestone e Todt anunciam acordo para implementação do novo Pacto da Concórdia. Em julho de 2013. Apesar disso, um consenso não foi alcançado até hoje (Foto: Getty Images)
Não que a FIA tenha responsabilidade por tudo de ruim que está acontecendo na F1. Chegou-se a tal ponto por uma infinidade de fatores. Mas o caminho para a resolução desta crise passa por uma FIA mais ativa, capaz de se entender com as equipes e o detentor dos direitos comerciais e, acima de tudo, tomando as medidas corretas.
Se um teto orçamentário dificilmente será aplicado, pois a Red Bull já deixou bem claro que não permitirá que ninguém olhe as contas de sua empresa, a proposta de Mosley não é das piores:
dar liberdade técnica àqueles que aceitarem competir sob um teto de gastos. A divisão desigual das receitas é um grande problema, mas, acima de tudo, é necessário controlar quanto as equipes gastam para que o esporte permaneça saudável.
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