Na Garagem: Trulli vê Schumacher abandonar em Mônaco e conquista única vitória na F1

Poucos são os pilotos que conseguem subir no degrau mais alto do pódio após realizarem o sonho de conquistar uma vaga na categoria máxima do automobilismo. Vencer em Mônaco, então, é algo ainda mais extraordinário, já que apenas 36 pilotos ao longo dos mais de 70 anos de história da Fórmula 1 alcançaram a glória de receber a bandeirada final na primeira posição nas ruas de Monte Carlo. Há 20 anos, Jarno Trulli deixou seu nome marcado nesta seleta lista.

Após conquistar quatro títulos de maneira consecutiva — 2000, 2001, 2002 e 2003 —, Michael Schumacher continuava sendo o grande nome em 2004. Antes de desembarcar no principado, a classe rainha já havia acumulado passagens pela Austrália, Malásia, Bahrein, Emília-Romanha e Espanha, com o alemão da Ferrari triunfando nas cinco oportunidades, seguido de perto por Rubens Barrichello, que ficou com o vice-campeonato daquele ano. Enquanto isso, Williams, McLaren, BAR e Renault faziam de tudo para frear a hegemonia do time de Maranello.

Para aquele ano, a equipe francesa repetiu a dupla de 2003, quando teve Fernando Alonso — com 22 anos na época — ao lado de Trulli. Com 29 anos e na F1 desde 1997, o italiano era mais experiente do que seu colega de garagem, mas tinha números mais tímidos, com três pódios e nenhuma vitória, enquanto que o asturiano já havia vencido o GP da Hungria do ano anterior, quando largou da pole. No dia 24 de maio, porém, a carreira de Jarno ganhou um capítulo marcante.

Era esperado que Schumacher tivesse dificuldades para garantir a sexta vitória consecutiva na temporada, já que as características únicas da pista em Mônaco abriam outras possibilidades, especialmente para a Renault, que tinha um carro conhecido pelos excelentes controles de tração e largada, mas nada que pudesse tirar o favoritismo do companheiro de Barrichello. A surpresa, contudo, começou no sábado, quando Trulli cravou 1min13s985 e conquistou a primeira pole-position do currículo, 0s360 à frente do segundo colocado, Ralf Schumacher, da Williams, e 0s411 de Jenson Button, da BAR, que fechou o top-3, mas herdou o segundo posto após o alemão ser punido com dez posições no grid por ter trocado o motor.

No dia seguinte, o italiano largou bem e conseguiu segurar a primeira posição. Atrás dele, Alonso saiu forte e ultrapassou Button logo nos primeiros metros, saltando de terceiro para segundo. Invicto até aquele momento no certame, Schumacher não teve um início de prova muito bom — o piloto da Ferrari caiu de quarto para sexto logo na largada, sendo ultrapassado por Takuma Sato, da BAR, e Kimi Räikkönen, da McLaren.

Logo na terceira volta, uma espessa nuvem de fumaça proveniente do carro de Sato, que sofreu com problemas no motor Honda, pegou David Coulthard e Giancarlo Fisichella de surpresa, causando um incidente entre os dois, que bateram e tiveram de abandonar. Por causa deste ocorrido, o safety-car foi acionado pela primeira vez na etapa.

Após a relargada, Trulli e Alonso abriram enorme vantagem em relação ao terceiro colocado, Button. Algumas voltas depois, durante a primeira janela de pit-stops, Schumacher conseguiu assumir a ponta por alguns momentos logo depois que a dupla da Renault foi aos boxes, e embora não tenha permanecido na liderança após visitar a garagem da Ferrari, Michael saiu do pit-lane em terceiro, ganhando três posições em relação à largada.

O segundo safety-car foi acionado na volta 42, após Alonso tentar ultrapassar o retardatário Ralf Schumacher na saída do túnel, ser atrapalhado e bater com força na barreira de proteção. Quando a prova foi interrompida, Trulli e Button aproveitaram o momento para irem aos boxes mais uma vez, enquanto que Michael, optando por uma estratégia diferente, permaneceu na pista. E foi esta decisão que mudou o rumo do GP de Mônaco de 2004.

Enquanto seguia o carro de segurança, Schumacher decidiu acelerar e frear de maneira mais brusca em alguns momentos para tentar manter os pneus e os freios na temperatura ideal. Foi durante uma dessas manobras, quando a fila de carros estava passando exatamente pelo túnel, que Juan Pablo Montoya acabou sendo surpreendido e acertou a traseira da F2004, fazendo o alemão perder o controle e bater no guard rail, quebrando a suspensão dianteira esquerda.

Com Schumacher fora de combate, o caminho ficou livre para Trulli, que havia caído para a terceira posição após a segunda entrada nos boxes, mas retomou a liderança devido ao incidente e contou com a companhia de Button durante as voltas finais. O britânico pressionou o piloto da Renault e até esboçou algumas tentativas de ultrapassagem, mas o traçado apertado e as ótimas manobras defensivas de Jarno dificultaram a vida de Jenson.

Ao findar das 77 voltas nas ruas de Monte Carlo, Trulli cruzou a linha de chegada com uma vantagem de apenas 0s497 em relação ao inglês. Barrichello, que sofreu com problemas de equilíbrio, completou o pódio, embora tenha ficado 1min15s766 atrás dos primeiros colocados.

Por causa de um desentendimento com Flavio Briatore, o italiano deixou a Renault no fim daquela temporada e se mudou para a Toyota em 2005. Ainda que tenha conseguido mais sete pódios e três poles nos anos seguintes, essa foi a única vitória de sua carreira na F1.

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