Na Garagem: Piquet dribla Senna e parte para vitória icônica no GP da Hungria

Nelson Piquet vem por fora e, deslizando nas quatro rodas, toma a liderança do GP da Hungria de 1986 das mãos de Ayrton Senna. O lance, um dos mais marcantes da história da Fórmula 1, aconteceu exatos 35 anos atrás

Herta bateu no muro em Nashville (Vídeo: NBC)

Foi em um 10 de agosto, mas de 1986, que um capítulo importante da Fórmula 1 foi escrito. Exatos 35 anos atrás, dois brasileiros travaram uma briga icônica: Nelson Piquet por fora de Ayrton Senna, tomando a liderança do GP da Hungria com uma das manobras mais arrojadas da história da categoria.

Aquele fim de semana de agosto de 1986 seria importante independente do que acontecesse nas pistas. Era a estreia do GP da Hungria no calendário da Fórmula 1, que conseguia um grande feito ao atravessar a Cortina de Ferro, divisor entre esferas de influência dos Estados Unidos e da União Soviética no contexto da Guerra Fria. Era um grande feito de Bernie Ecclestone, que tentava globalizar a categoria.

O palco seria o Hungaroring, uma pista projetada justamente para ser uma espécie de Mônaco sem barreiras. Ou seja, sinuosa e técnica. Isso dividiu opiniões entre os pilotos, apesar de a maioria aprovar a novidade.

“É um circuito empolgante, pois atende a todas as exigências dos pilotos. Mas não acredito em uma briga pela liderança logo no início da prova. Pelo contrário, será uma corrida de táticas”, disse Keke Rosberg, piloto da Williams, em declarações reproduzidas pela Folha de S.Paulo. “É muito duro para o chassi e não há retas longas o suficiente para atingirmos altas velocidades. Pessoalmente, acho que a pista é muito lenta. Parece mais uma pista de kart do que um circuito de Fórmula 1”, contrariou Alan Jones, então representando a Lola.

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Nelson Piquet fez história 35 anos atrás (Foto: Reprodução)

De um jeito ou de outro, parecia que os brasileiros tinham se dado bem com a novidade. Depois de Nigel Mansell ser o mais rápido no primeiro treino de classificação, Ayrton Senna e Nelson Piquet melhoraram na segunda para, nessa ordem, formar a primeira fila. Senna, ainda na Lotus, teria a missão dura de segurar o compatriota, então na Williams.

A largada foi dada e, para Piquet, não correu conforme planejado. O então bicampeão foi ultrapassado por Mansell. Só que o britânico não estava tão rápido assim, vide o brasileiro dando o troco já na segunda volta. A rápida reação foi fundamental, impedindo Senna de abrir qualquer vantagem.

Na volta 12, a ultrapassagem de Piquet sobre Senna. Calma, não aquela famosa, que será relatada dentro de alguns parágrafos. Nessa primeira, Nelson apenas mergulhou por dentro e tomou a liderança, sem muita resistência. A aposta de Ayrton era na preservação dos pneus em um GP de alto desgaste. Atrás, Alain Prost passava Mansell e virava o terceiro colocado. Keke Rosberg e Johnny Dumfries completavam a zona de pontos.

A briga pela liderança seguia calma, com Piquet chegando à volta 35 com aproximadamente 5s de vantagem sobre Senna. O piloto da Williams faz o pit-stop e deixa o rival da Lotus com pista livre. Era hora do show: Ayrton encontrou velocidade e começou a voar.

Senna veio aos boxes na volta 42. Mesmo com um pit-stop mais lento, voltou à frente de Piquet. Acontece que o piloto da Williams estava mais rápido sem perder contato. No 56° giro, história foi feita: depois de muito martelar, Nelson passou Ayrton por fora, escorregando nas quatro rodas. A prova estava decidida: o mais novo decidiu apenas poupar equipamento, terminando 17s atrás. Mansell completou o pódio, beneficiado por abandono de Prost. Stefan Johansson, Dumfries e Martin Brundle completaram a zona de pontos.

Nelson Piquet buscava o tricampeonato em 1986 (Foto: Reprodução/Forix

Os anos passaram e a história ganhou status de lenda. Nelson, por exemplo, afirma até hoje que mostrou o dedo do meio para Ayrton enquanto finalizava a manobra. Para os que defendem o então piloto da Williams como o melhor brasileiro da história, foi um prato cheio. Mesmo focando no factual, a ultrapassagem é sempre apontada como uma das melhores da história da F1.

“Tudo correu perfeitamente”, disse Piquet, logo após o GP. “Acima de tudo, o importante nessa corrida era terminar. Foi uma corrida longa e quente, e os mecânicos da Williams e da Honda fizeram um grande trabalho na preparação do carro. A aderência na pista mudou ao longo da tarde e eu consegui ter uma briga muito apertada com o Senna. Nossos carros estavam muito parelhos, mas acho que nós tínhamos a vantagem. Eu passei por fora na curva 1 e, depois disso, foi questão de ir até o fim. Quero agradecer aos húngaros pelo grande trabalho nesse primeiro GP, principalmente ao fiscal de pista que agitou uma bandeira azul para o Senna conforme estava me aproximando”, brincou.

Além disso, o resultado era importante para o campeonato. Era a segunda vitória seguida de Piquet, que recuperava fôlego na briga pelo título. Com 47 pontos, o piloto estava atrás de Mansell e Senna, respectivamente com 55 e 48. Curiosamente, o título ficaria com Prost, que deixou Hungaroring em quarto, com 44.

Na imprensa nacional, o destaque era a dobradinha brasileira, a terceira em 11 GPs. A grande esperança de título não viraria realidade em 1986, mas viria aos montes nos anos seguintes: nas cinco temporadas vindouras, apenas 1989 não terminou com um brasileiro como campeão. O ciclo de Piquet se encerrava, assim como o de Senna se iniciava. Como plano de fundo, o GP em que os dois se cruzaram em uma tarde húngara.

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