Sexto na linhagem do sobrenome mais prolífico do esporte a motor no Brasil, o piloto de 21 anos busca na Charouz a vitrine necessária para colocar novamente o país no grid da principal categoria do automobilismo mundial

DRUGOVICH TEM SEMANA DISCRETA, MAS FITTIPALDI BRILHA NA FÓRMULA 2 NA ÁUSTRIA | Cortes do Paddock GP

Há certos sobrenomes que, por si só, carregam um peso enorme. Sinatra, na música; Portinari, na pintura; Nascimento, no futebol. No automobilismo, não é diferente. Afinal, pilotos deixam seu nome na história do esporte e seus respectivos sucessores precisam conquistar bons resultados para manter o legado vivo. É neste cenário que o GRANDE PREMIUM olha para o futuro e conta a história de uma das principais promessas do esporte a motor brasileiro na terceira edição do Rumo à Glória. No capítulo de hoje, você vai conhecer o sexto Fittipaldi: Enzo.

Nascido em Miami e com 21 anos recém-completados, Enzo Fittipaldi da Cruz quer seguir uma árvore genealógica bastante frutífera em produzir grandes pilotos. Vamos a ela: Enzo é irmão de Pietro, primo de Christian, neto de Emerson, sobrinho-neto de Wilson e bisneto do Barão. Será que, nascido em uma família como esta, existia alguma chance de não se tornar um piloto de corrida?

Ao GRANDE PREMIUM, Enzo rechaçou qualquer possibilidade de não vestir um capacete, balaclava, macacão, luva e sapatilha. Não tem jeito, correr com o pé no porão, bordão do lendário Edgard Mello Filho, está no sangue. “Eu sempre quis ser piloto profissional. Hoje, realizo meu sonho de criança ao poder competir em um dos principais campeonatos do mundo.”

Sabe-se que carregar um sobrenome forte no automobilismo não é fácil e imputa, necessariamente, em cobrança. Às vezes, há igual sucesso. Em outras ocasiões, nem tanto. Mick Schumacher, por exemplo, batalha para não viver à sombra do pai, Michael; o campeão de 2021 na Fórmula 1, Max Verstappen, já ultrapassou tranquilamente os resultados conquistados pelo pai, Jos. Vimos também, mais atrás na história, Bruno Senna, Jacques Villeneuve, Nico Rosberg, Damon Hill, entre tantos outros. Casos e casos. Mas se tem algo que não tira o sono de Enzo é carregar Fittipaldi no nome, como ele mesmo faz questão de enfatizar.

Enzo Fittipaldi (Foto: Charouz)

“O sobrenome Fittipaldi estará eternamente relacionado às corridas. Para mim, sempre foi uma grande honra fazer parte dessa que é, provavelmente, a família com mais pilotos de ponta no mundo, é algo especial que me motiva muito para chegar ao topo do automobilismo, mas nunca encarei o sobrenome como um peso extra”, revelou à reportagem.

A inspiração para pilotar também está no quintal de casa. Enzo vê em Pietro o espelho ideal para se tornar um grande piloto profissional. O convívio deles é constante, afinal são, além de atletas, ainda atuam como criadores de conteúdo na internet com o canal Fittipaldi Brothers. “É nele em quem me inspiro muito. Admiro e aprendo demais com ele, é um grande exemplo. Todos na minha família são assim, mas Pietro é especialmente trabalhador demais”, elogiou.

O relacionamento de Enzo com o esporte a motor começou em 2009, aos oito anos de idade. Como todo iniciante, foi mordido pelo bichinho do kart e disputou campeonatos logo cedo nas pistas norte-americanas. Por lá ficou até 2016, quando tentou a sorte no turismo, correndo pela equipe Douglas Motorsport, na Ginetta Junior Championship. Pouco pôde fazer, no entanto, e terminou a disputa em um modesto 18º lugar. No ano seguinte, a grande chance da vida: a entrada na Academia de Desenvolvimento da Ferrari. Consequentemente escalado pela Prema, gigante das categorias-satélite, Enzo viu escancarar uma porta da esperança de construir carreira consistente no automobilismo.

Assim sendo, a F4 Italiana foi a primeira categoria de fórmula disputada pelo brasileiro e a temporada 2017 não foi de todo ruim: terminou com um nono lugar. No mesmo ano, disputou três corridas pela F4 Alemã, como convidado especial na rodada tripla de Nürburgring e, de lá, mais uma boa impressão: pódio (na terceira posição) na última corrida daquele final de semana de agosto. Era um prelúdio do que viria a ser um 2018 muito especial.

Enzo teve um bom 2017 (Foto: Reprodução)

Foram 41 provas disputadas nos dois campeonatos, com oito vitórias, onze pole-positions e 21 pódios somados em ambas as categorias, o que deu a Enzo o primeiro e, até o momento, único título na carreira. Afinal, levantou o caneco da F4 Italiana, pois. A terceira colocação na F4 Alemã, atrás apenas do vice-campeão Liam Lawson e do campeão Lirim Zendeli mostrou que, com apenas 17 anos, o sexto Fittipaldi já começava a pavimentar um futuro mais do que promissor.

A parceria com a Prema ainda rendeu um vice-campeonato da FRECA, em 2019, numa temporada com duas vitórias, duas poles e 13 pódios, que não foram suficientes para alcançar o dinamarquês Frederik Vesti, companheiro de equipe e eventual campeão. A gratidão de Enzo pelos italianos representa algo marcante e que, como ele mesmo afirmou à reportagem, ficará para sempre na memória. “Foi um momento muito especial da minha carreira. Até hoje, sou muito bem recebido na Itália, é incrível o carinho que eles têm por mim, e isso é recíproco. Foram anos fundamentais para o meu crescimento profissional”, reconheceu.

Dali, um novo casamento começava a se alicerçar quando Enzo foi rumo a Praga, na Tchéquia, ao se tornar o novo piloto da Charouz, em 2019 – a aparição de debute veio em rápido teaser no tradicional GP de Macau daquele ano, em que teve uma participação bem discreta, terminando na 16ª posição. Antes do relacionamento se firmar, passou por um estágio em 2020, na HWA, pela Fórmula 3. Mostrou algum serviço por lá, onde somou 27 pontos até se estabelecer de vez na equipe tcheca, um ano mais tarde.

Sua ascensão na Charouz foi, de fato, muito rápida – e o cartão de visita para saltar da F3 para a F2 na equipe foi ter conquistado um segundo lugar em Hungaroring com o equipamento da temporada anterior. Foi suficiente para, em Monza, estrear no campeonato de acesso à Fórmula 1 e disputar as últimas quatro etapas da temporada. “Foi um salto na minha carreira. A Charouz é uma equipe que tem potencial e sempre abre espaço para o diálogo entre piloto e engenheiro. Essa relação ajudou demais o time a crescer. Ano passado foi um ano de transição para mim”, contou Enzo.

Enzo Fittipaldi foi promovido pela Charouz (Foto: Dutch Photo Agency)

Na penúltima etapa de 2021, o grande susto da carreira até aqui: Enzo sofreu acidente gravíssimo logo na largada da corrida principal da Fórmula 2 em Jedá, na Arábia Saudita, batendo na traseira da ART do francês Théo Pourchaire. Em entrevistas após o incidente, chegou a afirmar que sobreviveu por um “milagre”. Ao GRANDE PREMIUM, relembrou os momentos que passou naquele fim de semana que, em suas próprias palavras, foi o mais difícil da carreira. “Tive sorte e penso que voltei ainda mais forte. Foi um acidente na reta principal e a equipe de resgate chegou rapidamente para me ajudar. Estava consciente, mas foi uma batida forte. Fui muito bem tratado no hospital na Arábia Saudita e a recuperação foi excelente”, pontuou.

O forte acidente na largada da corrida principal da F2 visto por outro ângulo (Vídeo: Reprodução)

A temporada de 2021 também ficou marcada pela volta aos Estados Unidos, seu país natal, para fazer duas corridas pela Pro 2000, segundo degrau na Road to Indy. No Alabama, Enzo teve desempenho mais regular ao conquistar o 12º e o décimo lugares na rodada dupla, muito melhor que em São Petersburgo, onde não conseguiu completar as provas. Experiência amarga, mas que deixou um gostinho de quero mais na boca.

“Foi uma experiência diferente para mim, afinal, por mais que tenha crescido nos Estados Unidos, minha vivência nos monopostos aconteceu na Europa. Existe uma diferença muito grande de estilo de trabalho e de equipamento. Mas, com certeza, quero um dia voltar a correr por lá”, contou.

Chegamos enfim a 2022 e, com muito boa cota de transpiração, a Charouz se mostrou na Fórmula 2 – até aqui – uma equipe extremamente competitiva. E Enzo consegue ser o responsável por alguns dos resultados de maior destaque da equipe desde a sua fundação, em 1985. Em oito rodadas duplas disputadas, três pódios para a conta: um terceiro lugar em Silverstone e duas vezes a segunda colocação, em Ímola e na Áustria. “Acredito que, nesta temporada, sinto-me melhor preparado para conquistar bons resultados para o time, e é isso que tem acontecido. O ritmo de corrida tem sido realmente muito bom. Fico feliz”, analisou.

Brasileiro soma 76 pontos na F2 2022, na sétima colocação (Foto: Reprodução/Twitter)

Fittipaldi traçou alguns objetivos para a sequência da temporada e, claro, afirmou sonhar com o primeiro triunfo na F2. Quem sabe? “Terminar no top-10 do campeonato é primordial. Daí, penso em conquistar mais pódios e, acredito, a vitória virá naturalmente. É difícil, há carros à frente da Charouz, mas, se conseguirmos uma boa posição no grid, nossas chances aumentam.” 

Para isso, preparação física e trabalho no simulador são fundamentais, e Enzo não deixa de dar a atenção devida a ambos. Além disso, a resenha com os tchecos para alinhar a estratégia para o fim de semana de corrida é sempre importante. “Preciso sempre estar em forma, então, vou à academia e procuro me alimentar bem. Se a corrida é na Europa, dou uma passada na sede da equipe, em Praga, para fazermos reuniões e aprimorar o carro, afinal, o meu feedback tem importância e ajuda no crescimento da equipe”, apontou.

Como os leitores podem perceber pelo texto, Enzo Fittipaldi pensa e respira corrida. Mas há, claro, também espaço para ser o jovem de 21 anos que é. Pouca gente sabe, mas além de piloto, nas horas vagas, o brasileiro se arrisca na cozinha. Além de desfrutar bons momentos com a família, sempre que possível, busca na atividade um momento para desanuviar a cabeça. É nesse contexto que a pesca surge também como hobby – um pouco de diversão fora das pistas nunca faz mal. “Sempre gostei muito de fazer esporte, de pescar. E gosto muito de cozinhar, principalmente ragu, é uma das minhas pastas favoritas”, revelou Enzo.

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A soma de todos estes fatores mostra um Enzo Fittipaldi que amadurece cada vez mais, mesmo sendo muito jovem. Focado em obter melhores resultados do que o quinto lugar na temporada 2022 da Fórmula 2 indica até este momento, o brasileiro quer devolver o sobrenome da família à prima donna do esporte a motor. 

Não há muito mais o que fazer a não ser desempenhar bem pela Charouz, em busca de atenção das equipes da F1 para 2023 e diante. Enzo, portanto, mantém a chama acesa para atingir o seu objetivo. “Preciso seguir meu trabalho na F2 e conquistar bons resultados na equipe. E, a partir daí, penso no que virá pela frente para buscar o meu maior sonho, que é chegar à Fórmula 1.”

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