Sem aprender com erros do passado, F1 insiste em punir pilotos por ousadia nas pistas

O GP do Bahrein poderia ser só alegria para o público, mas terminou com um debate chato sobre limites de pista na F1. A direção de prova já deveria ter entendido que o que atrai os fãs não é punição de 5s, mas, sim, pilotos lutando com tudo nas pistas

Vídeo mostra Hamilton excedendo os limites de pista repetidas vezes na curva 4 no Bahrein (Vídeo: Reprodução)

Uma nova temporada, um novo debate sobre limites de pista. A Fórmula 1 2021 começou exatamente do mesmo jeito que as temporadas anteriores, com regras não muito claras para o público e sensação de que os comissários são inconsistentes na tomada de decisões. O GP do Bahrein e o consequente drama envolvendo Lewis Hamilton e Max Verstappen fala por si. Com a primeira corrida já no passado, é hora de falar sobre as próximas 22: a direção de prova da F1 precisa tomar cuidado para, ao aplicar suas regras, não prejudicar as disputas por posição.

A verdade é que, por mais que o GP do Bahrein tenha sido ótimo, a discussão sobre Verstappen ter cometido uma infração ou não foi uma mancha para a F1. Poderia ser uma semana inteira falando sobre dois excelentes pilotos competindo de igual para igual, mas virou a mesma ladainha sobre a postura punitiva dos comissários. Imagens mostrando Hamilton excedendo limites de pista 29 vezes na curva 4 não ajudaram o público a digerir a punição a Verstappen por fazer ultrapassagem fora da pista exatamente no mesmo trecho. Some a isso a manobra considerada legal de Esteban Ocon sobre Yuki Tsunoda, também indo além do traçado, e já temos uma confusão instalada.

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Max Verstappen ultrapassou os limites da curva 4 para superar Lewis Hamilton (Foto: Reprodução)

O debate que temos em 2021 é parecido com o que tivemos em 2019. Dois anos atrás, o GP da Áustria terminou com Verstappen empurrando Leclerc para fora da pista para tomar a liderança e vencer. Se a direção de prova seguisse o regulamento ao pé da letra, Max receberia 5s de punição assim como Sebastian Vettel tinha recebido no GP do Canadá de três semanas antes, aquele em que Lewis Hamilton herdou a vitória. Só que algo mudou no Red Bull Ring: talvez por conta do enorme descontentamento do público com a punição ao alemão, o holandês escapou do mesmo destino. O resultado de pista foi mantido, com Max vencendo e a FIA mostrando uma postura mais liberal quando o assunto é briga por posição.

Pouca gente reclamou. Talvez só os fãs da Ferrari. Os pilotos precisavam apenas usar o bom senso na hora de ultrapassar e, a menos que fizessem algo realmente mais sério, seriam punidos. O efeito disso foi bom: limites de pista seguiam causando problemas em treinos livres e de classificação, com tempos deletados, mas ao longo de 2020 nenhuma corrida foi diretamente decidida por causa disso. 2021 veio com a promessa de que até mesmo o problema das voltas deletadas seria resolvido, e tudo parecia lindo.

O GP do Bahrein foi um choque de realidade, digamos. Mesmo com uma abordagem bastante liberal, vide a direção de prova deixando Hamilton exceder limites de pista 29 vezes, ficou claro que ainda temos problemas. A lição parece simples: se a FIA quiser liberar geral, de verdade, ultrapassar por fora da pista não deveria ser um grande problema. Verstappen ir alguns centímetros mais para fora ou mais para dentro não deveria ser o fator determinante para saber se ele é o vencedor legítimo da corrida. Ainda mais sabendo que o passeio pela área de escape sujou os pneus colaborou para a perda de rendimento nas voltas finais.

MAX VERSTAPPEN; LEWIS HAMILTON; F1;
Max Verstappen e Lewis Hamilton: os grandes protagonistas de uma luta controversa no Bahrein (Foto: Divulgação/Twitter)

A direção de prova, como de costume, apostou todas suas fichas na tomada consistente de decisões. Em outras palavras, faria tudo de novo se algo parecido acontecesse em Ímola, dentro de duas semanas. É uma notícia preocupante para o fã de F1: o público não quer pilotos com medo de ir para cima, e, sim, pilotos que se arriscam para conseguir o resultado que precisam. Em um campeonato que promete ser decidido entre dois pilotos ousados, todo mundo sai perdendo.

Claro que não é o fim do mundo, todavia. Da mesma forma que dois anos atrás a direção de prova da F1 entendeu que punir todo mundo só piora o espetáculo, ainda dá tempo de Michael Masi e sua trupe entenderem o que é necessário para 2021 ser um ano memorável. É só deixar na mão dos pilotos, que Hamilton e Verstappen vão garantir um espetáculo para todo mundo.

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