Honda força Fórmula 1 a acionar alerta do ‘erro zero’ para garantir sobrevivência

A saída inesperada da Honda tem e terá muitos efeitos ainda. E talvez o maior deles seja o fato de que, agora, a Fórmula 1 é obrigada a pensar no futuro antes do que imaginava e não pode mais errar

Lá em 2014, quando o regulamento da Fórmula 1 determinou o uso do motor V6 turbo e híbrido, a ideia era alinhar o maior campeonato do esporte a motor a tecnologias limpas e, assim, também atrair novas montadoras, interessadas em desenvolver esses recursos para o mercado. Acontece que só uma fabricante se interessou pela configuração estabelecida pela Federação Internacional de Automobilismo e essa mesma marca, agora, é a primeira a pular fora. Esse movimento da Honda é um reflexo direto do quanto é difícil e caro ser competitivo na Fórmula 1. Mas também revela os efeitos de um regulamento mal elaborado.

A verdade é que a especificação estabelecida pela FIA não atende à demanda das fábricas. Indo um pouco mais longe, o desenvolvimento dessas unidades de potência se mostrou excessivamente complexo e custoso. Tanto é assim que marcas como Ferrari e Renault não foram capazes de apresentar um forte motor desde o início desta chamada Era Híbrida. Ambas levaram um longo tempo até que fosse possível entender e tirar o melhor dessas unidades. Os italianos chegaram a encontrar atalhos para isso, descobertos mais tarde da pior forma – hoje, têm o pior motor do grid. Além disso, em que pese a unidade ‘turbinada’ dos vermelhos na segunda parte da disputa de 2019, em nenhum momento as duas montadoras estiveram próximas da excelência da Mercedes, o que comprometeu enormemente a qualidade do campeonato.

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Obviamente, os alemães não têm culpa das dificuldades alheias, mas foi e ainda é notória a diferença de desempenho da unidade feita em Brackley para as demais. Nisso se encaixa a Honda. Os japoneses decidiram entrar no campeonato um ano após a introdução do regulamento, com o objetivo de compreender melhor o motor. Foi um erro. Esse ano perdido custou muito e arranhou a reputação dos nipônicos, uma vez que a parceria com a McLaren foi um fracasso.

Já ao lado da Red Bull e da caçula AlphaTauri, a Honda teve o tempo necessário e conseguiu entregar performance, abrindo caminho para vitórias. A redenção, enfim. Mas é pouco. Na realidade, as limitações em termos de regulamento e os custos elevados pesaram. Aliado a isso tudo, existe uma questão que não se cala: afinal, onde utilizar o que é feito para a F1?

É claro que vitórias e campeonatos ajudam a convencer conselhos de qualquer grande empresa, mas o preço e o desenvolvimento também têm uma importância grande nessa conta, que precisa fechar, mas não fecha. E aí vem o problema maior: os motores atuais são complexos demais e caríssimos, o que espanta qualquer fábrica. Também não têm um grande impacto para o que é desenvolvido para a indústria. Portanto, não justifica a existência e nem empresta relevância à Fórmula 1.

“Precisamos tirar algumas conclusões claras desta situação [saída da Honda], e isso é algo que venho pedindo à gestão da F1 para avaliar com mais cuidado. A situação do motor é simplesmente insustentável. Particularmente no sentido econômico, mas também diante de uma perspectiva de tecnologia”, alertou Cyril Abiteboul, diretor e chefe de equipe da Renault.

Partes da unidade híbrida de potência da Renault na Fórmula 1 (Foto: Renault Sport)

Consultor da Red Bull, Helmut Marko compartilha da impressão de Abiteboul sobre o panorama da Fórmula 1 quanto aos motores. “Deveríamos ter cortado os custos antes”, ressaltou o dirigente austríaco, em entrevista à revista alemã Auto Motor und Sport, fazendo menção ao teto orçamentário ao qual as equipes vai serão submetidas a partir da próxima temporada.

A Fórmula 1, de acordo com Marko, atravessa um momento em que não é interessante para novas fornecedoras de motor.

Assim sendo, é possível entender que a maior das categorias errou com esse regulamento atual. E não terá chance de uma grande reviravolta até pelo menos de 2025 – está presa a esse formato. Então, a decisão da Honda é um alerta sério que acontece numa péssima hora. Além de já ter acordado um novo conjunto de regras a partir de 2022, o Mundial acabou também de assinar o Pacto da Concórdia – o documento que rege os acordos comerciais e o comprometimento das marcas. E no topo disso tudo, estão os efeitos da pandemia.

É de se imaginar que a última coisa que os chefes gostariam neste momento é falar sobre regras, uma vez que as novas nem entraram em vigor, mas esse movimento da Honda obriga a categoria a isso. A Fórmula 1 não precisa seguir tendências, pois tem de estar na vanguarda. É sua essência e esse é o momento para tomar a ponta.

Portanto, o próximo regulamento tem de ser certeiro. O comando do campeonato terá de encontrar uma solução que atenda não só às exigências das montadoras, do meio-ambiente, mas também dos fãs – especialmente dos fãs. Ainda, terá de ser acessível e dentro dos padrões de gastos. É uma equação difícil de resolver, mas é a única que há. E um novo erro poderá comprometer a própria existência da F1 como a conhecemos.  

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