Trágico acidente de Bianchi no Japão e grave crise financeira afundam Marussia e Caterham na F1 em 2014

As duas nanicas da F1, Marussia e Caterham, se viram mergulhadas em uma séria crise financeira em 2014. A primeira ainda viveu um drama com o acidente de Jules Bianchi no Japão, enquanto a segunda precisou até de uma vaquinha para correr. Confira a sexta parte da RETROSPECTIVA F1 2014

A Marussia e a Caterham, as duas nanicas do grid da F1, sucumbiram em 2014. Selecionados no processo da FIA em 2009, os dois times perderam fôlego nesta temporada, devido especialmente a uma grave crise financeira. A reta final do campeonato foi trilhada de forma melancólica por ambas.

A equipe anglo-russa ainda viveu um drama antes de se retirar de vez da disputa. O trágico acidente de Jules Bianchi no GP do Japão afetou profundamente o time. Na parte final da corrida em Suzuka e sob forte chuva, o francês perdeu o controle do carro na curva 7 devido a aquaplanagem e, depois de escapar do traçado, acabou se chocando contra um trator que fazia a retirada da Sauber de Adrian Sutil, que saíra no mesmo ponto, mas na volta anterior.

Bianchi ficou gravemente ferido e foi levado imediatamente para um hospital próximo à pista nipônica, onde se constatou a lesão axonal difusa (LAD). O piloto de 25 anos permaneceu por sete semanas internado no Japão antes de ser transferido para a cidade de Nice, na França, onde permanece em estado estável, mas crítico. 

Jules Bianchi permanece em estado crítico, mas estável (Foto: Marussia)
Mais tarde, a FIA ainda conduziu uma investigação sobre as causas do acidente. O relatório indiciou que uma série de fatores levou à batida, apontou falha no carro da Marussia e sugeriu mudanças no regulamento. Mas colocou o piloto como principal responsável.

Depois dos acontecimentos no circuito japonês, a Marussia ainda disputou o GP seguinte, na Rússia, e aí afundou de vez, perdendo todo o restante da temporada. Foi preciso uma intervenção judicial para tentar encontrar um comprador, o que acabou não acontecendo. O triste fim da esquadra acabou sendo o leilão de seus equipamentos. 

 
Pelos lados de Leafield, a crise financeira chegou muito antes. Em julho, praticamente às vésperas do GP de Silverstone, Tony Fernandes, fundador da Caterham, decidiu se desfazer da equipe e a vendeu para um grupo de investidores suíços e do Oriente Médio, por meio do intermédio do ex-dirigente de times na F1, Colin Kolles. 
 
Só que os novos proprietários não conseguiram tocar a esquadra e, na parte final da temporada, também se viram em um beco sem saída, se ausentando também das corridas em Austin e em Interlagos, antepenúltima e penúltima etapas do calendário, respectivamente. A Justiça inglesa foi acionada, e o time foi colocado sob a administração legal. 
 
Por meio de uma ‘vaquinha’ pela internet, a Caterham ainda conseguiu alinhar seus dois carros no grid do derradeiro GP de Abu Dhabi, com o estreante Will Stevens e Kamui Kobayashi. Agora, a participação da equipe para o próximo ano ainda está cercada de dúvidas, já que não existe comprador. 
Caterham ainda é dúvida (Foto: AP)
Enfim, os pontos
 
O ano de 2014 da Marussia também começou às voltas com a adaptação ao novo regulamento, especialmente dentro da adoção do motor V6 turbo. Depois da saída da Cosworth, a equipe firmou acordo técnico com a Ferrari. 
 
A unidade de força italiana não priorizou a potência, mas se mostrou confiável ao longo do campeonato, apresentando poucos problemas. Mesmo assim, Jules Bianchi e Max Chilton tiveram de ter paciência na pré-temporada, com os contratempos iniciais do MR03. 
 
Também como era de se esperar, a Marussia lutou basicamente no pelotão do fundo, mas ambos os pilotos se mostraram até que muito regulares. Entre os GPs da Austrália e da Espanha, a equipe ficou sem completar apenas duas etapas, ambas com o francês, em Melbourne e em Sepang. 
 
Mas aí veio o grande dia. Nas ruas de Monte Carlo e somente em sua 24ª prova na F1, Bianchi se tornou o 326º piloto a pontuar no Mundial, dando ao time russo seus primeiros dois pontos na categoria máxima do automobilismo mundial.
 
Largando na 21ª colocação, Bianchi teve uma ótima atuação e nem mesmo uma punição de cinco segundos, por ter alinhado no grid na posição errada foi capaz de retirar Jules do top-10. O piloto cruzou a linha de chegada na nona posição naquele domingo no Principado.
Jules Bianchi somou os primeiros pontos da Marussia em Mônaco (Foto: Marussia)
Carruagem virou abóbora
 
Apesar da apresentação segura do gaulês, a história não se repetiu mais. Na sequência, veio o GP do Canadá. Em Montreal, Chilton e Bianchi acabaram batendo um no outro em uma disputa ainda na primeira volta da corrida. 
 
O inglês escorregou na entrada da chicane da pista Gilles Villeneuve e acertou a traseira do francês, que se chocou com violência contra o muro. Também foi o primeiro abandono de Max em 26 corridas na carreira na F1.

Nas provas seguintes, os dois pilotos trataram de voltar à consistência de antes e completaram todas as etapas entre a Áustria e a Bélgica, mas longe da zona de pontos. Aliás, foi em Spa que a Marussia deu o primeiro sinal de que havia algo errado. 

 
Às vésperas do GP belga, a equipe decidiu colocar o reserva Alexander Rossi para correr no lugar de Chilton,“por questões contratuais”. A verdade é que a esquadra procurava novos investidores. 
 
Max chegou a dizer que havia cedido voluntariamente seu lugar para que a Marussia pudesse vender sua vaga. Só que o caso não parou por aí. No dia seguinte, time e piloto voltaram atrás. Conclusão: Chilton permaneceu com seu cockpit assegurado, enquanto o norte-americano teve de se contentar com a primeira sessão de treinos livres. Na corrida, o britânico foi o 16º, enquanto Bianchi abandonou por problemas de câmbio. 
 
Depois disso, entre Itália e Cingapura, apenas um abandono, o de Max em Monza. Aí veio o triste GP do Japão e acidente terrível de Bianchi na parte final da corrida. Ali começou de fato o calvário da Marussia. Na etapa seguinte, na Rússia, o time decidiu largar só com Chilton, que sequer completou a prova. Teve uma falha de suspensão. O novo circuito de Sochi viu a última corrida da equipe na F1.
 

As imagens do acidente de Jules Bianchi
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Torcedor registra momento do acidente com Bianchi

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O fim
 
As três semanas que separam a etapa russa da corrida em Austin foram agitadas. A Marussia expôs a grave crise financeira que atravessa ao perder os GPs dos EUA e de Interlagos. Neste tempo, passou para uma administração legal, que não conseguiu encontrar um comprador. Assim, o time também ficou de fora da prova em Abu Dhabi. 
 
A pá de cal veio no fim de novembro, quando foi anunciado que os equipamentos da equipe seriam leiloados para o pagamento de dívidas. A venda das peças aconteceu na última semana e encerrou, portanto, a vida da Marussia na F1, na melhor temporada com os primeiros pontos e a nona colocação entre os Construtores. 
 
Em três anos de história após comprar o time Virgin de Richard Branson, a Marussia usou motores Cosworth e Ferrari, mas sem qualquer diferença real de desempenho. As dificuldades em se manter no grid sempre se sobrepuseram aos resultados.
A Caterham viveu um ano complicado (Foto: AP)
Dias difíceis
 
Assim como a demais equipes empurradas pelos motores da Renault, a Caterham também enfrentou problemas com a unidade de força francesa na pré-temporada e teve dificuldades para desenvolver o CT03, que em 2014 começou nas mãos do estreante Marcus Ericsson e de Kamui Kobayashi. 
 
Os contratempos se refletiram na primeira prova do ano, na Austrália, em que a confiabilidade falhou. Nenhum dos dois pilotos completou a corrida em Melbourne. O sueco teve um problema de pressão de óleo, enquanto o japonês se envolveu em um acidente com Felipe Massa logo nos primeiros metros depois da largada. Kobayashi disse depois que houve uma falha nos freios. O nipônico acertou Felipe em cheio na primeira curva do circuito. Na prova seguinte, em Sepang, os dois terminaram, mas longe dos pontos. No Bahrein, os problemas voltaram. Ericsson abandonou com vazamento de óleo. 
Andre Lotterer correu em Spa-Francorchamps (Foto: Beto Issa)
Depois, aos trancos e barrancos, a dupla foi sendo capaz de terminar uma prova aqui e ali, mas os contratempos continuavam. 
 
Na Espanha, foram os freios de Kobayashi de novo. Depois, no Canadá, veio a falha de motor no carro do sueco. Kobayashi teve um problema com a suspensão traseira. Na Inglaterra, também foi um dano na suspensão no CT05 de Marcus, mas causada por uma pancada na zebra da curva seis. Na tumultuada prova em Hungaroring, Ericsson rodou, enquanto Kamui teve um problema no sistema de alimentação.
Christijan Albers foi quem assumiu primeiro o comando da nova Caterham (Foto: Getty Images)
Neste meio tempo, um pouco antes do GP em Silverstone, Tony Fernandes, fundador da Caterham, decidiu vendê-la. E o fez para o um grupo de investidores suíços e do Oriente Médio, sob a tutela de Colin Kolles, que já chefiou diversas equipes na F1. De cara, o romeno entrou como conselheiro e o comando do time passou para as mãos do ex-piloto, Christijan Albers. O holandês, entretanto, ficou pouco tempo no cargo — apenas dois meses. Alegando motivos pessoais, Albers deixou o posto para Manfredi Ravetto. 
 
Quando a F1 voltou das férias em agosto para o GP da Bélgica, a nova cúpula havia decidido colocar o piloto da Audi no Mundial de Endurance, André Lotterer, para correr no lugar de Kobayashi. O alemão foi melhor que Ericsson no grid, mas sua corrida durou pouco. O piloto encerrou a participação em Spa-Francorchamps por uma falha da unidade de força. 
 
Na sequência, Kobayashi retornou ao cockpit e não foi mais substituído, embora a equipe tenha optado por confirmar a presença dele corrida a corrida. Os problemas permaneciam, até que o calendário chegou na etapa russa. Em Sochi, a Caterham levantou dúvidas sobre seus equipamentos, ao chamar Kamui aos boxes antes do fim da prova, para poupar as peças. Rumores na Europa falavam que a esquadra estava a beira do fim e que sequer tinha peças de reposição. 
 
A crise ficou ainda mais nítida quando o time decidiu se ausentar das etapas seguintes, EUA e Brasil. Aliás, para Interlagos, a esquadra havia conversado com Rubens Barrichello. O brasileiro confirmou à REVISTA WARM UP o convite. A empreitada, como se sabe, não vingou.
 
A equipe só retornou mesmo ao grid em Abu Dhabi, graças a uma vaquinha virtual. Kobayashi e o novato Will Stevens conduziram os carros verdes em Yas Marina. Ericsson, que já havia acertado sua vida para 2015 com a Sauber, ficou de fora. 
 
O campeonato terminou para a Caterham sem pontos, na 11ª posição. 
Tony Fernandes vendeu a Caterham em julho passado (Foto: Getty Images)
O imbróglio extra 
 
Além das dificuldades técnicas na pista e dos poucos resultados, a Caterham ainda se envolveu em uma tumultuada pendenga financeira na segunda parte do Mundial, o que, de fato, levou a equipe ao buraco.

Em outubro, a equipe verde passou oficialmente para o comando de administradores legais, depois de uma intensa semana de discussões entre o antigo dono e os compradores. O grupo de investimentos Engavest, que adquiriu o time, reclamou que não recebeu legalmente de Tony Fernandes o comando da Caterham. 

 
O empresário malaio rebateu e disse que, ao acertar a venda da escuderia colocou como condições que os compradores quitassem as dúvidas com os credores e pagassem os salários dos funcionários — tanto os débitos pré-existentes quanto os posteriores. Os investidores negaram. Diante do impasse, a justiça teve de agir. 
 
Assim, sob a gestão judicial, a Caterham passou a ser chefiada por Finbarr O’Connell. O administrador tentou negociar o time, mas não obteve sucesso. E optou pela vaquinha eletrônica para viabilizar a participação da equipe em Abu Dhabi. O time ainda busca um comprador. 
 
A crise das duas equipes nanicas não passou incólume pela F1. A dura realidade de ambas abriu ainda mais as discussões dentro da categoria sobre uma melhor gestão da distribuição da renda, bem como os gastos com novos regulamentos. Neste momento, os times do grupo intermediário do grid pressionam as esquadras de ponta e a cúpula do Mundial por uma solução rápida e definitiva. Além disso, a ausência das duas competidoras também abriu o debate sobre a diminuição do número de carros no grid.
MELHORES DO ANO

E assim, como num passe de mágica, 2014 passou. Foi rápido mesmo. Se Vettel decepcionou, a Mercedes dominou e o medo de acidentes fatais voltou à F1; se a Ganassi não correspondeu e Will Power fez chegar o dia que parecia inalcançável; se Márquez deu mais um passou para construir uma dinastia; se Rubens Barrichello viveu sua redenção, tudo isso é sinal das marcas de 2014 no automobilismo. Para encerrar e reforçar o que aconteceu no ano, a REVISTA WARM UP volta a eleger os melhores do ano.

RETROSPECTIVA 2014
O GRANDE PRÊMIO traz a RETROSPECTIVA 2014 e começa a mergulhar outra vez no que foi a temporada do Mundial de F1 — um ano de uma equipe só. A Mercedes e Lewis Hamilton foram os grandes destaques graças às marcas que alcançaram. A equipe se tornou a recordista de vitórias em um único campeonato graças a um acerto primoroso no desenvolvimento dos novos motores V6 turbo. O inglês se sagrou bicampeão e tornou-se o mais vencedor britânico da história da F1 e o segundo mais vitorioso dentre os pilotos em atividade — atrás só de Sebastian Vettel.
 
O INFLUENTE

A decisão de Sebastian Vettel de deixar a Red Bull "muito provavelmente" foi influenciada pelo desempenho do colega Daniel Ricciardo. A frase é de Christian Horner, o chefe da equipe austríaca. O tetracampeão viveu um ano irregular em 2014. Longe da disputa pelo título, Seb não conseguiu emplacar nenhuma vitória e terminou a temporada na quinta colocação, com 167 pontos e quatro pódios. Já Ricciardo foi o responsável pelos três triunfos do time das bebidas energéticas neste ano.

Leia a reportagem no GRANDE PRÊMIO.

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