Opinião GP: Indy expõe fragilidade de comando com regras confusas e pode comprometer popularidade

Categoria se perde ao definir sistemas esdrúxulos de classificação, anuncia cancelamento de largada parada pelo Twitter com prova em andamento e inventa sanção a Franchitti por suposta fechada em Power. Audiência e credibilidade podem correr risco até nos EUA

 
A GRANDE NOTÍCIA DA INDY neste fim de semana de rodada dupla em Toronto, no Canadá, poderia ser apenas o domínio arrasador da Ganassi e, principalmente, de Scott Dixon, vencedor das duas provas e novo vice-líder do campeonato de 2013.

Mas o que chamou mais a atenção para quem acompanha e vive a categoria foi uma espécie de ponto alto da falta de organização, o que resultou em modificações de última hora, tanto em relação ao procedimento de largada quanto à punição fantasma atribuida a Dario Franchitti na primeira corrida, realizada no sábado (13).

Após o fim da prova 1 em Toronto, na qual completou o pódio ao cruzar a linha de chegada na terceira posição, o escocês foi punido com o acréscimo de 25s em seu tempo final. Motivo: o piloto da Ganassi foi acusado de fechar Will Power na última relargada.

 
Com isso, mesmo depois de ter participado de todo o cerimonial de premiação, o britânico foi jogado da terceira para a 13ª posição, de forma que Marco Andretti, quarto colocado, herdou sua posição no top-3 canadense. Pior: a notícia chegou aos ouvidos do experiente tetracampeão ainda antes mesmo do fim da cerimônia do pódio.
Franchitti à frente de Power em Toronto (Foto: John Cote/IndyCar)
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Cerca de duas horas depois do anúncio da sanção e da divulgação da classificação oficial com Franchitti punido, no entanto, a direção da Indy voltou atrás e revogou a punição, devolvendo ao piloto o terceiro lugar. De acordo com o comunicado, as imagens da relargada foram analisadas novamente por um outro ângulo, no qual ficava claro que o escocês não havia tido nenhum tipo de atitude antidesportiva.

 
O episódio causou justificável fúria em Dario: "A grande coisa é essa merda no final, para ser bem honesto. Se pudermos e se for permitido, vamos protestar contra esta chamada, apenas para descobrir, no mínimo, como essa decisão foi tomada", esbravejou. "Seria muito interessante saber como eles tomam as decisões, às vezes. Eu acho que eles têm um dardo e uma venda nos olhos. Vamos ver qual será a explicação", acrescentou.

Companheiro de equipe de Franchitti na Ganassi, Dixon também não economizou nas críticas à direção da categoria em relação ao episódio "A última relargada foi uma piada completa, na minha opinião. Discutimos isso tantas vezes nas reuniões, os líderes devem ser os primeiros a partir, e o bandeira obviamente não estava assistindo a corrida, também", disse o piloto, em coletiva logo após a corrida 1.

O verdadeiro 'circo' da Indy

 
A revolta do escocês e as críticas do neozelandês são plenamente justificáveis. A Indy não consegue fazer um campeonato minimamente organizado, com regras razoavelmente claras nos procedimentos de largada e, principalmente, nas sessões classificatórias. 
 
A categoria havia decidido promover largadas paradas em todas as rodadas duplas do atual calendário – Detroit, Toronto e Houston. A de Detroit foi cancelada por causa das características da pista, algo que deveria ter sido analisado com antecedência.

Na tarde de sábado, na primeira prova canadense, o script para um início nos mesmos moldes de várias outras categorias de monopostos ao redor do mundo foi mantido até os 24 carros se alinharem no grid. Mas o que se viu na sequência foi constrangedor.

Carros alinhados para a largada parada, no sábado: serviu apenas para a foto (Foto: John Cote/IndyCar)

Enquanto todos aguardavam a luz verde, bandeiras amarelas eram agitadas por toda a reta principal, em função de Josef Newgarden ter deixado seu carro morrer. Assim que os carros deixaram o grid, os caracteres da transmissão da prova indicavam que era a primeira volta. Foram cinco, ao todo, sob bandeira amarela. No Twitter oficial da Indy, veio, sorrateiramente, o anúncio de que a largada parada estava cancelada e o procedimento seria o habitual, em movimento, como de fato ocorreu na abertura da sexta volta. Um verdadeiro vexame.

 
Quais pontos foram considerados para que a categoria optasse por realizar 'standing starts' em alguns dos circuitos mistos? É necessário observar que os chassis DW12 não foram construídos para este tipo de procedimento. Evidentemente, é uma ideia válida e boa, porém pode colocar em risco tanto pilotos quanto espectadores nas arquibancadas.

Se há a aceitável intenção de se promover uma inovação jamais vista antes na Indy, que se faça isso da maneira correta, com carros, pilotos e condições de segurança adequados e preparados para tal. Somente veteranos oriundos de categorias de base de fora dos EUA – como Dixon e Franchitti, além dos brasileiros Tony Kanaan e Helio Castroneves – já haviam feito este tipo de procedimento. E mesmo assim, realizaram isso pela última vez há quase ou mais de 20 anos. Todos esses pontos devem e precisam ser vistos antes de uma alteração como essa, em uma série que jamais em sua história havia feito algo do tipo.

Não podem ser desconsideradas, também, as mudanças drásticas e inexplicáveis nos regulamentos das sessões classificatórias. No oval de Iowa, foram três exaustivas heats de 50 voltas cada, além de uma mini-classificação para definir eliminados e classificados para as provas que definiriam o grid para a corrida que realmente valia, no domingo. Já em Toronto, o sistema que definiu as posições de largada para a corrida 2 foi diferente do utilizado na corrida 1 e não seguiu qualquer critério aparentemente sensato do que se espera de uma sessão classificatória, ou de uma competição séria.

 
Sendo conduzida desta maneira, a Indy continuará com pouca credibilidade, cansando e confundindo pilotos e espectadores, e jamais voltará sequer a ter a possibilidade de vivenciar o mesmo auge que saboreou no início dos anos 90. É preciso lógica, um mínimo de coerência e seriedade para administrar uma categoria tão importante quanto essa. 
 
É importante que o 'circo' seja levado ao pé da letra apenas pelo espetáculo proporcionado. Jamais pelos gracejos pobres que desejam fazer rir mas apenas aborrecem e cansam. Depois de uma traumática cisão e da considerável e constante perda da audiência até mesmo nos EUA, eles já deveriam ter aprendido a lição.

Opinião GP é o editorial semanal do GRANDE PRÊMIO que expressa a visão dos jornalistas do site sobre um assunto de destaque, uma corrida específica ou o apanhado do fim de semana de automobilismo.
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