“Negócio amador”: Sette Câmara cita Moneyball e solta verbo após deixar Fórmula E

Após deixar a Cupra Kiro antes da abertura da temporada 2024/25, Sérgio Sette Câmara não encontrou vaga como titular na Fórmula E e assinou com a Nissan para ser reserva. Em entrevista exclusiva ao GRANDE PRÊMIO, o brasileiro criticou fortemente o processo de escolha de pilotos no esporte a motor

A temporada 11 da Fórmula E começou no eP de São Paulo, no último dia 7 de dezembro, e com apenas Lucas Di Grassi representando o Brasil no grid. Isso porque Sérgio Sette Câmara perdeu o assento na Cupra Kiro pouco antes dos testes de pré-temporada e teve de se contentar com um cargo de reserva na Nissan. Agora, sem espaço entre os titulares, o brasileiro levantou questionamentos importantes sobre o processo de escolha de pilotos em conversa exclusiva com o GRANDE PRÊMIO.

Na Fórmula E desde 2019, Sette Câmara era titular da Kiro — antiga NIO e ERT desde a temporada 2022/23, mas foi tirado da escalação da equipe para os testes de pré-temporada em Jarama, na Espanha. Depois, pouco antes da estreia no Brasil, a saída em definitivo foi confirmada, assim como a promoção de David Beckmann — que entrou por pressão da Porsche, nova fornecedora de motores da equipe.

Perguntado pelo GRANDE PRÊMIO sobre como enxerga as escolhas de pilotos feitas por equipes na categoria, Sette Câmara criticou o processo “literalmente amador” e questionou a metodologia por trás de algumas contratações não só na Fórmula E, como também no automobilismo em geral. 

“Você fez a pergunta que eu mais gosto de responder. É um defeito que não consigo entender. Por que na hora de escolher um motor, um diferencial, qualquer componente que vai no carro, eles analisam dados, é só engenheiro, planilha, número, métricas, e na hora de escolher piloto é: ‘Ah, porque gosto daquele cara, foi bem na corrida passada, sinto que está melhorando’? Parece um negócio amador, literalmente amador”, pontuou. 

Sette Câmara assumiu posto de reserva na Fórmula E após ser demitido da Kiro (Foto: Fórmula E)

“Até no futebol — que é um negócio mais subjetivo, porque é um esporte coletivo e é difícil saber se um jogador está jogando bem por causa de outro —, eles têm uns caras lá que trabalham com aquilo, e que ficam olhando o GPS: quanto o cara corre, métrica, eficiência, lesão, tudo isso. É uma decisão muito mais profissionalizada”, comparou. 

Para ilustrar as críticas, Sette Câmara usou como referência o filme ‘Moneyball’ (‘O Homem que Mudou o Jogo’, na versão brasileira), que conta a história real de um gerente de time de beisebol que usa estatísticas e análise de dados para montar uma equipe competitiva, desafiando e criando novas convenções para o esporte. O brasileiro lamenta que o automobilismo não funcione desta maneira quando se trata da contratação de pilotos. 

“Tem um filme que se chama ‘Moneyball’, que fala sobre essa mesma profissionalização na escolha de atletas no mundo do beisebol, mas que já aconteceu várias décadas atrás. Acho um absurdo não ser assim no automobilismo. Você vai perceber, conhecendo as equipes, que os tomadores de decisão, em cargo de pilotos, tanto na Fórmula 1 quanto na Fórmula E, são pessoas que muitas vezes nem vêm da parte técnica”, explicou.

“São executivos, comerciais. Às vezes, pedem até para os engenheiros prepararem uma pastinha: ‘Ah, que legal, gosto daquele cara porque foi bem na corrida passada’. É muito amador”, reforçou. 

Pessoalmente, Sette Câmara foi atrás de vagas em outras equipes e esbarrou justamente nesse obstáculo da subjetividade na escolha de pilotos, segundo ele. No entanto, apesar de ver como algo prejudicial neste momento, entende que pode estar do outro lado da história futuramente e se beneficiar desse sistema de contratação. Mesmo assim, ainda acredita que era uma “escolha boa para qualquer equipe”. 

Sette Câmara disparou contra metodologia de equipes para escolher pilotos (Foto: Rodrigo Berton/GRANDE PRÊMIO)

“Fiz uma apresentação para as equipes, botei tudo em métricas, mandei para todos os chefes de equipe e pedi para compartilharem com o engenheiro-chefe, porque sei que o cara nem vai ler. E aí perdi, não tive sorte nesse sentido. É um negócio que me prejudicou nesse momento. Acho que se tivessem analisado dados, pelo menos no estudo que puxei — e fiz o mais neutro possível —, acho que eu era uma escolha boa para qualquer equipe”, analisou.

“Acabou que não me pegaram, então, nesse momento, acho que me atrapalhou, mas pode ser que em outro momento me beneficie. Um momento em que eu não mereça estar em uma equipe… Essa mesma irracionalidade pode me beneficiar no futuro”, confessou Sette Câmara.

Por fim, o brasileiro lamentou que não haja muita contestação por parte da mídia quanto ao processo irracional de escolha de pilotos no automobilismo. Segundo ele, especialistas deveriam se posicionar mais sobre o tema.

“Mas existe isso no automobilismo, não dá para entender, e ninguém critica isso, até na mídia. Acho meio absurdo, o tanto que essas decisões são tomadas na opinião de um indivíduo, como não é fundamentada, como ninguém contesta. Raramente alguém contesta, e quando contesta, por exemplo, na Fórmula 1, é porque a mídia é daquele país do piloto que foi prejudicado. Não há consenso na mídia global sobre aquela decisão. Acho um negócio meio errado desse esporte”, criticou. 

“Tem algumas ocasiões onde o tomador de decisão ainda tem algum interesse naquele piloto, o que é um absurdo. É lógico que pegou esse piloto, tem participação na carreira dele. Então, é um negócio do automobilismo. Acho que na Fórmula 1 é até pior, mas isso existe na Fórmula E também, e não tem nada que a gente possa fazer, é a natureza do esporte”, encerrou Sette Câmara.

A Fórmula E 2024/25 volta a acelerar nos dias 10 e 11 de janeiro do próximo ano, com o eP da Cidade do México, no Autódromo Hermanos Rodríguez, para a segunda etapa do calendário. O GRANDE PRÊMIO faz cobertura completa do evento e transmite todas as atividades AO VIVO e COM IMAGENS na GPTV.

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