Retrospectiva 2023: Aston Martin decola com genial Alonso, mas faltou camisa contra ‘G4’

A Aston Martin foi na temporada 2023 da Fórmula 1 a equipe mediana que aposta tudo numa grande estrela para incomodar as adversárias mais tradicionais. Movida por um surpreendente Fernando Alonso, lutou até onde deu, mas à mercê de um piloto só, nada pôde fazer diante do progresso natural das rivais mais experientes no jogo. Mesmo assim, a imagem que fica é de que é possível grandes avanços mesmo sem mudanças de regulamento

Se ainda na pré-temporada da temporada 2023 alguém dissesse que a Aston Martin chegaria à sexta corrida do ano com chances reais de vitória, provavelmente seria taxado de louco. Como a sétima colocada do campeonato anterior daria um salto tão significativo sem que houvesse uma mudança brusca de regulamento? Em tese, poucas foram as equipes que alcançaram progressos tão notáveis na história num curto espaço de tempo, portanto, do lado de cá, as expectativas eram baixas.

Só que do lado de lá, a aposta foi alta. No movimento mais surpreendente após a não tão inesperada aposentadoria de Sebastian Vettel na silly season de 2022, eis que Fernando Alonso opta por deixar a Alpine para embarcar num projeto totalmente desconhecido. Tal qual um craque consagrado ainda decisivo, porém que tem consciência de que o fim da carreira está muito mais próximo, não teve medo de ousar. O que mais, afinal, teria a perder?

De repente, a mediana Aston Martin percebeu que poderia ser grande. Já na reta final do último ano, quando conseguiu marcar pontos em seis das sete últimas corridas e empatar com a Alfa Romeo na classificação, a equipe de Silverstone deu sinais de que havia, sim, algum potencial a ser desbloqueado — essa, aliás, uma das frases prontas preferidas de muitos chefes de equipes no grid. Mas no caso da esquadra comandada por Mike Krack, o mantra se aplicou de alguma forma.

Na primeira metade da temporada 2023, a Aston Martin se colocou como o time de menor tradição que abusa do direito de incomodar as equipes graúdas e muito mais poderosas. Se desde o Bahrein ficou claro que a Red Bull comandaria o campeonato, Ferrari e Mercedes, de início, tiveram de reprogramar. Na primeira corrida do ano, e na segunda, e na terceira, Fernando Alonso reservou um lugar cativo no pódio, provando que do alto dos seus quase 42 anos à época, ainda era um piloto do primeiro escalão.

Fernando Alonso foi heroico aos 42 anos com a Aston Martin (Foto: AFP)

Mas seria realmente suficiente para o espanhol sonhar com o tão perseguido tricampeonato? Alonso, na verdade, foi o menor, ou melhor, não foi problema algum na ousada meta traçada por Lawrence Stroll de vencer — o mandatário, inclusive, não tardou em questionar o estafe quando isso aconteceria.

“Eu adoraria dizer que a vitória é uma possibilidade nesta temporada. Obviamente, temos alguns circuitos em que não vemos necessariamente a mesma ordem de forças. Em algumas vezes, os carros têm características particulares que podem se destacar. Em Mônaco, por exemplo. Pistas assim. Mas, honestamente, acho que somos realistas quanto à nossa situação e onde estamos no momento. Nosso foco está apenas em maximizar a performance do carro no menor espaço de tempo possível. Vamos ver que tipo de recompensa isso nos traz”, declarou em maio Dan Fallows, diretor-técnico e ex-Red Bull.

Mônaco, aliás, era visto como a grande chance. Já na classificação, Alonso fez mágica e obrigou Max Verstappen a ser ainda mais sobrenatural para conquistar a pole-position. Mesmo assim, a primeira fila num circuito travado mais a possibilidade de chuva escancarou uma chance efetiva do sonho se tornar realidade. Só que a corrida realizada em Monte Carlo começou a quebrar o encanto da Cinderella. Frente a um time coeso e que dá aulas de estratégia corrida após corrida, uma chamada equivocada de boxes no momento da chuva colocou os pingos nos is.

“Quando ele [Fernando] entrou [para o pit-stop], vimos que tinha alguma chuva, mas, para nós, seria uma coisa rápida. Estava forte na parte de trás do circuito, mas aqui [no pit-lane] ainda não chovia. Nós decidimos colocar os médios, pois não queríamos parar outra vez e achamos que secaria muito rápido. Mas assim que o Fernando saiu, começou um temporal aqui. Isso não estava no nosso radar. No fim das contas, uma parada a mais que não estava planejada, mas isso não mudou nada”, explicou na ocasião o chefe, Krack.

A falta de ousadia pesou na temporada. Foi em Mônaco a última vez que a Aston Martin se viu na vice-liderança do Mundial de Construtores. Por mais que ainda apanhasse do seu projeto, a Mercedes passou à frente na etapa seguinte, na Espanha, para de lá não sair mais. Depois, na Itália, foi a vez da Ferrari deixar o time de Silverstone para trás, após ótima exibição diante da apaixonada torcida italiana. E por último, a sumida, mas não menos ‘galáctica’ McLaren. Ainda parafraseando com futebol, faltou camisa para os ingleses na hora da decisão.

Dois fatores, na verdade, fizeram a diferença contra a Aston Martin em 2023. Além de não ter acompanhado o progresso das rivais mais experientes, por mais que dinheiro nunca fosse um problema, ficou totalmente à mercê de um único piloto. Com um contrato que sequer consta o tempo de permanência unicamente por ser filho do proprietário, Lance Stroll é uma peça que simplesmente não se aplica a quem quer ser grande. A comparação com Alonso é injusta, fato, mas no momento em que o time mais precisou ao menos de pontos, o canadense sequer avançava ao Q2 das classificações. Ao todo, foram dez corridas em sequência largando do décimo para baixo — algumas na última fila.

Lance Stroll pouco acrescentou à Aston Martin em 2023 (Foto: Aston Martin)

Stroll, na realidade, é um problema que seria muito fácil de ser resolvido numa Fórmula 1 que não costuma ter pena de queimar pilotos. Alguns nomes também tiveram passagens sofríveis e duraram muito menos, mas ao invés de pensar em quem poderia agregar ao lado de Fernando para buscar de vez o status de time grande, a Aston Martin só faz passar a mão na cabeça do #18.

“Estamos todos ajudando a ele, e eu também estou fazendo meu melhor. Da minha parte, como estou em todas as reuniões e escuto que ele está com dificuldade em alguma coisa, tento lembrar o que podia ter me ajudado no passado ou alguma coisa no setup, qualquer coisa. Estamos trabalhando muito próximos para encontrar o caminho certo para a equipe e tentar marcar pontos com os dois carros. Creio que ele foi extremamente azarado com algumas situações”, disse Alonso no final de semana do GP dos Estados Unidos.

É claro que comparado ao que foi 2022, a Aston Martin só tem a comemorar. A equipe saltou duas posições na tabela, anotou oito pódios (todos com Alonso), desafiou as grandes e mostrou que é possível evoluções consideráveis mesmo dentro de um regulamento estável. Só que diante do cenário que, definitivamente, não vai mudar, o que vier daqui para frente é lucro.

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