Na Garagem: Barrichello confirma crescimento da Jordan e conquista primeiro pódio da carreira no GP do Pacífico

Há exatos 25 anos, em 17 de abril de 1994, Rubens Barrichello subiu ao pódio pela primeira vez na Fórmula 1 - e também levou a Jordan a seu primeiro top-3. Foi no primeiro GP do Pacífico, no remoto Circuito TI, em Aida, no Japão. Em meio às desventuras dos favoritos, Barrichello brilhou

A carreira nas categorias-satélite da Europa foi extremamente promissora. Após alguns anos onde causou interesse nas equipes da Fórmula 1, Rubens Barrichello enfim chegou ao Mundial na temporada 1993. Com a Jordan, foi realmente o piloto em que a equipe resolveu apostar. Correu todas as etapas daquela temporada, enquanto o segundo carro do time de Eddie Jordan teve uma extensa lista de cinco nomes – mas terminou encontrando em Eddie Irvine a resposta para fazer par com o jovem piloto brasileiro.

 
É verdade que não houve grande destaque, o carro nem permitia, mas Barrichello foi bem. Marcou somente dois pontos – era, lembrem os mais novos, uma época em que apenas o top-6 pontuava. Foi quando, no GP do Japão, conseguiu um quinto lugar. Mas buscou boas posições: foi top-10 outras quatro vezes durante o ano e passou perto de anotar um pontinho no GP da França.
 
O ano seguinte, entretanto, seria diferente. A Jordan aproveitou o novo conjunto de regras instituído pela F1 e pegou o elevador para subir ao topo do que hoje seria visto como o pelotão intermediário: terminaria aquela temporada com o quinto lugar do Mundial de Construtores. Logo na abertura do campeonato, no Brasil, ficou na cara que o carro era bom. Barrichello fez uma corrida ótima e subiu do 14º para o quarto lugar que já representava o melhor resultado na carreira.
 
Mas o grande momento de Barrichello viria três semanas depois, no GP do Pacífico. Novamente no Japão dos primeiros pontos, mas agora na muito mais remota pista de Aida, a Jordan tinha força.
O acidente que tirou Ayrton Senna e Nicola Larini na largada (Foto: Williams/LAT)

Durante a classificação, Ayrton Senna repetiu o que fizera no Brasil e controlou as ações mesmo rodando durante o treino. Michael Schumacher, que havia vencido a corrida de abertura da temporada, conseguiu colocar a Benetton – que começava a mostrar não ser fogo de palha – no segundo lugar. Os sete primeiros colocados eram os pilotos de Williams [Senna e Damon Hill], McLaren [Mika Häkkinen e Martin Brundle], Ferrari [Gerhard Berger e Nicola Larini] e Schumacher, de uma Benetton que ainda contava com Jos Verstappen no décimo lugar. Os intrusos eram dois brasileiros: Barrichello, com a Jordan, em oitavo; Christian Fittipaldi, de Footwork, na nona colocação.

 
O sábado da classificação ainda abriu uma polêmica daquele ano com Larini, que foi chamado às pressas para substituir o machucado Jean Alesi na Ferrari. O italiano passara alguns anos sem qualquer destaque em equipes pequenas na F1 e correra duas provas na Ferrari como tapa-buraco em 1992 – ao passo que vencia o Campeonato Italiano de Carros de Turismo. Depois, em 1993, afastou-se da F1 e ficou apenas no turismo, onde foi campeão do DTM. Chamado novamente para tapar um buraco, foi pego um tanto de surpresa com as novas regras. Acabou revelando em conversas informais com jornalistas italianos que havia utilizado controle de tração – sistema banido após 1993. Larini e a Ferrari negaram depois, diante da imprensa internacional, e continuaram com as negativas durante o ano, mas afloraram as suspeitas de que algumas equipes estavam trapaceando.
 
No domingo, a largada já apresentou oportunidades para os torcedores ficarem um tanto boquiabertos. Schumacher passou Senna e assumiu a ponta, enquanto o tricampeão ainda acabava abalroado por trás por Häkkinen, então um jovem piloto que ainda demoraria mais de quatro anos para se tornar campeão mundial. Ambos abandonariam a corrida – Senna imediatamente e Häkkinen, 19 voltas depois, quando o câmbio deu pane. Senna, então, tomou a famosa decisão de encostar no muro para ouvir os sons que faziam alguns de seus concorrentes. Em meio a tantas discussões sobre trapaças, queria ver se encontrava indicativos de quem estava usando controle de tração.
 
A largada fez mais vítimas: Larini tentou escapar da confusão e foi para a brita com Senna; Mark Blundell, piloto da Tyrell, rodou e parou na pista com falha no motor; Olivier Panis ainda precisou de um empurrãozinho quando a Ligier parou na pista. 
 
Schumacher imediatamente começou a escapar, enquanto Häkkinen segurava o segundo lugar e Hill era o terceiro. Gerhard Berger, Barrichello e Brundle vinham na sequência. Todos ganharam uma posição quando, ainda na terceira volta, Hill errou sozinho e caiu várias posições ao passar pela brita. Logo o piloto da Williams começou a retomada: passou Verstappen, Heinz-Harald Frentzen, Fittipaldi e, eventualmente, retornou ao segundo lugar com uma pilotagem agressiva. Quem mais resistiu foi Berger, fazendo o possível com uma Ferrari de motor menos potente que o Renault da Williams. Hill teve de adiantar o pit-stop. Quando enfim conseguiu tomar o lugar de Berger, Häkkinen já abandonara voltas antes.
 
Assim que Hill passou Brundle e Barrichello, o piloto da McLaren começou a atacar a Jordan. As tentativas de Brundle foram insistentes até que o piloto da McLaren resolveu ir aos boxes e mudar um pouco a estratégia da corrida. Rubens ainda demorou a parar, mas a Jordan trabalhou melhor que a McLaren, que devolveu o britânico atrás até de Fittipaldi e deu um respiro a Barrichello. Aliás, Brundle só conseguiu ultrapassar Fittipaldi quando uma fila de retardatários se juntou – eles dois davam uma volta na maioria e sofriam do líder Schumacher. O inglês começou a acompanhar o ritmo de Michael enquanto era possível.

Foi na volta 49 que Brundle apareceu novamente colado em Barrichello para retomar os ataques e que Hill, após toda a recuperação, abandonava a corrida com problemas na transmissão. A saída de Hill fez com que Berger ficasse isolado no segundo lugar e a briga entre Barrichello e Brundle valesse o último posto do pódio. Barrichello jogava com as possibilidades que tinha. Quando chegaram juntos a um retardatário isolado, que era a Sauber de Karl Wedlinger, o brasileiro fez uma ultrapassagem por fora, imediata e linda, enquanto Brundle esperou alguns metros para negociar. Pouco depois, Brundle novamente foi ao pit-lane.

 
Mais atrás aconteciam outras coisas. David Brabham e Oliver Beretta, respectivamente de Simtek e Larrousse, deixaram a corrida nas primeiras voltas com problemas elétricos. Antes de Hill, foram apenas dois minutos entre os abandonos de Ukyo Katayma (Tyrell) e Aguri Suzuki (companheiro de Barrichello na Jordan por conta da suspensão de Eddie Irvine), ambos também com problemas e frustrando o público que ficava sem nenhum compatriota por quem torcer. O abandono seguinte foi de Verstappen, que errou na saída do segundo pit-stop, rodou com pneus novos e parou na brita.
Rubens Barrichello (Foto: Reprodução/Twitter)
Após a segunda parada de Berger, o austríaco voltou atrás de Barrichello. A discussão era se o piloto da Jordan, mais jovem do grid, ficaria na pista até o fim da corrida e sustentaria os 7s de vantagem. Mas Berger começou a tirar vantagem rapidamente fazendo uso de pneus bem novos contra os gastos da Jordan. Barrichello foi para o pit-lane para reabastecimento e troca de pneus, mas o motor Hart travou. A Jordan ficou parada e perdeu muito tempo, tirando Rubens até da terceira colocação após uma exibição de gala até ali.
 
Sem ter que se preocupar com Barrichello – que agora se via num latifúndio de distância para os primeiros e para quem vinha atrás -, Brundle buscava aproximação para Berger. Apenas 3s5 e meio separavam segundo e terceiro colocados quando o piloto da McLaren sofreu um superaquecimento do motor e, sem potência, teve de levar o carro de volta aos boxes e encerrar a participação. Brundle, sempre tranquilo, ficou nervoso e dava pancadas no volante enquanto entrava na garagem da McLaren e, fora do carro, gritava com a equipe toda. 
 
O abandono de Brundle isolava Berger em segundo, mas especialmente recolocava Barrichello na posição de pódio que parecia perdida de vez. Atrás do top-3, a Footwork fazia uma excelente corrida: Fittipaldi era o quarto e Gianni Morbidelli ocupava a quinta colocação – por pouco tempo. O motor Ford de Morbidelli começou a esfumaçar e jogar óleo na pista durante a volta 69, o que causou uma rodada do italiano. Logo em seguida, no fim do pelotão, um acidente perigoso entre a Minardi de Michele Alboreto e a Sauber de Wendlinger tirou ambos da corrida. Um claro erro de Alboreto, aliás.
 
Os momentos finais da corrida eram de destaque para Barrichello e a Jordan. Membros da equipe eram mostrados pela transmissão oficial: sentados no chão e com risada fácil a três voltas do fim. Schumacher deu mais duas voltas para receber a bandeira quadriculada de uma vitória tranquila, enquanto Berger cruzou em segundo. E Barrichello, cheio de braços para o alto em comemoração. O mesmo para a Jordan, que esperava Rubens para fazer a festa. Era o primeiro pódio do piloto, mas também para a equipe na Fórmula 1.
O pódio do GP do Pacífico de 1994 (Foto: Reprodução/Twitter)

Fittipaldi terminou com o quarto lugar que acabou sendo seu melhor resultado na F1, enquanto Frentzen fechou em quinto. O sexto posto, último dos pontos, foi um prêmio de resistência em meio a tantos abandonos. Éric Comas, da Larrousse, fechou duas voltas atrás do quinto colocado, mas deixou Aida com um pontinho. Ainda terminaram a prova Johnny Herbert e Pedro Lamy, ambos da Lotus, Panis e Éric Bernard, ambos da Ligier, e Roland Ratzenberger, da Simtek, naquela que seria sua última corrida antes da morte trágica duas semanas depois. Apenas 11 dos 26 pilotos que largaram chegaram ao fim.

 
No pódio, Schumacher dançava durante o hino da Alemanha. Estava exultante, especialmente porque garantia a segunda vitória em duas provas e abria 20 pontos para Senna, apontado como o grande favorito da temporada. Mas Barrichello também dançava durante os hinos, tão feliz quanto o alemão que passara pela mesma Jordan três anos antes. Pudera, Barrichello tinha sete pontos e ia para a Europa como vice-líder do campeonato. E era comemorado no pódio por Schumacher e Berger.
 
25 anos depois, Barrichello falou rapidamente ao GRANDE PRÊMIO sobre a lembrança do que significou aquele pódio. “Eu amo isso que eu faço. Só posso dizer que realmente guiar um carro de corrida é tudo aquilo que eu sei fazer. E eu só posso agradecer às pessoas que sempre estiveram por trás”, falou. Comemorou ainda que chegue a esse quarto de século mais tarde, 2019, ainda como piloto. "Guiar um carro desse jeito depois de tanto tempo é um momento especial para mim”.
 
Barrichello terminou aquela temporada com 19 pontos e o sexto lugar do Mundial de Pilotos – ainda conquistou, no GP da Bélgica, a primeira pole-position da história da Jordan. Durante a carreira na F1, que se estendeu até 2011, Rubinho foi a outros 67 pódios, venceu 11 corridas, anotou 14 poles e correr, ao todo, 322 GPs – um recorde histórico. Além da Jordan, passou pela Stewart, Ferrari, Honda, Brawn e Williams e foi, durante os anos de domínio da equipe de Maranello, ainda vice-campeão mundial em 2002 e 2004, os melhores resultados de uma longa ligação.
Chamada Chefão GP Chamada Chefão GP 🏁 O GRANDE PRÊMIO agora está no Comunidades WhatsApp. Clique aqui para participar e receber as notícias da Fórmula 1 direto no seu celular! Acesse as versões em espanhol e português-PT do GRANDE PRÊMIO, além dos parceiros Nosso Palestra e Teleguiado.