Na Garagem: Hamilton vence Rosberg em 1º capítulo de rivalidade no Bahrein

A conhecida rivalidade entre Lewis Hamilton e Nico Rosberg, que já foram amigos de infância em um passado distante, teve seu primeiro capítulo há exatos dez anos. Ainda de forma justa, na pista e sem acidentes, os dois travaram um duelo épico no GP do Bahrein de 2014, com trocas de liderança, estratégias diferentes e uma disputa intensa pela ponta que ficou conhecida como a ‘Batalha do Deserto’. No fim, o inglês deu uma enorme demonstração de força e saiu vencedor na primeira grande corrida da Era Híbrida da Fórmula 1.

O Bahrein recebeu a terceira etapa do campeonato de 2014, depois de Austrália e Malásia, e Rosberg tinha a liderança do campeonato depois de uma vitória em Melbourne e um segundo lugar em Kuala Lumpur. Hamilton, por sua vez, abandonou no Albert Park com um problema de motor e triunfou na segunda prova do ano, se colocando atrás do alemão no Mundial de Pilotos.

A primeira batalha entre os dois aconteceu já na classificação, e com vantagem para Rosberg. Por 0s299, Nico conquistou a pole e relegou Hamilton ao segundo lugar, em um momento no qual já estava claro que a Mercedes tinha o domínio completo do grid. Valtteri Bottas, terceiro colocado, foi 1s1 mais lento que o alemão.

A largada na primeira corrida noturna do Bahrein foi melhor para Hamilton, que tracionou bem, colocou por dentro e alcançou a primeira curva à frente de Rosberg. Nico partiu para cima já na curva 4, mas Lewis fechou a porta e garantiu a manutenção da primeira posição.

Na volta 18, a batalha começou de vez. Rosberg ainda era o segundo, mas se encontrava em uma situação melhor com os pneus e colocou por dentro na curva 1. Hamilton, que manteve o traçado externo, deu o ‘X’ no companheiro de equipe e ainda complementou com uma pequena fechada, o que desencadeou a primeira reclamação do alemão pelo rádio. “Avise a ele que isso não foi justo”, disse.

No giro seguinte, Rosberg atacou novamente no mesmo ponto, desta vez evitando o contra-ataque de Hamilton — que tentou repetir a manobra da volta anterior. A liderança durou pouco tempo, porém, já que Lewis voltou a atacar na curva 5 e retomou a ponta. A disputa já ganhava contornos dramáticos no pit-wall da Mercedes, que não escondia a preocupação com a proximidade entre os carros.

Ainda na 19ª volta, Hamilton foi chamado aos boxes pela primeira vez e optou pelos pneus macios, enquanto Rosberg parou na 21 e calçou os médios. O alemão voltou em segundo, mas passou a perder terreno para o companheiro de equipe devido à diferença entre os compostos. A vantagem de Lewis chegou a 7s.

No entanto, a corrida estava predestinada a ser emocionante. Na volta 39, uma lambança de Pastor Maldonado mudou tudo. O venezuelano saía dos boxes e ignorou a aproximação de Esteban Gutiérrez, que foi acertado e capotou em acidente preocupante. O piloto ficou bem, mas a direção de prova optou por acionar o safety-car e a Mercedes chamou os dois titulares para um último pit-stop.

Se Hamilton tinha a vantagem até então, a entrada do carro de segurança inverteu o cenário e deixou Rosberg com a disputa nas mãos: além de ver a distância para o inglês ser dizimada, o alemão tinha pneus macios, enquanto Lewis precisou calçar os médios. Ciente do que viria a seguir, o diretor-técnico Paddy Lowe entrou no rádio do britânico e admitiu a preocupação. “Com dez voltas para o fim, podemos garantir que os dois carros voltem para casa?”, questionou.

Hamilton segurou a ponta na relargada, mas Rosberg se manteve muito próximo e não deixou o companheiro escapar. Na curva 4, o alemão partiu para cima, colocou por fora e emparelhou com o britânico, que fechou a porta mais uma vez e quase gerou uma colisão. Nico precisou reduzir, e Lewis segurou o primeiro lugar.

A partir daí, a corrida virou um ataque contra defesa. Usando a maior velocidade dos pneus macios, Rosberg emparelhou com Hamilton várias vezes, chegou a passar dos limites da pista, e o inglês fez todo o possível para se defender do alemão. Nos boxes da Mercedes, a preocupação era visível entre dirigentes e mecânicos.

Com seis voltas para o fim, Nico atacou de novo e, mais uma vez, levou um ‘X’ de Hamilton na curva 1. Foi a última tentativa real de Rosberg, que passou a sentir o desgaste dos macios e viu Lewis abrir 1s até o final da prova. Ainda que justa, aquela disputa foi o primeiro capítulo de uma rivalidade que se acirraria a níveis inimagináveis nos anos seguintes, culminando com a aposentadoria do alemão logo após a conquista de seu único título, em 2016.

Sergio Pérez completou o pódio com a Force India, em seu quarto top-3 na Fórmula 1, com Daniel Ricciardo, da Red Bull, em quarto e Nico Hülkenberg em quinto. Sebastian Vettel foi o sexto, seguido por Felipe Massa e Valtteri Bottas, enquanto Fernando Alonso e Kimi Räikkönen completaram o grupo dos dez primeiros colocados.

A vitória, 24ª da carreira de Hamilton, o fez entrar no top-10 de maiores vencedores da Fórmula 1 na época, igualando Juan Manuel Fangio. Entretanto, não foi o suficiente para tomar a liderança do campeonato, já que Rosberg se manteve 11 pontos à frente [61 a 50]. No fim do ano, o britânico comemorou seu segundo título mundial com uma vantagem tranquila: 384 a 317.

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