‘Strollgate’: as dúvidas e certezas do estranho caso de Covid-19

O estranho caso do caso de Covid-19 de Lance Stroll pode até parecer inofensivo, já que o piloto está curado, mas levanta sérias questões sobre o protocolo da FIA e da Fórmula 1 com relação ao novo coronavírus

A semana de GP de Portugal contou com uma primeira grande notícia na última terça-feira: Lance Stroll, em perfis oficiais nas redes sociais, confirmou por conta própria que contraiu a Covid-19 e se recuperou. Uma surpresa, já que Stroll ficou fora do GP de Eifel, em Nürburgring, dez dias antes, com sintomas gripais que a equipe garantia não se tratarem de Covid-19. Agora, o canadense está pronto para correr no GP de Portugal do próximo fim de semana, mas o estranho caso está longe de terminar.

Lance teve a ausência do GP de Eifel confirmada na manhã do sábado, perto do horário do treino de classificação, quando as dores estomacais e sintomas de gripe se provaram fortes demais para que corresse. A Racing Point correu para confirmar que não se tratava do novo coronavírus e seu piloto testara negativo – o teste em questão foi realizado na terça-feira anterior à corrida. Entretanto, num comunicado revelado ontem, a equipe disse que o teste positivo veio ainda no domingo, 11 de outubro, dia da corrida em Nürburgring, Stroll testou positivo para a Covid-19, já num teste conduzido na casa do piloto, na Suíça. Após ter a participação descartada, Stroll voltou para casa, ainda no sábado, em voo privado.

O caso veio a público apenas uma semana e meia depois, com Stroll já curado e pronto para correr em Portimão. Não ficou claro, porém, se a Fórmula 1 foi avisada do caso neste ínterim.

As informações oferecidas por piloto, equipe e o combo FIA/Fórmula 1, entretanto, levantam algumas importantes interrogações que precisam ser respondidas ao largo dos próximos dias.

As questões que ficam do caso Stroll (Foto: Racing Point)

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‘Strollgate’, uma linha do tempo: da indisposição ao segredo.

Confira algumas questões:

  • Quando Stroll foi diagnosticado com Covid-19?

No domingo do GP de Eifel em um teste feito em casa, na Suíça, e, portanto, fora do autódromo de Nürburgring, que recebeu o GP de Eifel.

  • Quem fez o exame, a FIA/F1, a Racing Point ou um médico particular?

É um ponto que não está claro. A entidade máxima do automobilismo declarou que foram feitos 1.506 testes entre a sexta, 9 de outubro, e a quinta-feira, 15. Informou que houve oito casos positivos, sem dar nomes a eles. Stroll havia passado por um teste anterior no dia 6, terça-feira, em sua chegada à Alemanha.

Mas no comunicado, há uma menção de que “alinhado com o protocolo de teste estabelecido pela Racing Point, sob o qual todos os membros são testados quando voltam de um GP, Lance fez um teste de Covid-19 em casa e recebeu o resultado positivo no dia seguinte”. Indica, assim, que a equipe conduziu os testes.

  • Por que é importante saber quem realizou o teste?

Pela completa omissão do caso e pela evidência de que o protocolo da Fórmula 1 é falho. Se FIA/F1 realizaram os testes, deveriam ser absolutamente claras de que, dentre aqueles oito infectados, um era Lance — e, provavelmente, outro era seu pai, Lawrence, também diagnosticado com a doença. Se foi a Racing Point, a equipe ao menos foi irresponsável ao garantir que os sintomas de gripe e diarreia de Stroll jamais se tratariam de coronavírus. Se foi o piloto através de um médico ou pessoa responsável, é importante saber em que momento ele comunicou Racing Point e FIA/F1 de seu caso positivo.

  • Stroll passou por consulta no sábado e não fez o teste?

Sim, mas o médico disse que não se tratavam de sintomas de Covid-19, portanto sem necessidade de novo teste. Assim, a FIA não foi informada da natureza do mal-estar, o que ajuda a reforçar a tese de que a entidade e a Fórmula 1 não foram informadas do caso positivo.

  • Que questões o caso traz?

Primeiramente, que FIA e Fórmula 1 não estão sendo transparentes o suficiente na divulgação dos casos positivos do teste, seja ela a autora do teste ou apenas conhecedora do caso positivo. Isso leva à pergunta: por que não divulgou o caso positivo?

Além disso, os casos positivos entre pilotos da Fórmula 1 só acontecem na Racing Point por coincidência e apenas o protocolo deles está falho ou o procedimento da FIA/F1 é insuficiente na realização de testes a cada cinco dias? Que garantias que FIA e F1 dão ao paddock e ao público de que o coronavírus está e/ou será controlado justamente em um momento de recrudescimento dos casos na Europa?

  • Mas há alguma chance de FIA e Fórmula 1 terem sido pegas de surpresa?

Sim. A nota que a categoria colocou em seu site deixa essa dúvida: ela replica um comunicado da Racing Point e não diz em nenhum momento que tinha conhecimento do caso. Até porque isso gera uma outra questão: até que ponto a FIA permite que a equipe decida quem e quando testar ou não testar e quando não precisa informar?

  • Mesmo assim, Stroll vai correr o GP de Portugal?

As leis de Portugal estabelecem que um piloto tem de ficar isolado por 14 dias a partir do momento da primeira manifestação de sintomas. Depois do prazo, se o piloto não mais estiver infectado, é liberado para frequentar a ‘bolha’ da Fórmula 1 e correr. Stroll deixou a F1 no sábado e, portanto, há exatos 10 dias, mas, segundo a Racing Point, os sintomas vinham antes disso.

  • Quando Stroll foi infectado?

Não é possível saber. Stroll já vinha se sentindo mal já no fim de semana do GP da Rússia. Passaram-se dias até que, na terça-feira anterior ao GP de Eifel, o piloto passasse por um novo teste, que deu negativo. Como o teste é impreciso, pode ter dado falso negativo. Ou as dores que Stroll sentia em Sóchi não tenham relação alguma com coronavírus. De qualquer forma, os sintomas da Covid-19 não costumam aparecer imediatamente. O piloto começou a se sentir mal no sábado, tanto que Nico Hülkenberg foi chamado às pressas para substituí-lo.

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  • Isso significa que Stroll entrou no paddock da Fórmula 1 provavelmente infectado?

Sim, e sendo verdade, denota um claríssimo erro de FIA e Fórmula 1 em não realizarem testes na quinta-feira, quando todo mundo estava na pista de Nürburgring.

  • Stroll passou por consulta no sábado e não fez o teste?

Sim, mas o médico disse que não se tratavam de sintomas de Covid-19, portanto sem necessidade de novo teste. Assim, a FIA não foi informada da natureza do mal-estar, o que ajuda a reforçar a tese de que a entidade e a Fórmula 1 não foram informadas do caso positivo.

A corrida do próximo fim de semana, em Portimão, marca o retorno do GP de Portugal ao calendário da Fórmula 1 após 24 anos.

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