Garimpeiro de pontos na 1ª metade de 2012, Vettel desequilibra a partir de Cingapura e celebra tri da F1

Diante de um equilíbrio jamais visto no começo de uma temporada do Mundial de F1, Sebastian Vettel soube somar pontos corrida após corrida, como um garimpeiro. Quando 2012 virou a seu favor, a partir do GP de Cingapura, o alemão espantou a ‘zebra’ Fernando Alonso para virar o tricampeão mais jovem da categoria, com 25 anos, quatro meses e 15 dias

Interlagos, São Paulo, 25 de novembro de 2012. Sebastian Vettel escreveu mais uma bela página na história da F1 ao se tornar o tricampeão mundial mais jovem de todos os tempos, superando ninguém menos que o mítico Ayrton Senna. Graças ao sexto lugar no GP do Brasil, o 101º de sua curta carreira, neste domingo, o alemãozinho de Heppenheim chegou ao Olimpo do automobilismo mundial com 25 anos, quatro meses e 21 dias. Dono de todos os recordes de precocidade da F1 — o mais jovem a pontuar, a ser pole-position, a vencer, a ser campeão e, um ano depois, bicampeão —, Sebastian ajudou a Red Bull a faturar seu terceiro título do Mundial de Construtores e, definitivamente, virou uma lenda do esporte mundial.

Mas quem vê o desempenho avassalador de Vettel na segunda metade da temporada, sobretudo neste domingo, no Velho Oeste americano, pode imaginar que sua terceira conquista foi tão fácil como em 2011, por exemplo. Engano tremendo, pois. No caminho rumo ao tricampeonato mundial, incrivelmente Vettel começou sua jornada como azarão, mas fez um brilhante trabalho de garimpeiro, somou pontos onde não pôde lutar pela vitória, e isso lhe foi muito útil na metade final da temporada.

Três anos, três títulos: Vettel entra definitivamente para o grupo dos grandes da F1 (Foto: Red Bull/Getty Images)

Na Austrália, prova de abertura do Mundial de 2012, a Red Bull foi mera coadjuvante e viu a McLaren dominar como quis em Melbourne. A vitória acachapante conquistada por Jenson Button em Albert Park deu a impressão de que o império taurino estava, finalmente, começando a ruir após a dinastia iniciada dois anos atrás. Ainda assim, Vettel conquistou praticamente uma vitória ao terminar a corrida em segundo.

Aí veio Sepang, uma semana depois. Seguramente um dos piores finais de semana da carreira de Seb. Quinto lugar no grid do GP da Malásia, Vettel, em momento algum, reuniu condições de lutar pela vitória, que ficou, de maneira épica, com Fernando Alonso. A torrencial chuva que encharcou o asfalto malaio e, principalmente, as performances assombrosas de Alonso e Sergio Pérez ofuscaram totalmente o alemão.

No fim da prova, quando estava apenas em quarto, Sebastian teve pela frente Narain Karthikeyan como retardatário. Sem conseguir administrar o tráfego à frente, Vettel tocou na HRT do indiano e teve um pneu furado, tendo de abandonar a corrida pouco depois. Aí sobraram adjetivos pouco elogiosos ao dálit da F1: “idiota” e “cabeça de pepino” foram alguns deles.

Não estava mesmo fácil para Vettel. Três semanas depois, veio o GP da China. Xangai reservou um novo revés para o alemão, que sucumbiu ao desgaste dos pneus e terminou aquela prova apenas em quinto. Em contrapartida, outro alemão, Nico Rosberg, triunfava pela primeira vez. Com apenas três corridas, Seb passava a ser duramente questionado, e os velhos argumentos contra Seb voltavam à baila: “ele só foi campeão por ter o melhor carro”, “ele não é tão bom assim”, “Alonso é o melhor”, foram algumas das expressões ouvidas e lidas à época. Vettel era apenas o quinto do Mundial, com 28 pontos, ao passo que Alonso tinha 35 e Lewis Hamilton, que pintava como grande favorito à taça, com 45, na liderança.

Sua redenção veio uma semana depois do GP da China, no tenso Bahrein. Em um fim de semana típico de Vettel, o tedesco foi pole, dominou do início ao fim e venceu fácil em Sakhir. Seb chegava à sua primeira vitória na temporada apenas na quarta corrida do ano, alcançava a liderança do Mundial e, de quebra, dava seu recado. Afinal, um piloto com o seu potencial, dono de um dos melhores carros da F1 e tendo o melhor projetista do mundo trabalhando ao seu favor, evidentemente, jamais poderia ser descartado.

O GP da Espanha reservou outro resultado surpreendente para a F1 e novo revés para Vettel, que viu o surpreendente Pastor Maldonado triunfar no circuito de Montmeló. O piloto da Red Bull amargou seu pior resultado na zona de pontuação em toda a temporada e terminou apenas em sexto. Assim, graças ao segundo lugar de Alonso, ambos ficaram empatados na liderança da temporada.

Diante de uma F1 tão equilibrada e cada vez mais surpreendente, era impossível apontar quem tinha o melhor carro. Até mesmo a Lotus, com Kimi Räikkönen e Romain Grosjean, se destacava. A Red Bull era apenas mais uma, mas não tinha, à época, um bólido tão equilibrado quanto o seu antecessor RB7. Enquanto Vettel seguia somando seus pontos aqui e ali, Newey trabalhava duro na prancheta em Milton Keynes para colocar a Red Bull de volta ao topo.

E foi graças a esse trabalho que o RB8 deu um salto de desempenho a partir de Monte Carlo. Mas quem soube aproveitar o bom rendimento do carro, devidamente atualizado, foi Mark Webber, que venceu pela primeira vez na temporada. Sem conseguir passar rivais como Rosberg e Alonso, Vettel conquistou um bom quarto lugar. Mas a liderança do Mundial foi perdida para o espanhol da Ferrari.

Vettel perseguiu Alonso na tabela de pontuação até o GP do Japão (Foto: Bruno Terena/Grande Prêmio)

Nas duas corridas seguintes, Vettel teve a chance de diminuir a vantagem de Alonso e somar bons pontos. O extremo desgaste dos pneus e a tardia decisão da Red Bull em lhe chamar apenas no fim do GP do Canadá para fazer seu último pit-stop lhe rendeu apenas o quarto lugar. Pior foi em Valência, duas semanas depois. Seria um fim de semana glorioso, não fosse o alternador do RB8, que lhe tirou 25 pontos certos. A vitória no GP da Europa ficou com Alonso, o ‘rei da sorte’ e cada vez mais líder, mesmo sem ter o melhor carro do grid.

Alonso, além da sorte, vivia uma grande fase. Prova disso foram seus 53 pontos conquistados nas três corridas seguintes do campeonato, contra 37 de Vettel. Segundo em Silverstone, sendo derrotado apenas por Webber, Fernando reencontrou o caminho da vitória em Hockenheim, justamente a terra de Vettel, que terminou apenas em quinto. Nem mesmo na Hungria, pista tradicionalmente favorável à Red Bull, ajudou Sebastian, apenas quarto colocado.

A primeira metade mais equilibrada da história da F1 terminou com Alonso líder com enorme vantagem. O espanhol somava 164 pontos, incríveis 40 a mais em relação a Mark Webber, que venceu uma prova a mais que Vettel, terceiro colocado com dois pontos a menos que seu companheiro de equipe. De fato, 42 pontos era uma vantagem enorme entre Alonso e o alemão da Red Bull. Fernando, aliás, sempre considerou Hamilton como seu grande adversário, relegando Vettel ao terceiro plano. Mas aí a sorte virou contra o espanhol e a favor do jovem da Red Bull, e tudo mudou depois das férias de verão.

O GP da Bélgica representou a virada de Vettel no Mundial, nas pistas e na sorte. Alonso, abalroado por Romain Grosjean em Spa, abandonou a prova e começou a ver sua diferença para Vettel diminuir. Na Itália, porém, a campanha de Alonso ganhou novo alento depois que Sebastian não completou a corrida em Monza. Seu maior rival passou a ser Lewis Hamilton, que avançou à vice-liderança do campeonato com 142 pontos, contra 179 do espanhol.

Mas foi o GP de Cingapura que marcou, definitivamente, a reação de Vettel em sua jornada rumo ao tri. Muito, claro, por conta do enorme azar de Hamilton, que quebrou quando liderava na cidade-estado. Duas semanas depois, no Japão, nova vitória, que foi completada pelo abandono de Alonso na primeira curva. Então, a diferença entre os dois caiu para apenas quatro pontos. Fernando ainda era líder, mas sua posição estava cada vez mais ameaçada.

Vettel conseguiu uma arrancada sensacional na reta final do campeonato (Foto: Red Bull/Getty Images/Vladimir Rys)

A virada propriamente dita aconteceu uma semana depois de Suzuka, em Yeongam. Sebastian dominou aquela corrida e finalmente assumiu a liderança do campeonato para não mais perdê-la. Os resultados seguintes — nova vitória no GP da Índia, terceiro lugar no épico GP de Abu Dhabi e o segundo lugar no GP dos Estados Unidos — colocaram Vettel com uma folgada vantagem de 13 pontos para Alonso. Restava apenas o GP do Brasil para fechar a temporada. Mas Interlagos sempre reserva surpresas. Desta vez, a pegadinha ficou por conta da tradicional chuva em São Paulo.

Diante de uma corrida épica, lendária, histórica e emocionante, Vettel quase ficou pelo caminho logo na primeira volta do GP do Brasil. No ‘chove-para’ de Interlagos, Vettel adotou um ritmo conservador para conquistar o resultado que queria em uma pista de asfalto traiçoeiro. Fernando Alonso fez brilhante corrida e terminou em segundo, atrás de Jenson Button e à frente de Felipe Massa, que lhe deu uma bela força na metade final da prova. Mas Vettel terminou a prova — encerrada com bandeira amarela — em sexto e foi para a galera.

 

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