Opinião GP: Pirelli coloca segurança dos pilotos em risco, mas equipes também têm culpa

Com os estouros dos pneus de Lewis Hamilton, Felipe Massa, Jean-Éric Vergne, entre outros, neste domingo (30), a fabricante italiana precisa fazer mudanças urgentes na borracha para garantir a segurança dos competidores e acalmar os ânimos no paddock

SÃO JOÃO, SANTO ANTONIO e SÃO PEDRO. O mês de junho, aqui no Brasil, é dedicado às festas juninas, onde crianças entram na brincadeira dançando quadrilha, tomando quentão e, claro, estourando bombinhas e rojões. Talvez a Pirelli não quisesse ficar de fora da festa e resolveu aproveitar o último dia do mês para também dar seus estouros. Aconteceu neste domingo (30), durante o GP da Inglaterra, quando Felipe Massa, Lewis Hamilton e diversos outros pilotos tiveram o pneu traseiro esquerdo furado e destruído por razões ainda não explicadas.

Brincadeira à parte, agora a fabricante italiana tem apenas três dias para pular a fogueira em que se encontra e evitar que o GP da Alemanha, marcado já para este fim de semana, também seja um fiasco. Dessa vez, a questão não é construir um pneu que dure mais ou menos voltas para que a corrida tenha mais ou menos paradas nos boxes em Nürburgring. O problema dessa vez é que os pilotos sentem que a segurança foi colocada em risco pela falha da borracha.

Felipe Massa teve pneu furado na décima volta da corrida (Foto: Getty Images)

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E um dos mais irritados após a corrida foi Felipe Massa. O brasileiro, que tinha chances de terminar no pódio após fazer uma grande largada, afirmou que a situação ficou "inaceitável", e que os pilotos dependiam dos poderes divinos para se manterem seguros durante toda a corrida. Rival na pista, Lewis Hamilton seguiu o piloto da Ferrari e cobrou modificações o quanto antes.

"É uma situação inaceitável. Fizemos o teste para desenvolver os pneus e melhorar essa situação, para essas coisas não acontecerem mais. Mas não fizeram nada. Isso pode levar a acidentes graves. Quando eu estava atrás do safety-car, pensei: só vão fazer alguma coisa quando alguém se machucar?", declarou.

Após a corrida a crise estava instaurada no paddock inglês, portanto. De um lado, os protagonistas do show criticavam abertamente, questionando a segurança dos pneus, cobrando respostas, quase implorando por uma solução imediata. Do outro lado, a Pirelli e a FIA. A primeira tentou manter a calma e falou em analisar os problemas antes de apontar o dedo. A entidade máxima, por sua vez, convocou a fornecedora para uma reunião ainda nesta semana.

Entre as equipes, os chefes já cogitam transformar o treino de novatos em um teste de pneus. Quer dizer, o preço do espetáculo atingiu um preço alto demais.

Victor Martins, editor-executivo do GRANDE PRÊMIO e da REVISTA WARMUP, ao citar a imagem da lateral do McLaren de Pérez todo avariado, corrobora com o fato de que a F1 está já comprometendo em demasia um fator primordial das competições do esporte a motor. "A imagem da McLaren de Pérez, um dos premiados com o estouro dos Pirelli, explica as consequências duras que estes compostos podem trazer à F1."
 

Sergio Pérez (Foto: Divulgação)
O diretor da Agência WARM UP e do GRANDE PRÊMIO, Flavio Gomes também concordou com os competidores. O jornalista disse que a segurança dos competidores sempre deve vir em primeiro lugar. "A situação dos pneus é inaceitável, insustentável, intragável, intolerável e insuportável", disse Gomes.

"Especialmente para quem está dentro de um carro de corrida que anda bem rápido. E não dá para ficar se jactando de uma F1 divertida se o preço para isso pode ser alguém se arrebentando de forma insolúvel", acrescentou.

Embora tenha endossado as críticas, Gomes fez questão de ressaltar que a Pirelli tem culpa no episódio deste fim de semana, mas algumas das equipes da F1 também são responsáveis pelo que aconteceu. "Depois do famoso teste de Barcelona com a Mercedes, me parece claro que a intenção da Pirelli não era exatamente ajudar alguma equipe. E, sim, propor alguma solução para algo que já estava ficando perigoso. Que foi proposta. No caso, usar kevlar na construção dos pneus. Mas algumas equipes não toparam. E, aí, foi o que vimos hoje", declarou.

Além de algumas equipes terem vetado as modificações na fabricação dos pneus ― notadamente aquelas que tinham um desempenho melhor na economia da borracha ―, outro aspecto é que a Pirelli fornece especificações de pressão e cambagem, mas as escuderias são livres para acertar o carro sem respeitar as sugestões.

Por isso, pode ser que determinado tipo de acerto tenha levado os compostos ao limite. Tanto é que, a partir do momento que as escuderias aumentaram a pressão dos pneus, apenas Sergio Pérez voltou a ter problema com a borracha. Mas, na verdade, não importa muito se as equipes forçaram ou não acerto do carro.

A segurança, evidentemente, precisa vir em primeiro lugar. E a maior prova de que ela foi ameaçada neste domingo é que o diretor de prova da F1, Charlie Whiting, admitiu que cogitou paralisar a prova com a bandeira vermelha para descobrir o que estava acontecendo com os pneus e evitar eventuais acidentes. Whiting, inclusive, viu perigo até para o trabalho dos fiscais de pista.

Os pneus da Pirelli foram bastante criticados neste domingo em Silverstone (Foto: Getty Images)

Talvez até seja desnecessário dizer neste momento que as alterações são urgentes, para garantir que todos os pilotos consigam chegar ao final da prova, independentemente de como os carros poupam a borracha. A questão do desempenho e do número de paradas agora já é outra história. E seria bom se tudo voltasse a ser disputado na pista, pois, mesmo com o episódio da explosão dos pneus, o GP da Inglaterra foi uma etapa bem emocionante e disputada.

"É possível que esse GP da Inglaterra tivesse sido tão legal quanto foi mesmo sem os pneus que se despedaçaram nos carros de Hamilton, Massa, Vergne e Pérez. Os dois primeiros seriam protagonistas de qualquer forma. Os dois últimos, bem menos. Lewis e Felipe, por conta do que aconteceu com sua borracha, tiveram seus resultados finais comprometidos. Um poderia ganhar a prova; o outro era forte candidato ao pódio", encerrou Gomes.
 

Opinião GP é o editorial semanal do GRANDE PRÊMIO que expressa a visão dos jornalistas do site sobre um assunto de destaque, uma corrida específica ou o apanhado do fim de semana de automobilismo.
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