Com as três principais categorias da FIA a partir de 2024, São Paulo namora com a Indy e deseja ter status de capital mundial do automobilismo. Ao GRANDE PREMIUM, Gustavo Pires, presidente da SPTuris, falou sobre os objetivos da cidade
Após alguns anos em baixa, é justo dizer que há tempos o automobilismo não estava tão popular no Brasil. O GP de São Paulo segue no calendário da Fórmula 1 e ficou cada vez mais concorrido entre o público. Mesmo sem a Globo, o Mundial ainda tem espaço na TV aberta pela Bandeirantes — com todas as corridas transmitidas. Além disso, outras categorias também ganharam espaço, seja entre canais abertos, televisão por assinatura e streaming. Nunca foi tão fácil acompanhar esporte a motor no país como hoje.
E é nesta onda crescente que São Paulo quer se tornar a capital mundial do automobilismo. Após uma ameaça obscura do Rio de Janeiro anos atrás, a Fórmula 1 segue na metrópole e com uma afirmação logo na nomenclatura: o antigo GP do Brasil virou GP de São Paulo. Depois de um namoro que parecia interminável, a Fórmula E finalmente desembarcou na terra da garoa e, para coroar o momento, as 6 Horas de São Paulo foram ressuscitadas após 10 anos de ausência e voltam ao calendário do Mundial de Endurance em 2024.
Mas como São Paulo deu essa guinada tão grande a ponto de receber as três principais categorias sob o guarda-chuva da FIA? O GRANDE PREMIUM conversou com exclusividade com Gustavo Pires, atual presidente da SPTuris e que virou figura muito presente na promoção de eventos internacionais na capital paulista. Indicado pelo prefeito Ricardo Nunes (MDB), em 2021, esteve nas negociações para trazer a Fórmula E e o WEC para a cidade.
As 6 Horas de São Paulo estrearam no WEC em 2012 e deixaram o calendário em 2014, sob a alegação de que obras nos boxes de Interlagos não estariam prontas a tempo para receber a corrida em 2015. Pouco tempo depois, foi revelado que Emerson Fittipaldi, bicampeão mundial de F1 e um dos promotores da corrida, estava sendo processado pela empresa Sax Logística de Show e Eventos, em virtude do não pagamento pelos serviços prestados na corrida.
Uma tentativa de reatar a prova aconteceria em fevereiro de 2020. Na ocasião, o empresário Nicholas Duduch entrou em ação como o novo promotor da corrida. Porém, após uma guerra de comunicados entre WEC e Duduch sem chegar a lugar nenhum, a prova acabou cancelada com a justificativa de que os promotores “não conseguiram cumprir suas obrigações contratuais”. Ajudando a resgatar a corrida, Gustavo afirma que não houve restrição do Mundial por conta das más experiências anteriores.
“De forma alguma [sobre restrições]. A última experiência do WEC com São Paulo acabou em um cancelamento da corrida, o que, é claro, tanto para o evento, marca e cidade de São Paulo é o pior cenário possível. E é um cenário que a gente não trabalha. Não vai ter cancelamento, não existe a menor possibilidade disso acontecer. Mas a relação com o WEC em si sempre foi muito boa, principalmente da minha parte. Eu conheci eles lá atrás quando o prefeito Bruno Covas (PSDB) ainda era vivo e o problema do cancelamento não se deve a problemas da prefeitura com o WEC. Foi da relação WEC-promotor. Isso não é a prefeitura que conduz, são os investidores, não somos nós”, comenta Pires.
O chefe da SPTuris também revela que a procura em receber o WEC em Interlagos partiu de São Paulo, pouco tempo depois de fechar o contrato para receber a Fórmula E. Adequações em Interlagos serão feitas para recepcionar um dos maiores grids do esporte a motor mundial, e a expectativa é de impacto financeiro na casa dos R$ 200 milhões. O desejo também é de receber mais de 50 mil espectadores no fim de semana, acima da última edição, em 2014.
“Em outubro de 2022, tivemos uma conversa com o pessoal que conhecíamos do WEC, mostramos o que estávamos fazendo na nova SPTuris, uma SPTuris que deixou de ser a locadora do espaço do Anhembi após a concessão e a agência de turismo da cidade de São Paulo. E como uma grande marca nossa que queremos imprimir é trazer os principais eventos de proporção internacional para São Paulo. Tanto expõe nossa marca lá fora quanto traz turista para dentro, gira nossa economia e gera emprego aqui. E a gente, com certeza, visualizava o WEC com esse potencial, ainda porque é muito satisfatório para gente poder dizer que São Paulo é a capital mundial do automobilismo, porque agora temos as 3 principais categorias da FIA, algo que nem Londres teve. Simultaneamente, temos Fórmula E, WEC e Fórmula 1. Estamos no topo do automobilismo mundial”, seguiu.
Em março de 2023, foi realizado o primeiro eP de São Paulo. A Fórmula E teve um longo namoro com São Paulo e até colocou o evento no calendário em oportunidades anteriores. Porém, diferentes problemas sempre forçaram o cancelamento. A corrida, marcada pela vitória do neozelandês Mitch Evans, deu uma resposta satisfatória para a cidade após a primeira edição, que gerou impacto financeiro de R$ 80 milhões.
“É muito difícil fazer um primeiro evento. A pista foi muito elogiada pelos pilotos no geral. A gente teve a maior reta do campeonato no Sambódromo. Conseguimos expor a marca de São Paulo para 190 países. E sabemos que sempre há melhorias a serem feitas. A gente acaba os megaeventos que produz e senta com prefeito e com todas as áreas responsáveis para entender o que podemos melhorar no atendimento. E a expectativa para o próximo ano, em 2024, é de que a Fórmula E seja ainda melhor”, analisa Gustavo.
Para 2024, o evento segue acontecendo em março, mais especificamente no dia 16. Um alívio para os fãs é que a corrida não dividirá atenções com o tradicional festival Lollapalooza, que, após dividir data com a Fórmula E neste ano, vai acontecer uma semana depois. Pires afirma que as partes estão satisfeitas com a data, e que o fim do primeiro trimestre é o melhor período possível para a categoria elétrica.
“Um dos pontos que podem ser positivos, é o que vai do balanço. É que eu não achei ruim ser no dia do Lollapalooza porque os dois eventos foram um sucesso e as nossas redes hoteleiras comportaram os dois eventos. Como São Paulo é grande, consegue comportar. Para muitas pessoas, vai ser melhor ainda para a Fórmula E, porque será um evento em que a principal atração será a Fórmula E em São Paulo. Eu enxergo que março é o melhor momento. Temos o carnaval em São Paulo, então março é a melhor data para usar o sambódromo. A gente está preparado para fazer a corrida e acho que tivemos tranquilidade quanto a isso, tanto Fórmula E quanto Prefeitura de São Paulo para data. Não foi nenhum problema”, explica.
E a Indy? Após 10 anos, a categoria parece estar no radar do Brasil novamente, mais especificamente em São Paulo. A campeonato americano correu na capital paulista entre 2010 e 2013, mas não teve o contrato renovado. Em 2015, um fracasso homérico em Brasília, com a corrida cancelada semanas antes por intervenção do governo local, alegando problemas financeiros. Gustavo confirma que a negociação existe, mas garante que ainda é de forma preliminar.
“Fomos atrás de pessoas que têm ligação com a Indy. É um evento que temos interesse em trazer, existe também uma relação bacana com o pessoal que a gente conversa sobre. São muito corretos, mas as negociações estão em fase inicial. Não posso garantir para você que vamos ter a Indy. Já entendemos o que seria necessário para a SPTuris e a Prefeitura de São Paulo fazerem, mas existem uma série de questões, investidores, patrocínios, etc, que ainda estão em situação bem preliminar. A gente quer muito, temos esse interesse e seria fantástico para a cidade, espero que a gente consiga trazer”. declara.
Diferente da São Paulo Indy 300, que acontecia no circuito de rua montado no Sambódromo do Anhembi, foi confirmado que, caso a corrida realmente aconteça em São Paulo, o autódromo de Interlagos seria a sede. A possibilidade de ser uma prova extracampeonato, conforme a imprensa americana tem apontado tanto para Brasil, quanto para Argentina, está descartada por parte da SPTuris.
“Valeria para o campeonato. Só traríamos valendo para o campeonato. Se for uma prova festiva ou comemorativa, a gente não traria. A gente traria valendo para o campeonato, o que já é também um outro combinado nosso. Sendo bem sincero, não foi discutido entre nós a possibilidade de um evento festivo, foi sempre buscando uma data dentro desse calendário de março a setembro que comportasse uma etapa que valesse e contasse pontos para o campeonato”, conta.
Entre 2 e 5 de novembro, acontece o GP de São Paulo. Desde o retorno da prova ao calendário após a não realização em 2020, por conta da pandemia de covid-19, o evento tem sido sucesso, com alta demanda de ingressos e batendo a marca de 236 mil espectadores na última edição, um público recorde. Com contrato até 2025, Gustavo confirma que existem negociações diretas da F1 com a Prefeitura para a extensão deste vínculo.
“Existe a conversa conduzida pela secretaria de governo e o prefeito Ricardo Nunes. Em um evento desta magnitude, o prefeito mesmo faz as tratativas. O interesse, com certeza é do GP de São Paulo continuar, e acho que isso é pelos pilotos, pela FIA, pela Fórmula 1, pela Prefeitura. Porque é inegável que Interlagos é um dos circuitos mais tradicionais do calendário e é todo ano um show, um show de ultrapassagens. Acho que fica em São Paulo com tranquilidade, renovam. Mas sim, já estão em tratativas para essa renovação. A relação é muito boa entre promotor local, Fórmula 1, FIA, Prefeitura. Tudo bem”, assegura o executivo.
Pires também afirmou que novas ativações por parte da Fórmula 1, com diferentes parceiros comerciais, também devem acontecer, buscando bater o público de 236 mil pessoas em 3 dias registrado no ano passado. O objetivo é de quebrar marcas a cada edição.
“A ideia é todo ano aumentar a capacidade. Conversei com o Alan Adler, que é o promotor da F1, e tem ativações novas que estão vendo de fazer, as lojas, alimentação que vem melhorando ano após ano. Talvez seja o principal evento de São Paulo neste sentido. Desta parte, nosso objetivo é aumentar o tamanho da pista ano após ano. A gente deve, novamente, ter recorde de público em Interlagos”, conclui.
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