Opinião GP: Por que 2024 é uma das maiores temporadas da história da F1

A Fórmula 1 simplesmente não tem do que se queixar. Depois de um dos piores anos em 2023 — o domínio de Max Verstappen nada tem a ver com isso, importante dizer —, o campeonato atual é um bálsamo. A imprevisibilidade foi responsável por capítulos dos mais divertidos, dramáticos e emocionantes, bem como a dura e excelente jornada de Verstappen rumo ao tetra, agora confirmado após um excêntrico GP de Las Vegas. 2024 já é uma das maiores temporadas da história mais recente deste esporte

OITO MESES ATRÁS, quando Max Verstappen venceu o GP do Bahrein com mais de 20s de vantagem para o concorrente mais próximo, o companheiro de equipe, diga-se, a sensação era de que a Fórmula 1 estava prestes a acompanhar uma segunda rodada de domínio pleno do então tricampeão. E as primeiras etapas, aliás, confirmaram essa impressão. Zero culpa do neerlandês nisso, claro, mas também não dava para esconder o incômodo com a ausência da concorrência. Mas aí a F1 viveu uma inesperada correção no curso das coisas. O jogo virou e transformou o campeonato, entregando ao público a melhor temporada do regulamento do efeito solo e uma das maiores da história recente.

É justo dizer que parte desse sucesso se deve, sim, ao mais novo tetracampeão do mundo. Verstappen construiu um campeonato gigantesco em 2024 — certamente, o título mais difícil entre os que possui, ainda que pese aquele primeiro, em condições extremas e contra um heptacampeão. Acontece que, neste ano, o piloto de 27 anos precisou lidar com situações muito diferentes e se saiu bem quase sempre. Quer dizer, a forma como atravessou a maior crise já vivida pela equipe dos energéticos na F1 foi notável. Mesmo quando o clima bélico se instaurou, a partir de um escândalo envolvendo o chefe Christian Horner, Max soube como se proteger da tensão interna e focar apenas na pista. Não à toa, venceu quatro das cinco provas iniciais. E sete das dez primeiras do Mundial — quando, inclusive, já não tinha mais o melhor carro do grid.

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Porque teve isso também. A história que o neerlandês vai contar sobre esse ano também passa muito pelo fato de que a Red Bull sofreu uma queda de rendimento inexplicável. De uma hora para outra, o time austríaco deixou de entregar um carro dominante e se viu em apuros, enquanto os adversários, enfim, davam sinal de vida. Portanto, Max precisou também mudar a tática e entender que o título viria de maneira diferente. Até por isso, Verstappen explorou mais seu repertório e colecionou atuações brilhantes, como no Canadá. Mesmo tendo um RB20 instável, o piloto #1 tirou proveito dos erros e trapalhadas dos rivais para vencer.

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O mesmo aconteceu na Espanha, quando sequer tomou conhecimento de Lando Norris, que já despontava ali como principal postulante na briga pela taça. Na sequência, passou dez corridas longe dos triunfos, algumas vezes fora até mesmo do pódio — tudo em função da perda de performance do carro taurino, ao mesmo tempo em que McLaren, Ferrari e Mercedes despertavam do limbo para ganhar provas. Ainda assim, Max era capaz de somar pontos constantemente e, em diversas ocasiões, até mais que seus oponentes.

No meio do caminho, o neerlandês também viveu momentos controversos, em que se recusava a ceder. Acabou por se envolver em acidentes, como da Áustria com Norris, e em defesas polêmicas, como nos EUA e no México. Inclusive, a Federação Internacional de Automobilismo precisou mudar regras e endureceu as punições por causa do comportamento do #1 da Red Bull.

Mas Verstappen soube driblar até isso com maestria. E ainda entregou uma das maiores atuações de um piloto na temporada antes de findar o campeonato. A chuva em Interlagos proporcionou o palco perfeito. Saindo de 17º, com o rival na pole, o neerlandês barbarizou e ali, de fato, encerrou qualquer questão sobre o título. Foi uma das exibições mais contundentes da história deste esporte, é importante destacar. 3 semanas depois, em Las Vegas, o filho de Jos finalmente arrematou o tetra, igualando Sebastian Vettel e Alain Prost. Para se ter uma ideia do feito, agora está atrás apenas de Juan Manuel Fangio, Lewis Hamilton e Michael Schumacher.

Agora, a imprevisibilidade tem um peso enorme na tese de que 2024 é mesmo maior do que parece. O fato é que a maturidade do regulamento enfim permitiu o avanço técnico da maioria das equipes e, com isso, a disputa se tornou aberta. E foi melhor do que o esperado, porque além de promover uma campanha com mais ganhadores diferentes desde 2012, também estabeleceu até aqui uma segunda estatística: pela primeira vez na história, a F1 viu sete pilotos vencerem mais de uma vez ao longo do ano. Certamente, ninguém apostou nisso lá no Bahrein…

E tudo começa com a McLaren, que melhor interpretou as nuances das regras e as áreas cinzentas. O pacote que mudou o roteiro da equipe papaia, introduzido em Miami, foi o primeiro de muitos acertos em sequência. A mutação do MCL38 foi notável e serviu para colocar o time na briga. A ressalva aqui é: os ingleses poderiam ter feito muito mais, poderiam ter endurecido e complicado a vida de Verstappen de verdade, mas simplesmente não estavam prontos, como Norris confessou. Este talvez seja o ponto negativo do ano, que viu tanto Norris quanto Oscar Piastri vencerem pela primeira vez na F1.

Porque o carro laranja se mostrou tão bom e versátil, que o próprio Max disse após o tetra, que teria vencido nas condições de Lando. Uma humilhação, sem dúvida, mas que rendeu manchetes e análises diversas na imprensa, do público e levantou um debate dos mais interessantes: como o piloto ainda faz muita diferença, mesmo em uma F1 tão sofisticada e altamente tecnológica. 2024 provou que ter o melhor carro nem sempre é garantia de domínio e vitórias. E que, para conquistar um título na F1, é preciso lançar mão de tudo. Tudo!

A Ferrari e a Mercedes também tentaram fincar suas bandeiras, mas pecaram pela irregularidade. Mesmo assim, foram responsáveis por momentos épicos, como a vitória de Charles Leclerc em Mônaco e em Monza, além das dobradinhas, sendo a mais inusitada conquistada em Austin, nos EUA. Carlos Sainz também andou pelo degrau mais alto do pódio, em desempenhos sem erros, como México e Austrália. Já pelo lado do time alemão, o triunfo catártico de Hamilton em Silverstone vai seguir por muito tempo no imaginário do fã. George Russell também teve atuações gigantes, como a conquista dominante deste domingo (24) em Las Vegas, além de um golpe de mestre na Bélgica — a desclassificação depois acabou ofuscando a bela performance.

George Russell: faltava o inglês para completar a lista daqueles que venceram mais de uma vez em 2024. O triunfo veio em Las Vegas em uma das atuações mais impressionantes de sua carreira (Foto: AFP)

E como se não bastasse, a temporada também reservou outros capítulos de choro, suor e lágrimas, como o pódio duplo da Alpine em São Paulo, a estreia de Oliver Bearman pela Ferrari e a chegada meteórica de Franco Colapinto, sem contar no anúncio de Gabriel Bortoleto, que assinou com a Sauber para 2025, promovendo o retorno do Brasil ao grid.

Ainda restam duas etapas para o fim da temporada, mas se o campeonato terminasse agora, diante desse alucinante GP de Las Vegas e deste ano estrondoso, a Fórmula 1 poderia sair de férias satisfeita. De fato, não há do que se queixar.

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