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Fórmula 1

Opinião GP: Verdade está restabelecida: Hamilton ruma sem sustos para hepta (e octa)

A vitória na Hungria apenas ratifica o que já tinha sido vislumbrado na Áustria: o título da F1 já tem dono e é de Lewis Hamilton. O inglês faz miséria com essa Mercedes excelente e não tem adversários, de fato. Além da aula na pista, ainda ensina fora dela

Hamilton celebra vitória na Hungria, a oitava da carreira no circuito magiar (Foto: AFP)

Hamilton celebra vitória na Hungria, a oitava da carreira no circuito magiar (Foto: AFP)

 

DE NOVO, LEWIS HAMILTON deu uma aula na Fórmula 1. Várias, na verdade. Mas comecemos pela mais evidente. O piloto de 35 anos vive o auge técnico de sua carreira há algum tempo, mas o que exibe em 2020 é maior. Hamilton vai além do excelente carro que guia. E olha que o W11 feito pela Mercedes já é considerado o melhor modelo produzido em Brackley. Só que, muitas vezes, ocupar o cockpit do carro mais rápido do grid pode ser um fardo e pode também minimizar os resultados. Acontece que Lewis está reescrevendo essa história. Nas mãos dele, o carro preto não é só superior, mas imbatível. E, sim, anda nos trilhos.

A classificação com pista molhada na semana passada foi o exemplo mais recente do quanto o hexacampeão domina a máquina. O W11 fez tudo que ele quis naquele traçado encharcado. E Hamilton não cometeu erro algum naquele dia e o 1s2 que meteu em cima de um valente Max Verstappen apenas corrobora o quanto Lewis é melhor que o carro que guia. Sete dias depois, a Fórmula 1 foi parar na Hungria. Dá para dizer o britânico gosta e se dá bem no apertado Hungaroring, mas também é bem verdade dizer que nada disso garante o sucesso. Afinal, trata-se de um dos circuitos mais ardilosos da F1. Mas parece que aí que os melhores se destacam.

Já de cara, na sexta-feira, deu para perceber o abismo que há entre o conjunto Mercedes-Hamilton e o restante do grid, incluindo o outro piloto da esquadra alemã, Valtteri Bottas, que precisou de um pneu mais rápido para se aproximar do inglês. A confiança era tanta que, com chuva, Lewis sequer foi à pista no treino da tarde. Inteligente, poupou equipamento e pneus. No sábado, não deu qualquer chance a Bottas para conquistar a 90ª pole da carreira – os números já falam por si próprios. Parecia quase correr sozinho, tamanha maestria. “Preciso me beliscar, a ficha não cai. Incrível”, foi o que disse após chegar aos pits, no sábado. É uma boa resposta para aqueles que julgam fácil o seu trabalho.

“Estou honrado por trabalhar com esse grupo de pessoas. Valtteri [Bottas] não deixa nem um pouco fácil para mim. Exige minha perfeição”, completou.

Hamilton saiu da pole e comandou com tranquilidade o GP da Hungria. Em apenas três voltas, já tinha mais de 8s para o segundo colocado. Imprimiu um ritmo forte para se manter líder, cuidou dos pneus e não abriu a guarda em nenhum momento. Foi uma corrida sem sustos, como parece ser a própria temporada, não por sua culpa.

Mas é um fato: 2020 é o campeonato em que Lewis não tem adversários. Ainda que guie o mesmo carro, Bottas não tem estofo suficiente para encarar esse Hamilton. E Verstappen, embora insolente, não tem uma máquina capaz de ajudá-lo. A Ferrari naufragou e a réplica da Mercedes ainda precisa de muito arroz e feijão. Mas se não encontra concorrência real, o inglês tem, sim, um rival a bater: Michael Schumacher.

E isso não é pouco.

Em seu tempo, o alemão foi espetacular. Ganhou dois campeonatos com uma equipe média e depois partiu para o maior feito de sua carreira, quando ajudou a tirar a Ferrari de uma fila de títulos que já durava 21 anos. O que Schumacher fez naquele fim de década de 90 e início dos anos 2000 foi sem precedentes.

É claro que aquele grupo técnico, a força do então chefe Jean Todt e apoio incondicional de Luca di Montezemelo foram fundamentais, mas o talento de Michael foi decisivo, um pouco como acontece agora na Mercedes. A genialidade de Lewis vem sendo preponderante para o sucesso. Ninguém traduzi melhor a excelência da Mercedes como ele. Mais ou menos, o que o próprio heptacampeão fez em seus dias de glória a bordo do mítico carro vermelho da Ferrari.

Lewis Hamilton luta para igualar os números de Michael Schumacher (Foto: Ferrari)

Por isso, não é nenhuma loucura pensar que o grande rival é mesmo Schumacher e seus fabulosos números. É certo dizer que Hamilton já conquistou uma parte importante, até em menos tempo que o alemão, mas vitórias e títulos é o que importam. E Lewis está muito, muito perto. Está a cinco vitórias de igualar Schumacher e falta só uma taça para o hepta.

Parece uma questão de tempo, apenas. E, sim, a conquista do sétimo campeonato será em 2020 e sem drama, um pouco como foi com o alemão. O octa vem 2021 se assim ele quiser. Lewis não renovou seu contrato com a Mercedes, mas deve fazê-lo em breve. Se for esse caso e dentro de uma temporada de regras congeladas, não há razão alguma para não acreditar em novos recordes, pois não há sinais de queda de motivação ou envelhecimento.

E ao superar aquele que é considerado o piloto mais vencedor da história, Hamilton se tornará o maior. Também, vai seguir dominando o esporte porque sabe viver a vida fora dele, onde trava batalhas ainda mais longas e intensas.

Hamilton se ajoelha em protesto rápido da F1 antes da largada na Hungria. Inglês reclamou da indiferença (Foto: AFP)

O fim de semana húngaro só não foi tão tranquilo porque Hamilton teve um desgosto: o tempo mínimo que teve para protestar antes da corrida. Se não fosse de domínio público a informação de que o inglês chegou até a conversar em particular com os pilotos que se recusaram a se ajoelhar, explicando a importância do ato, parece que a manifestação antirracista tinha perdido seu efeito. Houve poucos que repetissem o gesto iniciado na Áustria e outros sequer apareceram.

Horas depois da chegada, Hamilton foi na jugular de Romain Grosjean, presidente da GPDA, a Associação dos Pilotos. O piloto da Haas, de fato, indica estar mais incomodado com o quanto Lewis ganha do que com a organização de seus pares em prol de algo socialmente maior. De quebra, Hamilton atacou a F1 pelo pouco tempo e pela exposição: a categoria já havia falhado em mostrar os pilotos antes da largada do GP da Estíria.

Hamilton já sabe que tem o campeonato no bolso por sua excelência e pela garantia do que tira de si. A meta agora é tirar dos outros o melhor do que eles podem ser como gente e instigar o meio que habita a ser de fato mais habitável.