A McLaren só superou a distância de uma corrida em um dia de testes na Espanha (Foto: Xavi Bonilla/Grande Prêmio)
Não é porque a pré-temporada foi péssima que a McLaren Honda pode ser dada como carta fora do baralho no Mundial de F1 deste ano. A comparação com o que a Red Bull fez nos testes do ano passado é o maior sinal de que é possível deixar para trás um começo ruim para buscar bons resultados.
“Seria uma situação bem diferente se fosse o ano passado, não acho que estariam aqui fazendo essas mesmas perguntas porque a maioria estaria nessa mesma posição”, ressaltou Jenson Button.
E o inglês tem razão.
A McLaren foi, de longe, a equipe que menos treinou nos 12 dias de pré-temporada na Espanha. O MP4-30 percorreu apenas 1.751 km. Dentre os carros de 2015, só o da Force India andou menos: 1.699 km em dois dias e meio. Dá para notar o tamanho do drama. O melhor tempo na semana final em Barcelona ficou a 2s5 acima da marca estabelecida pelo líder, Nico Rosberg, da Mercedes.
Mas, em 2014, a Red Bull sofreu tanto quanto. Também em 12 dias de testes, os tetracampeões mundiais rodaram somente 1.705 km. O melhor tempo na semana final no Bahrein ficou 2s5 da marca estabelecida pelo líder, Felipe Massa, da Williams. Pior que a Red Bull, só a Marussia, com 1.686 km, e a Lotus, que perdeu um dos três testes e rodou míseros 1.288 km.
Aí, com todos esperando um drama sem fim para os rubro-taurinos, eis que surge um sorridente Daniel Ricciardo para quase cravar a pole-position debaixo de chuva no GP da Austrália. Na corrida, terminou em segundo antes de ser desclassificado por uma irregularidade técnica. Uma punição que foi justa, mas para uma infração que, no fundo, não teve grande impacto na dinâmica da prova. Três meses depois, o australiano quebrou a invencibilidade da Mercedes ao triunfar no Canadá. Ainda ganhou na Hungria e na Bélgica.
Embora tenha tido um ano a mais para desenvolver seu V6 turbo, a Honda estreia em 2015 vivendo dificuldades semelhantes àquelas que Ferrari e Renault — especialmente a marca francesa — tiveram em 2014. Só a Mercedes conseguiu fugir deste destino.
A explicação: além de estas unidades de força serem extremamente complicadas, a McLaren Honda seguiu por um caminho extremamente arriscado e ambicioso. Investiu em uma traseira muito compacta, com um motor igualmente compacto, com a intenção de favorecer ganhos aerodinâmicos. E está satisfeita com isso.
“O conceito do carro foi decidido há muito tempo, antes da chegada do Peter. A ideia era garantir que faríamos a integração do motor em torno de um conceito aerodinâmico da McLaren e também da chegada do Peter [Prodromou, designer-chefe]. É uma nova tecnologia”, diz o diretor de corridas Éric Boullier. “E com a nova parceria com a Honda, tudo que nós pedimos e tudo que eles nos pediram, acho que conseguimos responder positivamente. Assim pudemos fazer a instalação do motor como ele é hoje.”
A instalação compacta do motor não implica em um desafio apenas para a sua construção. Dificulta, também, a realização de reparos. Tudo fica tão aglutinado sob a carenagem que é complicado fazer ajustes quando eles se mostram necessários. Este foi um dos motivos pelos quais a equipe perdeu tanto tempo nos boxes durante os treinos coletivos.
A Red Bull teve muitos problemas com o RB10 em Jerez no ano passado (Foto: Xavi Bonilla/Grande Prêmio)
Na primeira semana, em Jerez, as falhas que predominaram foram de ordem eletrônica e operacionais. A quilometragem foi mínima. Na segunda semana, já em Barcelona, o MGU-K provocou os atrasos. Um defeito na vedação do sistema de recuperação de energia significou que praticamente dois dias inteiros foram perdidos. O único dia mais proveitoso foi o segundo, quando Fernando Alonso deu 59 voltas usando a capacidade do motor reduzida para garantir que acumularia uma boa quilometragem. No domingo, aconteceu o estranho acidente do espanhol, que sequer vai disputar a prova de abertura.
Finalmente, no encerramento dos testes, a McLaren teve o único dia verdadeiramente positivo: Jenson Button deu 100 voltas. Na 101ª, uma pane elétrica o fez parar na pista. Mesmo assim, foi motivo de comemoração. Dos 12 dias, em apenas um a equipe foi capaz de percorrer mais que a distância de uma corrida.
Novamente comparando as quilometragens da Red Bull Renault de 2014 com a McLaren Honda de 2015, nota-se que os rubro-taurinos andaram mais na última semana. Isso teoricamente poderia indicar que eles deram um passo maior durante os testes. Todavia, a diferença não é gritante.
Resumindo: o ano da McLaren não está perdido.
Boullier já admitiu que talvez a equipe só seja mais competitiva a partir da temporada europeia, que começa em maio, na Espanha. É o tempo que se acredita ser necessário para contornar as falhas de confiabilidade mais graves.
“Não podemos esquecer que ano passado a situação era a mesma para muitas equipes. Queremos vencer o mais cedo possível. Para isso, tivemos de ser ambiciosos agora. É verdade que não demos tantas voltas quanto gostaríamos, que isso vai prejudicar o desenvolvimento do carro do lado da performance, mas vamos nos recuperar. É apenas um atraso. Também há muitas áreas do carro que estão funcionando bem. A base dele está funcionando exatamente como o planejado”, assegura Boullier.
Button está preparado para esperar o melhor potencial ser extraído do carro. “Não vamos ter um carro vencedor na primeira corrida, mas queremos ter um vencedor na última”, afirma.
Será um campeonato de muito trabalho em Woking.
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