Retrospectiva 2021: Alpine sobe nível no fim, bate ‘AlphaGasly’ e belisca top-5

A Alpine decepcionou mais uma vez pelo nível de investimento e pela qualidade que têm seus pilotos, mas ao menos evitou uma derrota maior ao superar o 'exército de 1 homem só' da AlphaTauri, completamente dependente de Pierre Gasly

A RETROSPECTIVA 2021 da Fórmula 1 agora trata do pelotão intermediário. Mais especificamente, de uma das boas brigas entre equipes no campeonato deste ano: a batalha pelo quinto posto, o último do top-5. No fim das contas, a Alpine venceu a AlphaTauri, mas talvez tenha até menos motivos para sorrir do que a rival.

Começando pelo lado vencedor, pois. Já vinda de uma quinta colocação em 2020, quando ainda se chamava Renault, a Alpine entrou, mais uma vez, com muita expectativa em 2021. Os motivos de sempre são óbvios: orçamento alto, tecnologia boa para carro e motor, o apoio da França toda por trás. Agora adicione aí as badaladas chegadas de Fernando Alonso e Davide Brivio e, pronto, temos aí um time que, antes da pré-temporada, até para top-3 era cogitado.

É que a então Renault já tinha superado a Ferrari em 2020, em um ano horrível dos italianos. Em tese, era segurar a rival e partir para o ataque em McLaren e Aston Martin, dois times que não tinham ficado muito distantes no ano passado. Com Alonso, que já havia ajudado a transformar a equipe em potência no início dos anos 2000, a coisa parecia que poderia engrenar. Ainda não engrenou.

Fernando Alonso e Esteban Ocon não tiveram culpa alguma nos resultados da Alpine (Foto: AFP)

E é bom que se diga que Alonso não teve nada a ver com o insucesso dos franceses. Muito pelo contrário. Ainda que tenha tido um começo meio devagar, fora de forma e coisa do tipo, o veterano espanhol empolgou no GP do Azerbaijão e só cresceu desde então, com direito a pódio no Catar e atuação defensiva absurda na Hungria diante de Lewis Hamilton, o que meio que assegurou a vitória de Esteban Ocon por lá.

Sim, teve isso! A Alpine venceu uma corrida! No que certamente foi o ponto alto do time desde a volta ao grid da F1, os franceses contaram com um dia de graça de Ocon e um strike causado por Valtteri Bottas, que tirou quase todos os postulantes à vitória da parada. Ainda assim, foi muito mais por Ocon e até por Alonso do que pelo carro em si.

Com um projeto ambicioso, um design que era até meio revolucionário em relação às rivais, a Alpine quase naufragou. Os dois pódios escondem um pouco isso, mas os pontos deixam claro: foram 181 em 2020, contra 155 em 2021, mesmo com cinco corridas a mais. Uma queda considerável, sim.

Esteban Ocon celebra vitória em Hungaroring, a primeira de um motor Renault desde 2014 (Foto: Florion Goga/AFP)

Brivio, de tanta história com Valentino Rossi na MotoGP e peça fundamental na volta da Suzuki às glórias em duas rodas, sofreu no ano de adaptação no comando do time e, olhando para o futuro, parece até arriscado bancar que vai seguir à frente do projeto por mais algum tempo. Otmar Szafnauer, de muitos anos de serviços prestados em Force India, Racing Point e Aston Martin, até chegou a ser bem ventilado para a vaga do italiano.

Além dos pódios, é claro, o stint final da Alpine fez a diferença na briga com a AlphaTauri que, no fim, foi a única equipe que ficou perto em desempenho. Mercedes e Red Bull brigaram pelo título, enquanto Ferrari e McLaren trocaram golpes pelo top-3 e a Aston Martin, coitada, naufragou completamente, ficando entre Alpine/AlphaTauri e o pelotão que equivaleria à zona do rebaixamento caso a F1 fosse um campeonato de futebol.

E muito desse stint se deve ao fato da Alpine ter tido dois pilotos consistentes o ano todo, o que, de forma alguma, aconteceu com a AlphaTauri. É quase que unanimidade apontar Pierre Gasly como o melhor dos quatro que guiaram carros de Alpine e AlphaTauri em 2021, talvez até um dos três melhores do grid inteiro na última temporada, mas, como já dizia o ditado: uma andorinha só não faz verão.

Pierre Gasly fez pódio, muitos pontos, mas sozinho não fez milagre (Foto: AlphaTauri)

No caso do Mundial de Construtores da F1, isso é ainda mais real. Se já tinha carregado o time em 2020, pontuando mais que o dobro de Daniil Kvyat, Pierre subiu de nível em 2021. No fim das contas, Gasly foi responsável por absurdos 77,5% dos pontos da equipe, anotando 110 contra 32 de Yuki Tsunoda.

Em outras palavras: Tsunoda fez menos pontos do que os dois pilotos da Aston Martin, que somaram, juntos, 77 pontos. Gasly, sozinho, fez 110. A comparação é totalmente desigual e mostra o motivo do francês ter colocado o time no bolo com a Alpine, já que terminou bem à frente de Alonso e Ocon e quase ainda conseguiu beliscar o oitavo lugar de um oscilante Daniel Ricciardo.

Absolutamente dependente de Gasly, a AlphaTauri quase ainda conseguiu bater a Alpine. E talvez tivesse conseguido, não cometesse repetidos erros de estratégia, principalmente. O mais decisivo dos casos foi justamente o Catar, palco do pódio de Alonso. É que Pierre largou em segundo e chegou em 11º sem cometer basicamente erro algum na corrida. Foi simplesmente falta de ritmo do carro e uma tática que ninguém conseguiu compreender, equivocada desde a escolha dos pneus no Q2.

Yuki Tsunoda em 2022: ou vai, ou racha (Foto: AlphaTauri)

Para 2022, mais uma vez, a tendência não é de que esses dois times estejam num mesmo patamar. Em ano de regulamento totalmente novo, os holofotes, de novo, se voltam para o que a Alpine pode fazer. É, possivelmente, a grande chance da equipe desde o meio da década de 2000, a oportunidade de voltar a ser protagonista.

Para a AlphaTauri, a impressão de que Gasly já está muito maior do que o time, é verdade, mas também a expectativa para ver o tamanho da curva de crescimento que Tsunoda, fatalmente, apresentará. Pode ser, no fim das contas, o ano que dirá se o japonês terá ou não vida longa na F1. E para onde o francês poderá rumar para trilhar sonhos mais ousados.

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