Hamilton vê passagem forçada de bastão para Verstappen em derrota mais doída da carreira
2021 teve tudo para ser um ano épico, e, de certa forma, foi, mas o desfecho em Abu Dhabi roubou de Lewis Hamilton a chance de uma merecida transição de poder para Max Verstappen de forma limpa. E isso vai doer para sempre no heptacampeão
Viva o tempo que for sobre esta terra, Lewis Hamilton sempre lembrará de 2021 como o ano em que um título lhe foi roubado — constatação pessoal essa que ele mesmo nunca fez questão de esconder, fosse em entrevistas ou mesmo na popular série ‘Drive to Survive’, que deu contornos ainda mais novelescos ao polêmico desfecho em Abu Dhabi. Mas perder o título Mundial de Fórmula 1 para Max Verstappen não foi o problema, e é sempre importante frisar isso. Não era sobre o adversário, por mais controversa que tenha sido — e ainda é! — a rivalidade entre ambos, e sim sobre a forma abrupta como o bastão foi passado.
A Fórmula 1 vinha de um ano nebuloso em que certamente o esporte foi a menor importância perante o caos global que ceifou a vida de milhões de pessoas. Mesmo assim, foi aos trancos e barrancos, em uma temporada mutilada pelas restrições sanitárias impostas pela pandemia da covid-19, que Lewis atingiu um teto que é, para muitos, a tradução mais fiel que pode ser feita da palavra perfeição: o 7. Em 2020, Hamilton escreveu definitivamente o nome entre os imortais do automobilismo ao igualar o heptacampeonato de Michael Schumacher.
No meio do caminho, todavia, Verstappen vez ou outra teimava em mostrar o bico do carro no retrovisor como um recado claro: é questão de tempo até a balança ser novamente equilibrada. Se a Mercedes lutava contra si própria na era híbrida, era a Red Bull quem muito bem se aproveitava das migalhas que sobravam.
Pois elas foram se tornando pedaços maiores até o momento em que o prato passou a ser dividido em partes iguais. 2021 até começa com Hamilton ditando o ritmo, só que Max agora acompanha de muito, muito perto. Tão perto que já vence a segunda corrida do ano e morde o cangote de Hamilton nas outras duas seguintes ao terminar em segundo, até voltar a vencer em Mônaco, quinta etapa, e ver o adversário cruzar a linha de chegada apenas em sétimo.

Esse, sem dúvida, é um dos tantos momentos que simbolizaram o quão acirrada foi a disputa em 2021, já que, até então, as duas primeiras colocações nas corridas eram ocupadas sempre por Hamilton e Verstappen. No GP mais tradicional da história, o atrevido jovem que sentara ao volante de um carro de F1 com apenas 17 anos assumia a liderança.
Hamilton, então, se viu frente a uma situação que conhecia bem. 2007, 2008 e 2016 foram anos em que precisou lutar ponto a ponto e ser duríssimo contra os respectivos adversários. Não seria, portanto, diferente, e ele aceitou o desafio, só que Verstappen revelou uma faceta contra a qual Lewis não teve outra escolha a não ser ir ao limite. Inúmeras foram as vezes em que se enroscaram em lances que poderiam ter sido evitados, mas como achar que um dos dois, feitos do mesmo pacote, levantaria o pé?
Veio as batidas na Inglaterra e na Itália, veio a apoteose Brasil, veio o brake-test na Arábia Saudita. Hamilton passou por uma avalanche de momentos e sentimentos até sair da penúltima etapa rigorosamente empatado com o cada vez mais arquirrival taurino.
E veio Abu Dhabi, o ato final de um ano sem dúvida inigualável, mas a glória definitiva na vida do hoje maior vencedor da história transformou-se em um pesadelo que certamente teve a sua fatia de significado nos anos que se seguiram depois. Ali, impotente perante o grotesco erro da direção de prova, não pôde fazer absolutamente nada. Nem mesmo a obrigatoriedade da máscara, marcas da pandemia, conseguiu esconder o olhar atônito de Lewis no pódio.

Hamilton fez tudo certo em Abu Dhabi, ainda que a pole não tenha ficado com ele. Mas a confiança no ritmo de corrida logo ganhou corpo em uma largada abismal, e ele assumiu a liderança e sumiu da frente de Verstappen. A única briga para valer que teve foi contra Sergio Pérez, na defesa de posição que garantiu o emprego do mexicano e o caminhão de dinheiro depositado aos cofres da Red Bull. Mesmo assim, quando se livrou do companheiro de Max, voltou a rumar tranquilamente ao isolamento das estatísticas como o maior campeão da história da F1.
Mas não aconteceu, pois o safety-car causado por Nicholas Latifi a cinco voltas do fim deixou Max, de pneus macios novos, colado na traseira de Hamilton, com compostos duros já desgastados. Pior ainda quando a direção de prova da Federação Internacional de Automobilismo (FIA), na pessoa de Michael Masi, autorizou o realinhamento apenas dos retardatários entre os postulantes ao título. Para completar a cereja do bolo, o regulamento determinava que o carro de segurança permanecesse na pista por mais um giro após o realinhamento, e pelo número de voltas restantes, a corrida deveria ter terminado sob bandeira amarela.
2021 foi, sem dúvida, das melhores temporadas e levou muitos saudosistas dos tempos de rivalidades do tipo Senna × Prost recuperar o tesão pela F1. E seria épico, realmente, não fosse pela FIA mais uma vez roubando um protagonismo que nunca será dela.
Verstappen teve pouco mais de 5 km para preparar o bote e se tornar campeão do mundo na F1 pela primeira vez na carreira. Derrotado da forma mais cruel possível, Hamilton se permitiu assumir o controle da própria vida e sumir dos holofotes depois das obrigações contratuais. E talvez uma parte daquele Lewis nunca mais tenha voltado.
O GRANDE PRÊMIO acompanha AO VIVO e EM TEMPO REAL todas as atividades do GP de Abu Dhabi, em Yas Marina, e transmite classificação e corrida em segunda tela, em parceria com a Voz do Esporte, na GPTV, o canal do GP no YouTube. Depois das atividades de cada dia, debate tudo o que aconteceu no Briefing. Na sexta-feira (6), o treino livre 1 está marcado para as 6h30 (de Brasília, GMT-3), enquanto a segunda sessão acontece às 10h. No sábado (7), os pilotos retornam para o terceiro e último treino livre às 7h30, ao passo que a classificação será às 11h. Por fim, a largada da corrida em Abu Dhabi será no domingo (8), às 10h.
Inscreva-se nos dois canais do GRANDE PRÊMIO no YouTube: GP | GP2
LEIA TAMBÉM: Ferrari × McLaren: o que cada uma precisa para ser campeã de Construtores da F1 2024

