Na Garagem: Schumacher alcança hepta mundial no 700º GP da história da Ferrari

Há 11 anos, Michael Schumacher se consolidava como o maior campeão da história da F1 em todos os tempos. Bastou um segundo lugar no GP da Bélgica de 2004 para o alemão comemorar seu sétimo título mundial. A conquista foi ainda mais saborosa por ter sido no 700º GP da mais vitoriosa das equipes da F1

O dia 29 de agosto de 2004 foi marcante para Michael Schumacher e também para a Ferrari. A lendária escuderia italiana, cuja história se confunde com a da própria F1, só esteve ausente do primeiro GP da história da categoria, em Silverstone. Desde sua estreia, no GP de Mônaco de 1950, a equipe trilhou um caminho de sucesso jamais alcançado por qualquer outro time. Pois naquele domingo, em Spa-Francorchamps, a Ferrari chegaria ao 700º GP de sua laureada história prestes a ver um dos seus pilotos ser coroado como o maior de todos os tempos.

Spa-Francorchamps vivia a expectativa do heptacampeonato de Schumacher. Aos 35 anos, o alemão vivia a sua melhor temporada na F1 e estava quebrando vários recordes na categoria. Schumacher havia vencido as cinco primeiras etapas da temporada e só não triunfou no GP de Mônaco porque bateu na traseira da Williams de Juan Pablo Montoya quando liderava. Nesta prova, o lugar mais alto do pódio ficou com Jarno Trulli, da Renault.

Dia histórico: Michael Schumacher virava heptacampeão em 29 de agosto de 2004 (Foto: Bridgestone)

Depois, o então hexacampeão cravou sete vitórias seguidas, entre os GPs da Europa e da Hungria. Na época, ele igualou o recorde de Alberto Ascari — a marca só foi batida por Sebastian Vettel, com a Red Bull, em 2013. Vettel conquistou as nove vitórias na segunda metade daquela temporada.

O domínio ferrarista foi tão intenso, que a equipe conseguiu a dobradinha, com Rubens Barrichello, em sete das 12 vitórias do alemão nas 13 primeiras corridas do ano. E em outras duas etapas (França e Inglaterra), Rubens foi terceiro colocado. Ou seja, as duas Ferrari foram ao pódio em nove das 12 etapas.

Entretanto, a supremacia de Schumacher não foi páreo para Barrichello e o alemão chegou à Bélgica com 38 pontos de vantagem para o companheiro. Bastava abrir mais dois pontos de vantagem para que Schumacher chegasse ao sétimo título mundial: com quatro provas restantes, mesmo se Schumacher não pontuasse mais, Barrichello perderia o desempate pelo critério de número de vitórias: seriam quatro contra 12 de Schumacher.

As Renault abriram na frente o GP da Bélgica de 2004 (Foto: Ferrari)

Nos treinos, a chuva tratou de deixar a pista em condições que mudavam muito rapidamente, e isso causou problemas aos pilotos. Montoya, da Williams, estava com pneus intermediários quando ainda chovia. Jenson Button, da BAR, estava com pneus de chuva quando a pista já secava. Trulli, da Renault, acertou na mosca: pôs pneus intermediários no fim da sessão, e o timing correto garantiu a pole ao italiano, com o tempo de 1min56s232.

Michael Schumacher estava apenas 0s072 atrás. Fernando Alonso, mostrando a boa fase da Renault, marcou 1min56s686. A McLaren de David Coulthard apareceu em quarto, 1s758 atrás do pole e a grande surpresa do treino foi Giancarlo Fisichella, da Sauber, aparecendo em quinto, apenas 0s050 atrás do escocês da McLaren.

Com um excelente controle de tração, as duas Renault largaram bem, e Schumacher, sem fazer uma boa partida, perdeu posições para Alonso e Coulthard. Um acidente na largada provocou a entrada do safety-car: Fisichella largou de modo lento e tinha Mark Webber, da Jaguar, à sua direita e Barrichello, à sua esquerda. Felipe Massa, com a outra Sauber, e Kimi Räikkönen, parceiro de Coulthard na McLaren disputavam o mesmo espaço — com a colisão entre eles, Fisichella pisou fundo no freio e foi atingido na traseira pela Toyota de Olivier Panis.

Kimi Räikkönen teve de driblar vários obstáculos para vencer pela primeira vez em Spa (Foto: McLaren)

Tinha mais espaço para confusão no pequeno grampo da curva La Source. Enquanto as Sauber de Fisichella e Massa se enroscavam com Kimi e Panis, na parte de dentro da curva Webber e Barrichello colidiam entre si. A BAR de Jenson Button não conseguiu frear e entrou na traseira de Fisichella e a Williams de Antônio Pizzonia bateu em Nick Heidfeld, da Jordan.

Pouco mais atrás, Takuma Sato, na outra BAR saiu da pista para não bater na Jaguar de Webber — o australiano já estava sem o bico. Montoya não quis sair da pista com sua Williams e fechou a porta na cara de Gianmaria Bruni, da Minardi. Com isso, o italiano foi obrigado a brecar em plena descida da Eau Rouge e foi atingido por trás por seu companheiro Zsolt Baumgartner.

Esses três incidentes envolveram 12 pilotos de oito equipes diferentes e depois de metade da primeira volta, quatro pilotos haviam abandonado a prova e seis estavam nos boxes trocando os bicos dos carros.

O 'jungle boy' Antonio Pizzonia chegou até a liderar uma volta em Spa com a Williams (Foto: BMW AG)

Quando as coisas se acalmaram, Kimi passou Schumacher na relargada — essa manobra iria determinar o destino da corrida. A dupla da Renault liderava, mas não iriam ser problema para o finlandês. Trulli entrou nos pits na volta 10 e viu seu carro perder rendimento quando voltou à pista. Alonso, por sua vez, rodou e bateu na volta 12, após passar sobre uma mancha de óleo na pista.

Desse modo, após as paradas dos líderes, Kimi tinha 13s de vantagem para Schumacher. O alemão estava enroscado com Montoya na briga pelo segundo lugar. A folga na ponta desapareceu quando Button atingiu Baumgartner e provocou outro safety-car, na volta 29. Os fiscais precisaram de nove voltas para limpar os destroços da BAR e da Minardi e, com isso, faltavam seis voltas para o fim da corrida. Todos esperavam um ataque enlouquecido de Schumacher sobre Kimi.

No entanto, o alemão não teve chance de ultrapassar o finlandês da McLaren por conta de uma estratégia de muita astúcia de Kimi: o ‘homem de gelo’ andou devagar atrás do safety-car de modo a impedir Schumacher de aquecer seus pneus Bridgestone de modo apropriado. Quando os pneus da Ferrari aqueceram e Schumacher estava pronto para dar o bote, o anticlímax: Coulthard bateu na Red Bull de Christian Klien e provocou um terceiro safety-car, na volta 44.

Kimi ao lado de Schumacher e Barrichello no pódio em Spa (Foto: Ferrari)

Räikkönen conquistava, assim, sua segunda vitória na F1. Num ano péssimo para a McLaren, a vitória de Kimi tinha ares de milagre. A coisa estava tão feia que Bob McKenzie prometeu correr pelado em Silverstone se a McLaren ganhasse uma corrida em 2004. Com a improvável vitória de Kimi, ele cumpriu a promessa no GP da Inglaterra de 2005.

Mais do que uma prova de velocidade, o GP da Bélgica de 2004 foi uma prova de resistência. Apenas nove dos 20 carros cruzaram a bandeira quadriculada. Barrichello foi a prova disso: com a batida na largada, o brasileiro caiu para 14º. Numa prova de recuperação, ainda terminou em terceiro.

Para Schumacher, o segundo lugar teve gosto de vitória. Com a vitória de Kimi, bastava a ele ser segundo para garantir o heptacampeonato. Na ocasião, além do sétimo caneco, ele contava com 82 vitórias, 62 poles e 65 voltas mais rápidas. Números que fazem dele o maior piloto da história. Quando recebeu a bandeira quadriculada, a Ferrari o recebeu com a mensagem: ‘You are simply the best’, em alusão à musica cantada por Tina Turner — ele era, realmente, o melhor.

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