E foi a pista carioca, que sequer existe mais, que testemunhou também a estreia do piloto que até hoje é considerado um dos grandes de todos os tempos. Tão vitoriosa quanto polêmica e relativamente curta, a passagem do brasileiro pelo Mundial teve início dentro de um carro branco, azul e vermelho de uma equipe pequena, de pouca envergadura, perto das poderosas Brabham, Ferrari, Renault, McLaren e Lotus dos anos 80.
Campeão da F-Ford e da então bastante prestigiada F3 Inglesa, Senna chegou a testar com a esquadra de Frank Williams em 1983, visando uma vaga na temporada seguinte com o time de Grove. Não deu certo. Tentou a McLaren, a Brabham. E nada. Aí surgiu o negócio com outra inglesa.
O brasileiro acabou encontrando um bom acordo com a modesta Toleman, de propriedade de Ted Toleman e Alex Hawkridge, para, enfim, estrear no maior campeonato de monopostos do mundo, aos 24 anos.
Dono de uma personalidade forte e de uma postura altamente profissional, Ayrton assinou como primeiro piloto do time, já exigindo prioridades técnicas. E a aposta do time britânico para um campeonato mais competitivo era, de fato, o motor turbo, além do jovem prodígio brasileiro. O venezuelano Johnny Cecotto apareceu mais tarde como companheiro de equipe de Ayrton.
O robusto carro para aquele ano era o TG184, equipado com motor Hart 1.5 L4T. E foi ao volante dele que Ayrton se classificou para o GP do Brasil no 16º lugar do grid. A pole-position, conquistada no dia anterior, era de Elio de Angelis, com a Lotus, com a marca de 1min28s392, com uma média de velocidade de 204,9 km/h. Já o tempo registrado por Senna foi de 1min33s525, 5s1 mais lento que o ponteiro, portanto.
O calor intenso do verão do Rio de Janeiro provocou muitas quebras naquele dia, e a estreia de Senna durou apenas oito voltas. Enquanto Michele Alboreto, de Ferrari, liderava a prova, depois de um início confuso, à frente de Niki Lauda, Derek Warwick, Nigel Mansell e Patrick Tambay, Ayrton, com o Toleman #19, entrava lentamente nos boxes.
O brasileiro foi o primeiro a abandonar a corrida, com problemas no turbo, quando estava em 16º, depois de ter conseguido brigar pelo 13º posto nas primeiras voltas.
A etapa carioca da F1 foi desgastante e longa. No fim, Alain Prost, o rei do Rio, fez jus ao apelido que mais tarde lhe deram, e venceu o primeiro GP daquele ano, no retorno à McLaren. Era apenas o décimo triunfo no Mundial do francês, que se tornaria ainda o maior rival de Senna na F1. Keke Rosberg cruzou a linha de chegada em segundo, enquanto De Angelis completou o pódio. Piquet também deixou a prova com problemas de motor.
A segunda prova daquele campeonato de estreia de Ayrton foi um pouco melhor. Ele largou em 13º e terminou na zona de pontos, com o sexto lugar na África do Sul. O resultado se repetiu na Bélgica, na terceira prova. Depois, a F1 desembarcou em San Marino, onde curiosamente Senna sequer conseguiu tempo suficiente para colocar o Toleman no grid.
Aí veio a corrida na França, e nova falha do turbo tirou Senna da disputa. A maré mudou em Monte Carlo. Foi pelo estreito e atrevido traçado do GP de Mônaco que Senna finalmente brilhou na F1. Depois de largar em nono, a chuva que desabou sobre o Principado provocou uma corrida cheia de acidentes.
Reconhecidamente talentoso no molhado, Senna veio recuperando posições até alcançar o segundo posto. Prost liderava, com grande vantagem. Mas a chuva aumentou, e a direção de prova decidiu encerrar a corrida com 31 voltas completas. Era o primeiro pódio de Senna na F1.
O calendário, então, levou os pilotos para o Canadá. Lá, Senna alcançou um sólido sétimo posto. Aí vieram duas provas em sequência nos EUA, Detroit e Dallas. Dois abandonos, um por acidente e outro por uma falha mecânica, respectivamente, ocorreram.
Na volta à Europa, Senna retomou o bom desempenho e conseguiu seu segundo pódio naquele ano. Foi o terceiro lugar em Brands Hatch, com vitória de Niki Lauda. Na reta final da temporada, viveu mais quatro provas desastrosas nos GPs da Alemanha, Áustria, Holanda e Europa, disputado em Nürburgring. Não completou nenhuma, devido a acidentes e problemas mecânicos.
Entretanto, o fim da temporada terminou de forma mais competitiva. No Estoril, palco da primeira vitória de Senna na F1 um ano mais tarde, o piloto obteve um novo pódio, novamente em terceiro. O triunfo foi de Alain Prost, que acabou perdendo o título de 84 para Niki Lauda por meio ponto.
Ayrton Senna competiu na F1 entre 1984 e 1994, defendendo quatro equipes ao todo. Foi tricampeão e morreu em consequência de um acidente durante o GP de San Marino, na pista de Ímola, há 20 anos.