As análises do
GRANDE PRÊMIO durante a semana davam conta de que a chave para mudar a briga pelo título da
Fórmula E neste sábado (13), na abertura da rodada dupla que fecha o campeonato 2018/19, era o treino de classificação. Quanto pior fosse
Jean-Éric Vergne e melhor fossem os rivais, visto que o Grupo 1 é sempre uma armadilha, maiores as chances de a batalha seguir por mais um dia. Teve um pouco disso – nenhum exercício de vidência, apenas de observação do que foi toda a temporada. Mas não somente isso na
corrida 1 em Nova York.
Vergne foi realmente num Grupo 1 que deu condições piores que aquelas vistas normalmente. Largou em décimo, só que os rivais mais próximos partiram atrás.
Mitch Evans saiu em 13º,
Lucas Di Grassi foi o 14º e
André Lotterer partiu em 16º. Lotterer logo abandonou, mas Evans fez uma incrível corrida de recuperação para largar em segundo enquanto Di Grassi conseguiu subir até o quinto posto. E Vergne? 15º e fora dos pontos.
Largar no meio do pelotão, como o francês certamente sabia, representa um risco contínuo, sobretudo na largada. O bate-bate nessa prova nova-iorquina ficou na região onde ele estava. Lotterer se deu mal, foi pego e abandonou, mas Vergne teve um pneu furado após colisão com
Tom Dillmann. Passou nos boxes e voltou no fundo do pelotão, novamente sem grandes chances de pontuar. Mas Vergne usava bem o modo ataque e via a corrida acidentada abrir algumas portas.
Jean-Éric Vergne (Foto: DS Techeetah)
Cravou a volta mais rápida da corrida quando ainda era 14º colocado e tentava subir. Conseguiu, chegou até o P10 – P9 virtual, porque Sam Bird tinha uma punição de 10s – e já marcava dois pontos: um da posição e o da melhor volta, validade a partir do momento em que se posicionou na zona de pontos. Depois, porém, um tipo de erro que Vergne pouco mostrou no campeonato: o afobamento. Entrou esquisito desde o início para ultrapassar Felipe Massa, que também tinha uma boa corrida de recuperação após partir de 21º. A batida foi ensaiada primeiro e depois aconteceu. A recuperação de Vergne foi por água abaixo e os pontos, quase suficientes para o título, sumiram.
A porta foi aberta, assim, para os postulantes que estavam em suas próprias boas atuações. Evans relargou no quinto lugar após o safety-car causado pelo companheiro Lynn – já era uma grande recuperação. Mas saltou para terceiro e depois realizou uma excelente ultrapassagem para cima de
Alexander Sims. Di Grassi, por sua vez, foi passando a conta-gotas e limpando o caminho à frente. Conseguiu 10 pontos.
E, então, Buemi. Sem vitórias desde 11 de junho de 2017, em Berlim, o suíço estava batendo na trave na temporada. Cresceu na segunda metade e dominou no sábado. Foi o mais rápido da primeira fase da classificação, depois colocou quase 0s5 no segundo colocado da Superpole e caminhou com tranquilidade na corrida, tirando um ataque de Lynn nas primeiras voltas. As vitórias venceram e o título, que parecia impossível, ainda é uma possibilidade matemática – ainda que improvável, é verdade – na etapa final.
Sébastien Buemi (Foto: Nissan)
Nota para António Félix da Costa, que fez boa corrida e terminou em terceiro. Como estava longe de Vergne, acabou eliminado matematicamente do mesmo jeito. Da Costa, Lotterer, Robin Frijns, que abandonou ainda no começo após as pancadas da largada, e Abt estão fora da briga.
Para os que sobreviveram, a necessidade segue sendo a quase perfeição, como sempre souberam que seria. Além deles, precisam saber também que Vergne vão enfrentar no domingo: o cirúrgico das semanas anteriores ou o atrapalhado de Nova York e Marrakech? A resposta do título está aqui.
O vencedor do dia se disse emocionado por quebrar o tabu e dedicou o triunfo ao dono da DAMS e chefe de equipe da Nissan, Jean-Paul Driot, que pouco apareceu na FE durante a temporada por conta de problemas de saúde.
"Faz tempo! Estou realmente emocionado, porque faz mais de dois anos. E essa vitória vai para o nosso chefe de equipe, Jean-Paul (Driot), que não está indo muito bem. Queria muito ganhar e fico feliz que tenha acontecido hoje", falou.
Mitch Evans (Foto: Jaguar)
Já Evans deixou claro que passou do ponto em algumas ultrapassagens, mas justificou: é o que se deve fazer em tempos de decisão quando está na briga pelo título.
"É uma ótima sensação. Tivemos uma classificação muito difícil saindo do Grupo 1. A meta era ganhar posições, mas eu não esperava fazer um progresso como esse. Acho que não fiz muitos amigos nessa corrida, mas essa é aquela parte do campeonato em que você tem que fazer todo o possível, e eu farejei algumas oportunidades. Não esperava ir ao pódio, mas aceito. Agradeço aos caras da equipe. Fico triste por Alex [Lynn] que estava fazendo um ótimo trabalho e merecia estar aqui no pódio", comentou.
António Felix da Costa (Foto: BMW)
Terceiro colocado, Da Costa vibrou com a estratégia da BMW de guardar energia na primeira parte da prova e agradeceu ao companheiro Sims por não complicar muito na disputa de posição.
"Fomos muito inteligentes por toda a corrida, para ser sincero. Poupamos energia durante toda a prova para usarmos no final e deu certo. Tive ajuda de toda a equipe, tenho que agradecer ao Alex [Sims] por esse pódio, estava mais para ele. Todos esses pontos são muito importantes para nossa equipe. Ficou feliz de dar à BMW Andretti um pódio aqui em Nova York", comemorou.
Lucas di Grassi (Foto: Audi)
Di Grassi voltou a falar da dificuldade de buscar o título, mas com uma ressalva: só acaba quando terminar.
“Precisamos de um pequeno milagre. A vitória dá 25 pontos e a diferença para o Vergne é de 22. Quando cheguei aqui, já sabia que ser campeão era uma tarefa difícil e que não depende somente do nosso esforço e resultado. Mas fizemos a nossa parte hoje, com uma boa corrida, e espero melhorar esse resultado amanhã. Esse é o espírito e nós vamos pra cima novamente. Enquanto houver alguma chance, vamos investir tudo o que temos nela. Nada está garantido até a bandeirada final de amanhã. Para todo mundo”, disse.