O limite da curva 4: como direção de prova confundiu pilotos durante GP do Bahrein

Os dois protagonistas do GP do Bahrein do último domingo e envolvidos diretamente na luta pela vitória falaram sobre a polêmica que decidiu os rumos da corrida. Assim como os chefes das respectivas equipes, Lewis Hamilton e Max Verstappen pediram maior clareza ao diretor de prova da F1, Michael Masi, sobre determinações como os limites da pista

Hamilton vence na estratégia e pega Verstappen: assista como foi o GP do Bahrein (Vídeo: GRANDE PRÊMIO com Reuters)

É correto mudar, durante a corrida, uma determinação que pode mudar os rumos da disputa e influenciar na luta pela vitória? Este é o grande debate da Fórmula 1 na esteira do empolgante GP do Bahrein, prova que abriu a temporada 2021 no último domingo (28) no circuito de Sakhir. A polêmica toda está sobre os limites de pista da curva 4: nos treinos livres e na classificação, a direção de prova deletou os tempos de quem colocou as quatro rodas fora da faixa que delimitou o setor. No domingo, porém, Michael Masi adotou uma postura mais permissiva na primeira parte da prova. Depois, voltou atrás.

Nas determinações da direção de prova para a corrida do fim de semana, diz o artigo 21.2, que os limites de pista na saída da curva 4 não seriam monitorados durante a corrida no que diz respeito ao tempo de volta, uma vez que os limites que definiram o setor eram a grama artificial e a brita naquele local. Entretanto, o documento cita o artigo 27.3, que diz respeito ao fato de o piloto obter vantagem ao ultrapassar e defender posição na pista, não se relacionando, portanto, com o tempo de volta.

Uma vez que ficou claro que estava permitido passar os limites da pista na curva 4, com exceção de tentativas de ultrapassagem ou pilotagem defensiva, vários pilotos, desde o começo da corrida, andaram além do que era o limite naquele setor, entre eles Lewis Hamilton, que passava pelo trecho muito além do limite na comparação com os outros oponentes, e seguidas vezes.

Ao acompanhar as manobras do heptacampeão pela câmera onboard, a Red Bull avisou Max Verstappen via rádio para fazer o mesmo. O próprio holandês questionou a orientação da equipe: “O quanto isso é legal?”.

No entanto, durante a volta 36, Hamilton foi avisado pela Mercedes para observar os limites da pista. O heptacampeão questionou a instrução da equipe e citou a determinação da direção de prova antes da corrida. A Mercedes o instruiu a pilotar no setor como se fosse durante a classificação — onde os tempos são deletados em caso de infração.

A Red Bull seguiu a adversária e pediu que Verstappen seguisse os limites da pista. O holandês assim o fez, embora andasse um pouco além da zebra na comparação com Hamilton.

A mudança de abordagem da direção de prova foi criticada pelos dois grandes protagonistas do GP do Bahrein. Na conferência de imprensa depois da cerimônia de premiação no pódio, o vencedor do domingo no Bahrein disse que não entendeu a determinação de Michael Masi durante a corrida.

MAX VERSTAPPEN; LEWIS HAMILTON; GP DO BAHREIN; F1
Max Verstappen ultrapassou os limites da curva 4 para superar Lewis Hamilton. O holandês devolveu a posição seis curvas depois (Foto: Reprodução)

“Acho que isso é muito confuso. Há muitas pistas onde não temos a permissão de colocar as quatro rodas fora da zebra vermelha e branca, mas neste fim de semana, e particularmente naquela curva, isso não foi permitido a nós na sexta-feira. Você poderia colocar duas rodas fora da linha, mas não passar da zebra vermelha e branca. Mas, durante a corrida, isso foi permitido, e era isso o que estava escrito”, disse.

“Então, quando entramos na corrida, isso foi permitido. É uma curva muito diferente quando você tem de fazer de uma ou outra forma. E você vai mais rápido quando vai para fora [dos limites]. Mas onde está o limite quando você faz a ultrapassagem? Você não tem permissão de ultrapassar fora dos limites da pista”, lembrou.

“No meio da corrida, eles basicamente mudaram de ideia e, de repente, você não podia mais andar fora da faixa branca. O que foi bom para mim porque me ajudou a cuidar dos pneus, na verdade. Então eu sou grato”, ironizou.

Verstappen também se mostrou bastante confuso com a mudança durante a corrida. “Durante a corrida, o que me foi dito é que os pilotos estavam escapando [saindo dos limites], por isso me disseram para fazer o mesmo porque aí ganharia tempo de volta. E assim o fiz. A certa altura, me pediram para não fazer mais. Então, eu não sei”.

“Na classificação, claro, isso não era permitido, seu tempo de volta era deletado. E então eu não sei como chegamos ao ponto em que as pessoas faziam isso sem serem alertadas. Mas no fim das contas, quando estava lutando contra Lewis, saí dos limites da pista. Acho que então o diretor de prova veio muito rapidamente para devolver a posição, e foi exatamente o que eu fiz”, lamentou Max, que depois não conseguiu mais alcançar Hamilton e cruzou em segundo lugar o GP do Bahrein.

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O que diz a direção de prova

Ainda no domingo, Masi explicou a infração cometida por Verstappen. O diretor de provas deixou claro que nada mudou nas suas determinações e que não considerou o fato de Max ter excedido os limites da pista na curva 4 em si, mas entendeu que o holandês ganhou “vantagem geral duradoura” ao passar Hamilton daquela forma e, por isso, teve de devolver a posição.

“No que diz respeito à tolerância dada a quem ultrapassasse os limites da pista durante a corrida, isso foi mencionado muito claramente no briefing e nas notas de que isso não seria monitorado no que dissesse respeito a tempos de volta, mas isso vai ser sempre monitorado de acordo com os regulamentos desportivos, de forma que uma vantagem geral duradoura não deve ser obtida”, disse.

MAX VERSTAPPEN; LEWIS HAMILTON; GP DO BAHREIN; F1
A direção de prova entendeu que Verstappen obteve vantagem ao passar Hamilton fora dos limites de pista da curva 4 (Foto: Reprodução)

Durante todo o fim de semana, os limites de pista na curva 4 tiveram atenção especial por parte dos comissários, que deletaram tempos de vários pilotos que excederam os limites naquele trecho. Para a corrida, contudo, Masi reiterou que só haveria algum tipo de infração no caso de uma ultrapassagem além dos limites da curva.

“Tínhamos duas pessoas que estavam monitorando aquela área em todos os carros a cada volta. E praticamente todos os carros, exceto um, fizeram a coisa certa dentro do que esperávamos em uma sequência geral. Houve um carro que, ocasionalmente, passava um pouquinho do ponto ou escapava, mas não era uma coisa constante”, comentou.

Em entrevista à Sky Sports britânica pouco depois do fim da corrida, Toto Wolff, chefe da Mercedes, criticou a falta de clareza sobre as determinações da direção de prova a respeito.

“Estou tão confuso quanto você. No começo da corrida, foi dito que os limites de pista na Curva 4 não seriam sancionados e então, na corrida, de repente ouvimos que se você continuasse a passar do ponto, isso poderia ser visto como uma vantagem e poderia causar uma punição em potencial. E aí, no fim das contas, aquela decisão realmente nos fez ganhar a corrida”, declarou.

“O Max, na definição do diretor de prova, passou bastante [do limite] e obteve uma vantagem, ele teve de devolver a posição e isso salvou nossa vitória. Precisamos ser consistentes nas mensagens que estão sendo dadas. Elas precisam ser claras, precisam ser sagradas e não um romance de Shakespeare que dá margem para interpretação”, bradou o austríaco.

Christian Horner, chefe da Red Bull, definiu a ambiguidade da regra como uma zona cinzenta e seguiu o mesmo discurso do adversário.

“A mensagem que chegou para os pilotos foi que os limites de pista na curva 4 não seriam punidos durante a corrida. Ron [Meadows, diretor-esportivo da Mercedes] e eu conversamos com Michael durante a corrida. Michael se referiu à anotação da seguinte forma: ‘Sim, mas desde que [um piloto] não obtenha vantagem’”, comentou.

“Acho que isso precisa ser simples para que todos possam entender e que não precisem levar o documento no carro para lê-lo e lembrar do que pode e do que não pode”, complementou o britânico.

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