Fernando Alonso é um dos maiores pilotos da história. Muito habilidoso, o piloto colocou a Espanha no mapa do automobilismo mundial com dois títulos da Fórmula 1 e chocou o esporte ao abrir mão do GP de Mônaco de 2017 para se aventurar nas 500 Milhas de Indianápolis, mergulhando no desconhecido. O motivo da escolha? O sonho de fechar a Tríplice Coroa, algo que só Graham Hill foi capaz de fazer nos anos 60 e 70. Só que, três anos depois, Alonso parece tão longe do feito quanto antes do anúncio de 2017.
É que pouquíssima coisa melhorou nesse espaço de tempo, ao menos no que diz respeito à performance de Fernando no Brickyard. Se na estreia Alonso era um novato que chegou a liderar a corrida, classificou-se no Fast Nine e tinha chances de vitórias até o motor Honda do ótimo carro da Andretti estourar, em 2020 o espanhol foi limitado por um equipamento menos eficiente de Chevrolet e McLaren e foi figurante, chegando em 21º uma volta abaixo do vencedor Takuma Sato. E parecendo um novato outra vez.
A participação de Alonso em 2020 na Indy 500 foi discretíssima. Sumido da transmissão da prova, foi destaque ao quase raspar o muro, ao quase tomar volta do líder Scott Dixon e ao finalmente virar retardatário por um problema nos boxes. Ainda que, de fato, o material que tivesse em mãos não fosse para vencer a corrida, viu o companheiro Pato O’Ward completar em sexto, andava atrás de Oliver Askew também até o acidente do americano. E muito disso se explica pelo que aconteceu ainda no início das atividades, mais precisamente no TL2.
Depois de um início animador no primeiro treino livre, Alonso desceu muito na curva 4, tocou o concreto, perdeu o carro e foi parar no muro. Aquilo danificou o carro, que demorou alguns dias para voltar ao normal, mas mexeu também com a confiança do piloto. Por mais que seja um bicampeão do mundo, que já tivesse andado em Indianápolis, falta cancha, e isso ficou claro quando Fernando simplesmente não voltou a guiar o que estava guiando até a batida. O resultado foi uma classificação péssima e uma corrida não mais do que mediana.
O desempenho de Alonso na 104ª edição das 500 Milhas de Indianápolis, desde os treinos livres, foi típico de um novato. E é justamente isso o que mais precisa gerar preocupação. Depois de impressionar e abandonar sem culpa em 2017, o asturiano não melhorou em nada desde então: ficou de fora de 2018 por conta da F1, caiu de forma inacreditável no Bump Day de 2019 em uma parceria completamente equivocada entre McLaren e Carlin e, em 2020, praticamente não apareceu na disputa.
A sequência de participações deixa evidente que Alonso precisa, mais do que um grande carro, mais do que só confiança ou só talento: necessita de mais tempo de pista, de uma preparação melhor para Indianápolis. Se Fernando é justamente tão elogiado pela Indy e pelos rivais pela forma que trata os fãs e pelo jeito que se refere à corrida, precisa também transformar isso em ações práticas. Tem de fazer com que as belas palavras se tornem ótimas performances.
O espírito ‘Racer’ de Alonso é realmente louvável, as iniciativas em Daytona, no WEC e até no Rali Dakar foram típicas de alguém que realmente é apaixonado pelo esporte e o entende de uma forma diferenciada. Mas, em Indianápolis, é preciso ir além. Como? Fazendo a temporada completa da Indy, participando de todos os testes ou, pelo menos, correndo em outros ovais. Uma coisa é praticamente certa: do jeito que está, não tem como Alonso fechar a Tríplice Coroa.
De contrato acertado com a Renault para as próximas duas temporadas na F1, Alonso só deve voltar a tentar a Indy 500 em 2023, perto de completar 42 anos. O tempo perdido nunca é bom, mas serve para que o espanhol reflita a respeito da preparação para a próxima tentativa. Se Indianápolis realmente escolhe seus vencedores, ela certamente ainda não está pronta para escolher Alonso. E ele precisa ajudar.