Opinião GP: Pérez tem vitória merecida que expõe irritante condescendência da F1
O GP de Sakhir testemunhou uma vitória redentora neste domingo. Sergio Pérez brilhou com uma pilotagem exuberante para vencer pela primeira vez na Fórmula 1. Mas o triunfo vem no momento em que o mexicano corre o risco de ficar fora do grid e revela o lado mais sombrio da maior das categorias do automobilismo
A FÓRMULA 1 PODE SER especialmente atroz. Dura. Desumana até. Tem um estranho modo de acabar com sonhos, de distorcer caminhos e não reconhecer os fortes em alguns momentos. E não, não estamos falando de George Russell e da maneira cruel com que a vitória lhe foi tirada das mãos em Sakhir. Estamos falando, sim, de Sergio Pérez, o vencedor da etapa do anel externo árabe. O emocionante primeiro triunfo foi construído a partir de uma pilotagem assombrosa, combativa e precisa. Ainda que a Mercedes tenha dado alguma contribuição, foi a persistência que levou ‘Checo’ ao lugar de honra do pódio. Só que a conquista surge exatamente no momento em que o mexicano lida com a possibilidade real de ficar fora do grid. E enfrenta esse cenário com as armas certas, mas que não têm qualquer efeito.
Logo depois de cruzar a linha de chegada e pular nos braços de sua equipe, Pérez se disse merecidamente “em paz consigo mesmo”. Mas também admitiu que “o acontece agora não está mais em minhas mãos”. De fato, elas estão bem atadas. Mesmo em uma temporada absurdamente forte, muito provavelmente a melhor de sua carreira de dez anos na principal categoria do esporte a motor, Sergio tem pouco espaço de manobra e nada depende realmente dele. O piloto que carrega o #11 no carro rosa foi preterido na Racing Point, que vai passar a se chamar Aston Martin a partir do ano que vem. A marca decidiu trazer Sebastian Vettel e o peso de seus quatro títulos para o início dessa nova fase no campeonato. Atitude correta, sem dúvida. A questão é que o outro lugar do time não é negociável e pertence a Lance Stroll, filho do dono da esquadra. É aí que começa o drama de Pérez.
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Quer dizer, nem toda a performance valiosa que vem apresentando neste ano, além de um currículo importante, com pódios e atuações sólidas com equipes médias, são capazes de garantir um posto competitivo. Ainda, é inconcebível que, nesta altura da carreira, Sergio precise dar um passo atrás, como fez acertadamente há algumas temporadas, quando a aventura na McLaren deu muito errado. Naquele ponto da vida, Pérez ainda estava em desenvolvimento. Hoje, é diferente. E neste momento, são só dois caminhos: ou a vaga na Red Bull ou o ano sabático.
A oportunidade com os energéticos vem sendo ventilada há algumas semanas. É de conhecimento público que Alex Albon está com seu lugar ameaçado. Entende-se que houve alguma conversa entre o chefão Christian Horner e ‘Checo’, com a participação do poderoso consultor, Helmut Marko. Acontece que a equipe austríaca só vai anunciar uma decisão após o fim da temporada. E a tendência é que opte por uma solução caseira.
Mas Sergio age certo ao esperar pelos taurinos, só que também é igualmente correto e corajoso se preparar para ficar fora, sem se submeter a qualquer cockpit e a qualquer preço. Pérez, acima de tudo, valoriza sua história e reputação. Com maestria e desempenho, o mexicano apagou completamente a imagem de piloto pagante do início de sua trajetória. Provou do que é feito, enfrentou dramas, mas também foi muito bem-sucedido, salvou uma equipe e agora vive o lado mais sombrio da F1, não por culpa sua.
Pérez levou 190 GPs até a primeira vitória, é verdade. Mas a forma como conquistou o triunfo apenas laureou essa espera. Foi mais do que merecido. Todos os seus pontos fortes estavam lá: a astúcia na largada, a agressividade nas ultrapassagens durante a recuperação, o cuidado com os pneus e a combatividade. Por isso, é impossível ignorar o fato de que a Fórmula 1 está prestes a perder um dos fortes. E perder para uma condescendência irritante que é aceita sem questionamentos, justificada pelo “sempre foi assim”.
É claro que ninguém desconhece o peso dos aportes financeiros e o quanto isso move todo o negócio. Seria ingênuo até. Mas também não é possível fechar os olhos para aberrações como Nicholas Latifi ou Nikita Mapezin, que vai estrear no próximo ano, entre outros. A questão é: até quando mais será suportável se contentar com tão pouco?
A Fórmula 1 precisa ser difícil, quase inalcançável, mas acaba que o sarrafo parece baixo demais para determinados elementos. É uma falha grave. Porque é assim que grandes histórias ficam pelo caminho e é assim que se compromete o futuro.
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