Na Garagem: Fangio conta com ajuda improvável de rival para ser tetra da F1

Seguramente, Juan Manuel Fangio foi o piloto mais vencedor de seu tempo e um dos maiores de toda a história do automobilismo mundial. Mas o lendário piloto argentino não conquistaria um dos seus títulos se não fosse pelo espírito esportivo de um dos seus companheiros de Ferrari, Peter Collins, que aceitou compartilhar seu carro mesmo tendo chances de ser campeão

Se há um piloto capaz de rivalizar com Michael Schumacher quando se pensa em números, este alguém é Juan Manuel Fangio. Em sete temporadas completas na categoria, entre 1950 e 1957, o argentino foi cinco vezes campeão e duas vezes segundo lugar no campeonato. É de Fangio o recorde de porcentagem de vitórias e pole-positions por GP disputado na carreira.

Há 59 anos, as marcas de 46% de vitórias (24 em 52 corridas) e de 55% de poles (29 em 52 GPs) permanecem intocadas. Fangio também é o piloto que foi campeão por mais escuderias diferentes: ele venceu pela Alfa-Romeo, Maserati, Mercedes e pela Ferrari. Pela escuderia de Maranello, o argentino conquistou seu quarto título em 1956.

Essa conquista foi a mais apertada da carreira de Fangio. Após sete provas, Fangio havia vencido três corridas (Argentina, Inglaterra e Alemanha). Peter Collins, também da Ferrari, havia ganhado duas (Bélgica e França) e Stirling Moss, da Maserati, uma (Mônaco). O equilíbrio do campeonato se refletia na tabela: Fangio tinha 30 pontos contra 22 de Collins e Jean Behra, em outra Maserati.

Fangio alinhou com a Ferrari #22 para disputar o GP da Itália de 1956 (Foto: Forix)

Fangio chegou a Monza com vantagem para os outros dois concorrentes por conta de uma característica incompatível com a F1 atual: a divisão de carros. As equipes corriam com muitos carros. Só a Ferrari, por exemplo, alinhou seis carros no GP da Itália de 1956. Quem pontuava, era o equipamento, e a pontuação era dividida entre os pilotos que tinham utilizado aquele carro.

Por esse expediente, Fangio havia conquistado quatro pontos por uma vitória divida com Luigi Musso na Argentina e mais três pontos por um segundo lugar compartilhado com Collins em Mônaco. Esses sete pontos seriam vitais na luta contra o próprio Collins e Behra na corrida final da temporada, em 2 de setembro de 1956.

O argentino marcou a pole e mostrou que não queria dar sopa ao azar. O argentino só perderia o título se abandonasse e Behra, ou Collins, vencessem e ainda marcassem a volta mais rápida — naquela época, isso garantia um ponto extra. Eugenio Castelotti e Luigi Musso completavam a primeira fila toda da Ferrari. Behra e Collins, partiam apenas em quinto e sétimo, respectivamente.

Fangio correu com a #22 até quebrar. Aí veio o momento decisivo: passar para outro carro (Foto: Forix)

Na largada, Castelotti tomou a ponta, seguido de Musso. Os dois italianos imprimiam um ritmo forte, enquanto Fangio poupava os pneus. Com isso, Moss, de Maserati, aproveitou para assumir a dianteira quando os dois italianos pararam nos boxes, já na quinta volta. Moss tinha atrás de si Fangio, Collins e Harry Schell, da Vanwall, e essa virou a briga pela liderança.

A corrida transcorria sem grandes alterações até a volta 30, quando Fangio entra nos boxes com um braço da suspensão quebrado. O argentino abandonou a prova, e Enzo Ferrari ficou aflito com a chance de Jean Behra ficar com o caneco. O chefe de equipe sinalizou a Musso para que ele cedesse o carro para Fangio. O italiano, surpreendentemente, recusou.

Surpreendentemente, Collins, com chances de título, partilhou seu carro com Fangio. Que foi tetra (Foto: Forix)

Cinco voltas depois, Collins entra nos boxes e, ao saber da situação, resolve ceder o carro para Fangio. Uma decisão de muita esportividade, pois caso vencesse e fizesse a volta mais rápida, o inglês da Ferrari seria campeão. Na volta 45 das 50 previstas, um lance inusitado: Moss liderava tranquilo e ficou sem combustível. Luigi Piotti usou o seu carro para empurrar o inglês até os boxes.

Musso era então o líder, mas o volante do italiano quebrou a apenas três voltas do fim. A vitória caiu no colo de Moss e Fangio, usando o carro de Collins, foi o segundo. Caso não tivesse cedido o carro para o parceiro em Mônaco e na Itália, Collins teria marcado 31 pontos, contra 28 de Moss e 27 de Fangio. Uma situação impensável na F1 atual.

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