Opinião GP: Verstappen × Leclerc garante rivalidade que F1 precisava há tempos

O GP da Inglaterra testemunhou o presente e o futuro da F1 se transformarem em uma coisa só. De um lado, Lewis Hamilton, pentacampeão, excepcional e quase imbatível. De outro, aquilo que parecia ser algo apenas para os próximos anos, mas que, na verdade, já é uma realidade: a rivalidade entre Max Verstappen e Charles Leclerc. O Mundial está bem servido e tem sorte, porque já começa a se desenhar uma briga verdadeira e que há tempos era necessária

MAIS DO QUE a vitória de Lewis Hamilton em casa ou o erro (mais um) de Sebastian Vettel, o GP da Inglaterra revelou algo que há tempos a F1 precisava. A intensa e quase brutal disputa entre Max Verstappen e Charles Leclerc em Silverstone foi muito além de uma simples revanche, foi a confirmação que o Mundial está diante de uma sensacional rivalidade. Enfim.
 
Verstappen e Leclerc já assumem a condição de principais nomes da nova geração. E com méritos vão tomar o bastão de Lewis Hamilton em algum momento nas próximas temporadas. Mas o que a etapa inglesa mostrou mesmo foi a coragem, o arrojo e a extrema agressividade de ambos. Foi quase uma versão moderna da épica briga entre René Arnoux e Gilles Villeneuve, 40 anos depois. Foi de tirar o fôlego e querer pular do sofá. A F1 não poderia desejar nada melhor do que isso, especialmente em uma temporada de domínio absoluto de uma única equipe/piloto e de corridas sem nenhuma graça. 
 
É bem verdade que o espetáculo que levantou Silverstone só foi possível por conta do aconteceu 15 dias antes. O GP da Áustria pode ser considerado um marco na história da dupla. No Red Bull Ring, Leclerc caminhava tranquilo para a primeira vitória na carreira, quando foi surpreendido pela chegada de Verstappen, que vinha de uma excepcional prova de recuperação. Lançando mão da agressividade que lhe é peculiar, Max foi para cima do monegasco, que se defendeu num primeiro momento, mas acabou sucumbindo à pressão ao dar espaço ao rival nas voltas finais. O holandês tomou a ponta sem dó e partiu para o triunfo diante de uma torcida enlouquecida. 
Verstappen ganha a posição de Leclerc no GP da Áustria (Foto: Reprodução)

Naquele dia também houve a ameaça de uma punição. Os comissários da FIA (Federação Internacional de Automobilismo) levaram três horas para decidir algo sobre o lance. No fim, prevaleceu o esporte. Diante do que a F1 vinha sendo, com sanções por cada pequeno erro e uma espécie de tosa a comportamentos mais ousados, Charles, de fato, esperava que o adversário fosse castigado, como havia sido Vettel no Canadá – embora as situações fossem bem diferentes. Mas algo mudou ali – tanto para a F1 quanto para o jovem ferrarista. A derrota foi rapidamente absorvida. 

 
Muito bem. Duas semanas depois, lá estava Verstappen em seu encalço. Só que desta vez a história seria diferente. De novo, Max foi para cima de Leclerc. De início, parecia que a ultrapassagem era uma questão de tempo, dada a velocidade do piloto da Red Bull na primeira parte da corrida, mas Charles decidiu que não. A defesa da posição foi de encher os olhos, notável. Frio e preciso, o ferrarista cercou e anulou absolutamente todas as investidas de Max, que chegou até a ficar à frente em um dado momento, tendo neutralizada a manobra em seguida. Foi inacreditável. Verstappen colocava o carro de todos os lados possíveis, jogava pesado e tomava o troco. Todos os famosos pontos do traçado inglês, como a reta Hangar e o trecho que vai da Vale a Club, fora a sequência entre a Maggotts e Becketts, foram brindados com a disputa. Max mergulhava para tentar surpreender o rival, chegou a escapar do traçado e não desistia. Não houve um único erro de ambos nessa fase. O que diz muito sobre a dupla.
Aí veio a hora do pit-stop.  A Red Bull trabalhou melhor que a Ferrari, e Max saiu junto com Charles, tomando a ponta no fim do pit-lane. Na sequência, Verstappen cometeu um erro ao alargar a curva e lá estava o ferrarista na frente de novo. Recomeçava a disputa, tão brutal como da primeira vez. Inevitável pensar que ambos não reviviam ali as brigas do início da carreira. O GP inglês ainda teria um terceiro ato. Após a intervenção do safety-car, a Red Bull novamente trabalhou melhor que a Ferrari ao chamar o #33 logo de cara. Leclerc foi aos boxes apenas na volta seguinte e, quando voltou à pista, estava atrás do rival, o que o deixou furioso. Quando a corrida teve o reinício, as posições se inverteram. E aí Max levou a melhor, sem antes de ter de encarar uma luta acirrada que chegou a colocá-lo para fora da pista. 
 
A bela briga cessou aí, mas a missão havia sido cumprida. Verstappen conseguiu escapar do adversário, mas acabou acertado por Vettel e perdeu a chance de pódio, que foi parar nas mãos de Leclerc. Mas isso pouco importa diante do que ambos protagonizaram. E do que significou para a F1.
Charles Leclerc e Max Verstappen duelam roda a roda em Silverstone (Foto: F1/Twitter)
Há tempos, a maior das categorias buscava um cenário assim. O início da era híbrida ensaiou algo com Hamilton e Nico Rosberg – aliás a disputa de domingo lembrou bem aquele GP do Bahrein de 2014 –, mas o alemão deixou cedo a disputa. Depois, houve uma tentativa entre os dois maiores nomes da década: Hamilton e Vettel. Mas o ferrarista jamais esteve em condição (mental) de encarar o inglês. Agora se abre uma nova chance. 
 
Empurrados pelo histórico de brigas que remete ao kart, Verstappen e Leclerc têm os ingredientes certos para encantar. De um lado, há esse extraordinário holandês de personalidade forte. Precoce, Max estreou com apenas 17 anos e mudou a F1. É o piloto mais agressivo do grid e dono de um estilo de pilotagem arrojado e intolerante. Chega a ser insolente a forma como se impõe. Max ainda vive uma temporada das mais sólidas, sem erros, quase um veterano. E a sensação que fica é que só precisa mesmo de um carro mais forte para, enfim, entrar na briga de fato. Charles, por sua vez, sabe ser duro, mas tem uma personalidade mais dócil, que casa bem com a estrutura onde está. Teve uma ascensão rápida e soube lidar com maestria com a pressão de andar no mais famoso carro do grid. Não se engane com o jeito de menino, o rapaz aprende rápido e é implacável. 
 

 
Não há mais a dizer sobre os dois do que o que foi visto em Silverstone. Apenas deixe-os correr, deixe-os reeditar rivalidades como as de Niki Lauda e James Hunt, Nelson Piquet e Nigel Mansell, Ayrton Senna e Alain Prost, Hamilton e Fernando Alonso. É assim que se cativa o fã, sem 'mimimi' ou apatia. 
 
E é importante que a F1 também reconheça esse momento. É de aplaudir a atitude da direção de prova, que deixou o espetáculo seguir seu rumo. Pois revelou não só o futuro, mas assegurou também o presente.

A 11ª etapa da temporada 2019 do Mundial de F1 acontece daqui a duas semanas com o GP da Alemanha, no circuito de Hockenheim. O GRANDE PRÊMIO acompanha tudo AO VIVO e em TEMPO REAL.

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