Falha do rádio e garantia de vitória: como a Mercedes (se) perdeu no GP de Sakhir

Uma tentativa de anular a concorrência com pneus novos, somada com a confiança de realizar um pit-stop duplo e uma pitada de azar com falha no rádio. A Mercedes experimentou uma receita de insucesso no GP de Sakhir por falhas que não estamos acostumados a ver desde que iniciou a hegemonia na Fórmula 1 em 2014

Uma corrida sem vitória da Mercedes virou algo raro desde 2014, quando a equipe começou a comandar a Fórmula 1 e iniciou a hegemonia que dura até hoje. É igualmente incomum também ver provas com erros tão graves quanto do último domingo, quando se atrapalhou de forma mambembe nos boxes do circuito do Bahrein. Mas até ela, quase sempre perfeita, tem seus dias de caos e fúria.

Em Sakhir, a Mercedes tinha o melhor carro, como de habitual, e caminhava forte para uma dobradinha. Sem Max Verstappen na disputa, eliminado após a confusão na largada envolvendo Charles Leclerc e Sergio Pérez, a situação parecia ainda mais confortável. O holandês da Red Bull, desde os treinos, era o único em condições de superar Valtteri Bottas e George Russell – o substituto de Lewis Hamilton. Mesmo assim, no fim do dia, nenhum dos três sequer subiu ao pódio, vendo Pérez terminar como vencedor, seguido por outros dois azarões: Esteban Ocon e Lance Stroll.

Mas como explicar o derretimento da Mercedes ao longo do fim de semana tão superior e a perda de uma vitória certa? Você pode apontar muitos fatores, mas é difícil cravar apenas um deles. Cautela demais talvez seja um motivo, confiança na qualidade do trabalho é outra possibilidade, além de uma inesperada falha no rádio.

Valtteri Bottas, o pole, foi apenas oitavo colocado em Sakhir (Foto: Mercedes)

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Mesmo sem Hamilton no comando das ações, Russell e Bottas lideravam sem problemas. Nem mesmo a entrada do safety-car no início ou a fraca relargada de finlandês foram razões suficientes para abalar o domínio dos homens de preto. Os dois carros, que partiram de pneus médios, colocaram os compostos duros nas voltas 45 (Russell) e 49 (Bottas). Com menos da metade da prova, o destino era seguir sem novas entradas nos boxes até o fim. Ambos apresentavam um ritmo consistentemente melhor que os demais.

O VSC causado pelo abandono de Nicholas Latifi provocou uma entrada em massa no pit-lane, mas a dupla da Mercedes seguiu na pista. Eles só voltariam aos pits na volta 62, após a rodada de Jack Aitken e a nova intervenção do safety-car. Agora começa a sequência de erros e besteiras que custou uma vitória certa.

Nos vídeos divulgados pela Fórmula 1, é possível ver Russell perguntando sobre parar ou não e o engenheiro Peter Bonnington confirmando na entrada da reta principal. O britânico entrou e fez sua parada, seguido por Bottas. Até aí, tudo bem, a Mercedes já fez a operação dupla diversas vezes nos últimos anos, sempre com perfeição, mesmo que ali, naquele momento fosse apenas uma certificação de que os dois não receberiam ataques de pilotos com pneus novos na relargadas. Mas o que poderia dar errado em Sakhir? Bem, tudo.

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Valtteri Bottas nos retrovisores de George Russell no GP de Sakhir (Foto: Mercedes)

Descobrimos no Bahrein que a campeã indiscutível de 2020 também comete falhas bisonhas. Os pneus médios de Bottas entraram no carro de Russell. Quando foi a vez do finlandês parar, os mecânicos se deram conta do erro e o mantiveram com os compostos duros. Para evitar uma punição ao britânico, ele retornou na volta seguinte e aí, sim, colocou o jogo correto. Com 24 voltas restantes, Valtteri era o quarto, seguido pelo companheiro de equipe. Não era o fim do mundo, ainda mais pela força do carro.

Uma das equipes de mecânicos não ouviu o chamado, o rádio estava com problema na garagem e quando o carro chegou, não sabiam que estávamos com os pneus errados, por isso fomos para a pista com os jogos errados”, explicou Toto Wolff, chefe do time, após a corrida.

A reação do jovem piloto inglês foi louvável. Passou Bottas, Stroll e Ocon antes de iniciar a caçada contra o líder Pérez. Aí foi a vez do azar bater na porta sem cerimônia: um furo no pneu no pneu esquerdo traseiro a 9 voltas do fim fez com que Russell fizesse mais um pit-stop e terminasse apenas em nono lugar. Bottas, com um jogo desgastado, caiu até o oitavo posto. Um resultado decepcionante por tudo que se desenhou ao longo do fim de semana.

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No fim do dia, apenas lamentações para George Russell no Bahrein (Foto: F1/Twitter)

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A Mercedes deixou de ganhar apenas três etapas das 16 disputadas até aqui: GPs dos 70 Anos, Itália e Sakhir. Dessas, duas tiveram erros cruciais da equipe definindo o resultado da corrida. Além deste, no último domingo, a prova em Monza também ganhou nova cara após um erro do time quando Hamilton foi chamado para os boxes fechados durante o período de safety-car. Bottas, o outro piloto, teve um dia para esquecer e pontuou com muita sorte.

Entre a confiança de ter um padrão de excelência em todas as áreas e a cautela de parar sem tanta necessidade e ainda manter a liderança, a Mercedes escorregou no GP de Sakhir. E com os dois pilotos. Viu a chance desaparecer de forma dupla e mais uma vitória se perder na temporada. Se nas dificuldades sempre surge Hamilton para salvar a pátria, o britânico não apareceu e agora a equipe precisa provar em Abu Dhabi que não é dependente dele para manter o alto nível visto desde 2014.

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