Na Garagem: Senna sofre acidente e morre em GP de San Marino vencido por Schumacher

A morte de um dos maiores nomes da história da Fórmula 1 ofuscou completamente o GP de San Marino de 1994, mas a corrida foi reiniciada depois de Ayrton Senna ser levado para o hospital e terminou com vitória de Michael Schumacher em Ímola

Utilizado constantemente no meio artístico e em peças de dramaturgia em geral, o conceito de ‘antes e depois’ envolve um marco central, feliz ou triste, mas que muda para sempre a vida de todos os envolvidos. Depois daquilo, nada será igual. E a Fórmula 1 viveu seu ‘antes e depois’ — certamente o mais trágico da história do automobilismo brasileiro — no dia 1º de maio de 1994, em Ímola. A morte de Ayrton Senna não trouxe apenas tristeza e luto mundial, mas uma série de mudanças em busca de segurança no esporte a motor. E, em meio a tanta dor, houve uma ofuscada corrida — que terminou com vitória de Michael Schumacher.

Pouco se fala no Brasil sobre o GP de San Marino de 1994 além da sétima volta, com a batida fatal do brasileiro e toda a preocupação — que virou tristeza — em torno de seu estado de saúde. Mas a corrida que se desenrolou depois disso trouxe alguns fatos marcantes, como a confusão em torno das posições dos pilotos e o único pódio da carreira de Nicola Larini.

Depois de garantir a pole com uma distância de 0s3 para Schumacher, Senna largou bem e manteve a primeira colocação no começo da prova. E um forte acidente logo na largada deu o tom do que viria a seguir, quando JJ Lehto ficou parado no grid durante o início e foi acertado em cheio pelo português Pedro Lamy, que não conseguiu desviar a tempo. A pancada foi tão forte que destroços de sua Lotus dispararam em direção às arquibancadas e feriram alguns espectadores.

Imediatamente, o safety-car entrou na pista, e levou algum tempo para que os fiscais entendessem que o circuito reunia condições de reiniciar a corrida. Isso só aconteceu ao fim da quinta volta, quando Senna manteve a ponta e Schumacher seguiu atrás. Depois de completar um giro pelo traçado, o brasileiro foi reto na curva Tamburello e atingiu o muro de proteção com força total. Bandeira vermelha e corrida paralisada.

Senna liderou a prova até o acidente fatal na sétima volta (Foto: Forix)

Naquele momento, estava claro que o acidente de Senna não tinha sido uma batida qualquer. Sem movimentos no cockpit, Ayrton precisou esperar cerca de 1min30s para a chegada do carro-médico, que ainda levou outros 17 minutos para transferir o brasileiro de helicóptero rumo ao Hospital Maggiore de Bolonha.

A partir daí, a apreensão tomou conta de Ímola e todos os olhos — e ouvidos — se voltaram para o complexo hospitalar que recebeu o brasileiro. Enquanto os fãs se preocupavam o estado de saúde do tricampeão mundial, a Fórmula 1 manteve a ‘tradição’ de ignorar tragédias e preparou o reinício da corrida cerca de 30 minutos depois. E de forma completamente confusa.

Ao contrário da regra atual, a direção de prova manteve as diferenças entre os carros de antes da bandeira vermelha para depois. Assim, a distância real entre os pilotos passou a ser uma soma entre os tempos de antes e depois da paralisação. Como exemplo, Gerhard Berger superou Schumacher na relargada e permaneceu em segundo, pois carregava 1s5 de desvantagem devido à distância antes da batida de Senna.

A partir daí, Schumacher ignorou a posição real dos carros e passou a perseguir Berger. Algumas voltas depois, passou o austríaco na Variante Alta e se encaminhou aos boxes. Gerhard não teve a mesma sorte e, quando foi ao pit-lane, abandonou a prova. Mika Häkkinen herdou a dianteira com a parada de Michael, naquela que foi sua primeira vez liderando uma prova na F1, mas perdeu o posto na volta 19 ao também decidir pelo pit-stop.

O acidente que encerrou a vida de Ayrton Senna em Ímola (Foto: Reprodução)

Schumacher passou a abrir distância na ponta, mas a corrida continuou apresentando alternâncias mais atrás. Larini aproveitou uma estratégia diferente dos demais e se colocou no segundo lugar, enquanto Christian Fittipaldi travou duelo particular com Ukyo Katayama pelo quinto posto.

O brasileiro, porém, não conseguiu cumprir totalmente a missão. Fittipaldi até passou Katayama na volta 54, mas rodou logo no giro seguinte e abandonou a prova com problemas nos freios. Os abandonos ditaram o tom da disputa, inclusive: Michele Alboreto perdeu uma das rodas de sua Minardi, que chegou a acertar mecânicos de Lotus e Ferrari, e também precisou deixar a disputa; Andrea de Cesaris rodou sozinho, bateu no muro e também não completou.

No fim, dos 25 pilotos que largaram, apenas 13 completaram a prova. De Cesaris, Alboreto, Gianni Morbidelli, Pierluigi Martini, David Brabham, Bertrand Gachot, Olivier Beretta, Berger, Senna, Érik Comas, Lehto e Lamy abandonaram por diferentes motivos.

Em uma corrida na qual apenas os quatro primeiros completaram todas as 58 voltas previstas, Schumacher venceu com uma distância de 54s9 para Larini, que foi a seu primeiro e único pódio na Fórmula 1. Häkkinen fechou o top-3, com Karl Wendlinger em quarto e Katayama em quinto. Damon Hill, Heinz-Harald Frentzen, Martin Brundle, Mark Blundell e Johnny Herbert completaram o top-10.

Schumacher deixou Berger para trás e partiu em direção à vitória (Foto: Forix)

Muito além do resultado, o dia 1º de maio de 1994 mudou a categoria para sempre após a morte de Senna — e de Roland Ratzenberger, no dia anterior. Áreas de escape foram aumentadas, curvas perigosas mudaram de configuração, pilotos passaram a ter voz ativa nas mudanças, a célula de sobrevivência foi fortificada, a equipe médica foi melhor distribuída pela pista, um capacete mais resistente foi introduzido e o HANS, feito para proteger pescoço e cabeça dos pilotos de fortes impactos, foi criado. Da pior forma possível, a F1 passou a carregar para sempre um ‘antes e depois’ naquele fim de semana.

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