Indy admite conversas com Ferrari, mas vê “momento desafiador” para acordo
CEO da Indy, Mark Miles confirmou que a categoria está em contato com a Ferrari e revelou que até considera a possibilidade de adiar a introdução de um novo motor, previsto para 2022, caso apareça um terceiro fornecedor com um bom projeto. Entretanto, o dirigente considera o cenário atual como um desafio a mais para fechar acordo com a marca italiana
A Ferrari teve seu nome novamente ligada à Indy nas últimas semanas. Depois que Mario Andretti sugeriu que a equipe conversasse com Roger Penske, novo dono da categoria, para uma eventual entrada no grid norte-americano nos próximos anos, Mattia Binotto, responsável pelo comando da escuderia na Fórmula 1, admitiu o começo da avaliação de programas alternativos. Agora, a própria Indy, por meio do seu CEO, Mark Miles, revelou que há conversas com a marca italiana, embora adote a cautela no seu discurso ao citar o “momento desafiador” pelo qual atravessa o mundo para um eventual acordo.
O dirigente falou ao jornal ‘IndyStar’, de Indianápolis, sobre a possibilidade de um casamento entre a Ferrari e a Indy.
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“É óbvio que a indústria automobilística está sendo desafiada neste momento. E há pouquíssimas viagens. É um momento em que as pessoas estão, de certa forma, preocupadas com as consequências que o Covid-19 cria. E, como resultado, é mais desafiador tornar algumas dessas coisas uma prioridade importante. Mas isso não significa que as conversas não estão acontecendo, ou que nada está acontecendo”, explicou.

Em entrevista à emissora italiana Sky Sports, Binotto justificou a mudança de posicionamento da Ferrari, que não compreende a possibilidade de sair da Fórmula 1, mas sim de agregar novos programas para manter a maioria dos funcionários.
“A Ferrari sente muita responsabilidade social com seus empregados. Queremos estar seguros de que haverá espaço para todos no futuro. Por isso, começamos a avaliar programas alternativos. Como a Indy, por exemplo, que atualmente é uma categoria muito diferente da F1, mas tem uma mudança nas regras programada para 2022. Também observamos o mundo do endurance e outras categorias. Tentaremos tomar a melhor decisão”, salientou o ítalo-suíço.
“Nas últimas semanas, conversamos muito sobre a redução do teto orçamentário para as equipes da Fórmula 1, e agora chegamos a uma conclusão. A cifra de US$ 175 milhões (R$ 882,5 milhões) será reduzida a US$ 145 milhões (R$ 731 milhões). Na Ferrari, estamos nos organizando de acordo com aquilo que foi aprovado no ano passado. A redução adicional representa um desafio importante que inevitavelmente conduzirá à revisão de pessoal, estrutura e organização”, disse.
Assim como a Fórmula 1, a Indy está prestes a viver um ano de grandes mudanças no regulamento técnico. A partir de 2022, a categoria vai adotar uma nova especificação de motores híbridos, que já estão sendo desenvolvidos por Honda e Chevrolet, as atuais fornecedoras. Mas Miles deixa claro que considera mudar o cronograma se aparecer uma terceira fabricante interessada, e com um projeto sólido, de atuação para os próximos anos.
“Se precisarmos atrasar ou moldar nosso timing com base nessas perspectivas, certamente vamos considerar isso”, admitiu.
Por outro lado, o dirigente é mais reticente sobre a possibilidade de outra marca medir forças com a Dallara, que é única construtora da Indy. “O mais provável é ter um único fornecedor, mas com o acréscimo de alguma janela ou oportunidade para os fabricantes desenvolverem o chassi”.
Ao responder sobre as declarações recente de Binotto e também de Mario Andretti, Miles reconheceu que existem conversas da Indy com a Ferrari, mas preferiu não se estender muito a respeito. “Eu li o que eles disseram, e certamente temos relações com a Ferrari em vários níveis. Roger Penske certamente conhece, Jay Frye e nossa equipe de engenharia também. Existem conversas, mas não quero comentar sobre em que pé isso está neste momento”.
“No geral, é um momento desafiador para levar em frente esta iniciativa, mas isso não significa que seja impossível. Não dissemos para nós mesmos: ‘Não vamos conversar com ninguém’, mas minha atitude é a mesma que assimilei há alguns anos. E é fato que você pode estar em uma ótima negociação e imaginar que as coisas estão caminhando bem, e aí isso não acontece. Ou algo pode se abrir e você pode entrar numa boa conversa de forma rápida e inesperada. Acho que temos muito a oferecer”, concluiu.
Namoro antigo
Em 1986, por conta de um embate contra o presidente da FISA – braço-esportivo da FIA – chefiado por Jean-Marie Balestre e o presidente da F1, Bernie Ecclestone, Enzo Ferrari ameaçou largar a F1 e ir para a Indy.
O negócio foi tão sério que a equipe acabou construindo, com base no modelo March 85C, desenhado por Adrian Newey, um chassi e um motor para a Indy, o 637, com direito a acordo com a equipe Truesports e Bobby Rahal para desenvolver o projeto.
No meio do caminho, Ferrari e os dirigentes acabaram se acertando: a equipe queria que a F1 liberasse o uso dos motores V12 aspirados em 1989 para assinar o novo Pacto da Concórdia. Com o acordo feito, o carro da Indy nunca andou um metro sequer.

