Valentino Rossi tem uma missão difícil em 2015. Se quiser chegar ao décimo título da carreira, o italiano terá de enfrentar um monstrinho que, de certa forma, ele mesmo ajudou a criar.
A missão de Marc Márquez, por outro lado, não é nada mais fácil. Se nos últimos anos o espanhol venceu três dos quatro confrontos diretos que teve com o multicampeão — Laguna Seca em 2013 e Catar e Jerez em 2014 —, a prova de Termas de Río Hondo mostrou que o menino prodígio ainda não tinha conhecido a extensão do poder de piloto de Tavullia.
Marc Márquez e Valentino Rossi são de gerações diferentes, mas olham para as corridas pelo mesmo ponto de vista (Foto: Yamaha)
Rossi é um capítulo à parte na história do motociclismo. Nesses 20 anos no Mundial de Motovelocidade, o italiano mostrou as mais diversas camadas de seu talento: capacidade de concentração, habilidade no confronto corpo a corpo, poder de reação e a força mental de poucos.
Ao longo de sua carreira, Rossi conseguiu destruir rivais. De forma permanente.
Em 2004, por exemplo, Sete Gibernau viu Valentino ‘definir’ o futuro de sua carreira após o GP do Catar. Naquele fim de semana, um dos mecânicos do italiano limpou a posição de largada do hoje multicampeão, mas o incidente foi reportado à direção de prova pelo rival, e Valentino acabou caindo para o último posto do grid.
Mais tarde, de cabeça quente, Rossi sofreu uma queda e abandonou a disputa, com Gibernau cruzando a linha de chegada em primeiro. Naquela noite, durante o jantar, Vale decidiu que o rival já tinha vencido o suficiente e não mais subiria ao topo do pódio da MotoGP. E ele nunca mais subiu.
Com Max Biaggi a situação foi parecida. O ‘corsário’ dizia para quem quisesse ouvir que Rossi vencia por conta da boa moto do time de fábrica da Honda. Em 2004, quando Valentino assumiu uma Yamaha que até então ninguém queria, uma vitória na primeira corrida, na África do Sul, sobre o então #3 mostrou que não era a máquina que fazia a diferença.
Rossi sempre foi mestre em identificar os momentos em que reforçar sua força se fazia necessário. Assim como fez com Biaggi e Gibernau, Valentino também deu seu recado a Casey Stoner — quando quebrou uma sequência vitoriosa do australiano na clássica corrida de Laguna Seca de 2008 — e, mais tarde, a Jorge Lorenzo — em uma lendária disputa na pista de Barcelona em 2009.
Depois de conquistar seu último título, em 2009, Valentino fez uma longa viagem às profundezas do inferno, mas mostrou em Santiago del Estero que está de volta ao céu.
O grande problema é que as façanhas de Rossi são das mais conhecidas. Márquez nunca escondeu que tinha no italiano uma referência e os jogos mentais que beneficiaram o italiano no passado, não vão fazer efeito no espanhol. O irmão de Álex já mostrou que é mais forte do que isso. Que tem a cabeça no lugar.
Marc Márquez é um monstrinho que Valentino Rossi ajudou a criar (Foto: Honda)
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De certa forma, Rossi vai enfrentar em 2015 um monstrinho que ele mesmo ajudou a criar. Aluno aplicado, Márquez estudou as técnicas — não só de Rossi, mas de todos os grandes — e não tem a menor vergonha de pôr em prática aquilo que aprendeu como seus antecessores, como mostrou no saca-rolhas de Laguna Seca em 2013.
Além de lutar contra alguém que conhece seus métodos — pelos menos aqueles do passado —, Rossi vive outra situação diferente em 2015: desta vez, ele vai disputar o título com alguém por quem nutre certa afeição. No mundo das corridas, é difícil colocar em dois pilotos o rótulo de ‘amigos’, mas, neste caso, é notório o bom relacionamento dos dois. E isso não deve mudar por conta do que aconteceu domingo na Argentina.
Rossi e Márquez são iguais no que diz respeito à filosofia de corrida. O que acontece na pista, fica na pista. E a dupla também é chegada num desafio. Quanto mais difícil, mais eles se destacam.
No último fim de semana, Márquez foi criticado por não ter se conformado com a segunda colocação. Ora, o que ele fez não foi nada diferente do que vem fazendo nos últimos anos e nada diferente do que o próprio Valentino faria.
11 anos atrás, Rossi fez o coração de Masao Furusawa bater mais rápido enquanto brigava pela vitória com Sete Gibernau em Phillip Island. O título estaria garantido com um segundo lugar, mas o italiano queria vencer. Fazer valer a promessa de que o espanhol não voltaria a triunfar. Era um risco, claro, mas Valentino nunca foi do tipo que escolhe o caminho fácil.
No fundo, no fundo, todo bom piloto é um pouco kamikaze. Rossi e Márquez são apenas os dois melhores na função.