Na Garagem: Piquet vence e Senna forma dobradinha em dia de festa em Jacarepaguá

Um dos momentos mais marcantes do Brasil na Fórmula 1 aconteceu há exatos 35 anos. Nelson Piquet venceu e viu Ayrton Senna terminar em segundo, para delírio do público em Jacarepaguá. No pódio, a cena icônica dos dois erguendo uma bandeira brasileira

A Fórmula 1 divulgou uma simulação de volta no mais novo circuito de rua da Fórmula 1, Jidá, na Arábia Saudita (Vídeo: Fórmula 1)

Quando se fala em Brasil na Fórmula 1, a era que primeiro vem à mente é a dos anos 1980: Nelson Piquet e Ayrton Senna brilhavam e eram candidatos constantes às vitórias. Juntos, os dois conseguiram seis títulos em período que se arrastou até o começo dos anos 1990. A cena mais icônica dos dois, e da história dos GPs do Brasil, aconteceu exatos 35 anos atrás: foi em um 23 de março, só que de 1986, que Piquet venceu com Senna em segundo para levar o autódromo de Jacarepaguá ao delírio.

O GP do Brasil era o primeiro da temporada 1986, ano de mudanças na Fórmula 1. Entre as equipes de ponta, a maior delas era a ida de Nelson Piquet da Brabham para a Williams. A equipe britânica, aliás, passava por momento difícil: o fundador Frank Williams ainda estava no hospital se recuperando do acidente de carro que o deixaria em uma cadeira de rodas para o resto da vida. A infelicidade, entretanto, não mudava a sensação de que os britânicos vinham em plena ascensão, com Nigel Mansell no outro carro.

Dito isso, o astro do treino classificatório foi outro. Ayrton Senna, em seu segundo ano de Lotus começou da melhor forma possível. Depois de ser atormentado por problemas de motor na primeira sessão classificatória, o carro se comportou bem melhor na segunda. O tempo de 1min25s501 era uma garantia: a pole-position do GP do Brasil era dele.

Nelson Piquet conseguiu resultado histórico há 35 anos (Foto: Reprodução)

“Eu honestamente não esperava que o carro reagisse da maneira que reagiu”, disse Senna em coletiva após a classificação. “Assim que eu fiz a curva 1 eu senti o carro no chão e com o motor muito melhor. Daí foi só continuar guiando sem cometer erros. Não errei nenhuma marcha e quando terminei a volta tinha certeza de que tinha feito um bom tempo, embora não soubesse que fora tão bom”, destacou.

O sábado promissor de um brasileiro contrastava com o frustrante de outro. Piquet, que terminou a sexta-feira como o mais rápido, bateu na classificação de sábado e não conseguiu acompanhar a evolução de Senna. Restou ser segundo e completar a dobradinha brasileira no grid de largada, isso em um dia que, de acordo com a Folha de S. Paulo da época, o piloto da Williams estava de “péssimo humor e sorrindo apenas para perguntas em inglês”.

Um brasileiro estava feliz, outro brasileiro estava triste. O público em casa, independente da preferência por um ou por outro, tinha motivos suficientes para estar empolgado com o que viria pela frente no domingo, 23 de março de 1986.

A largada foi agitada para os brasileiros. Piquet perdeu o segundo lugar para o companheiro Nigel Mansell, que chegou ao fim da reta oposta de Jacarepaguá já pensando em ultrapassar Senna. O britânico voltou a mostrar sua característica impaciência, tentando tomar a liderança na marra. Não deu: Nigel tocou a roda traseira de Ayrton ao fim da reta, perdendo controle e batendo para abandonar no ato. Mesmo que escrito por linhas tortas, os brasileiros seguiam em primeiro e segundo.

Ayrton Senna flertou com a vitória, mas acabou em segundo (Foto: Reprodução)

Era um bom começo para Ayrton, mas logo ficou claro: a Williams tinha um ritmo de corrida bem melhor que o da Lotus. Nelson manteve contato e, já na terceira volta, fez ultrapassagem para assumir a liderança e tomar controle da corrida. Sem Mansell, o maior adversário do dia, o então bicampeão tinha vida mais fácil.

Se a corrida fosse decidida puramente em ritmo de corrida, estava claro que Piquet levaria a melhor. Só que não seria simples assim: em um dia ensolarado e de temperatura acima dos 30°C no Rio de Janeiro, os pit-stops seriam necessários para todos.

Piquet abriu os trabalhos na volta 18, com Senna também pegando pneus novos na 21. Um problema começava a surgir na suposta festa brasileira: com a corrida durando 61 voltas, os pilotos da casa pareciam destinados a fazer duas paradas. Alain Prost, terceiro colocado, parecia capaz de fazer uma parada só após visitar os boxes na 26. O francês, aliás, já tinha voltado à pista à frente de Senna. Na 28, a torcida local pôde respirar aliviada: o motor da McLaren do francês começou a perder rendimento, forçando abandono na 30.

Sem Mansell e sem Prost, a dupla de brasileiros ficava com a faca e o queijo em suas respectivas mãos. Após mais uma rodada de pit-stops, com Piquet e Senna vindo respectivamente na 40 e na 41, a corrida estava essencialmente resolvida. Piquet venceu com 34s8 de vantagem sobre Senna, com Jacque Laffite completando o pódio pela Ligier.

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Nelson Piquet e Ayrton Senna se enfrentariam com maior frequência no fim dos anos 1980 (Foto: Reprodução)

O público no autódromo fez uma grande festa. Era apenas a terceira dobradinha de pilotos brasileiros na história da F1, a segunda em um GP do Brasil – a primeira foi em 1975, com José Carlos Pace e Emerson Fittipaldi. No pódio, uma cena que viraria capa de jornal no dia seguinte: Piquet e Senna segurando juntos uma bandeira brasileira, isso antes da rivalidade entre os dois esquentar para valer. Até porque o grande foco de Nelson era o companheiro de Williams, Mansell.

“O meu maior adversário entre os 26 pilotos que disputam o Mundial é Nigel Mansell. Foi um alívio quando ele saiu da corrida, pois a pista ficou livre. Como nossas paradas foram feitas nas voltas certas, tudo correu bem. Mas poderia ter corrido mal”, disse Piquet após a corrida.

Senna teve motivos para estar menos entusiasmado, vendo o ritmo do treino classificatório evaporar na corrida. “O bom é chegar em primeiro. Já esperávamos que quem viesse me ultrapassasse, como aconteceu com o Piquet. Ele era muito mais rápido que eu e, como Arnoux e Laffite não pareciam se aproximar, resolvi tirar o pé”, explicou o piloto da Lotus.

Apesar do começo brilhante, 1986 não seria o ano dos sonhos para nenhum dos dois brasileiros. Piquet lutou pelo título até o fim, mas viu Prost levar o caneco após uma reação surpreendente nas corridas finais. Senna, apesar de vencer duas corridas na temporada, já via claramente que a Lotus não tinha carro para lutar de verdade por título. Paciência. Com um campeão em 1987 e outro em 1988, ninguém teve motivos para reclamar muito.

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