Quartararo salva match-point na unha, mas Bagnaia já abre lugar para taça na estante
Com um dedo quebrado e com uma moto que rende menos do que a Ducati, o francês da Yamaha se enfiou no pódio do GP da Malásia e conseguiu empurrar para o GP da Comunidade Valenciana a decisão do título de 2022 da MotoGP. Ainda assim, a vantagem de 23 pontos já permite que o italiano abra um espaço para o troféu no gabinete de conquistas da casa de Bolonha
Fabio Quartararo impediu Francesco Bagnaia de conquistar o título da MotoGP neste domingo (22) na unha. Mesmo com uma moto inferior à Ducati e correndo lesionado, o francês foi valente e arrancou um pódio em Sepang para levar a disputa de 2022 até a etapa final, no GP da Comunidade Valenciana. Apesar da bravura, uma coisa é fato: o italiano já pode abrir espaço no gabinete de conquistas da casa de Bolonha, porque só uma hecatombe vira esse jogo.
Depois de uma segunda metade de campeonato especialmente difícil, Fabio perdeu a liderança do Mundial de Pilotos em Phillip Island, quando abandonou e viu o adversário conquistar o terceiro lugar para sair da Austrália com 14 pontos de frente na disputa. Neste cenário, Pecco desembarcou na Malásia com o primeiro match-point do título e, dependendo de uma combinação de resultados — que envolviam não só o campeão vigente —, mas também Aleix Espargaró, tinha até cinco maneiras de fechar a conta na MotoGP 2022.
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Barrar a Ducati, por si só, já é uma tarefa árdua. Afinal, a Desmosedici é a melhor moto do ano, enquanto a Yamaha tem nas mãos um protótipo que é excelente em curvas, mas cuja performance do motor deixa Quartararo em uma posição de muita fragilidade. Isso, claro, sem falar nas dificuldades dos outros pilotos da marca, que não conseguem acompanhar o forte passo de ‘El Diablo’. Mas o cenário piorou consideravelmente no sábado.
Durante o TL4, uma queda resultou em uma fratura no dedo médio da mão esquerda. Fabio engoliu a dor e encarou a classificação, mas ficou em 12º. O resultado era ruim, mas ficava menos pior pelo fato de que Bagnaia foi apenas o nono, com Aleix Espargaró aparecendo em décimo.
Tal qual tem acontecido ao longo de todo o ano, a largada seria fundamental. Se falhasse ali, Quartararo não teria nenhuma chance de barrar a conquista vermelha, já que Pecco teria, pelo menos em teoria, muito mais facilidade em escalar,
E ele não falou. Ainda na primeira volta, subiu para a quinta posição. Só que Pecco fez o mesmo, avançando para segundo, logo atrás de Jorge Martín, que saiu na pole. Quartararo conseguiu derrotar Marc Márquez para avançar uma posição e aproveitou a queda do espanhol da Pramac para se instalar em terceiro.
Pressionado quase que por toda a corrida por Enea Bastianini, Bagnaia tinha de dosar entre arriscar para vencer ou pensar nos pontos, enquanto a cúpula da Ducati mais parecia presa em uma reunião de condomínio. Davide Tardozzi e Paolo Ciabatti, chefe da equipe e diretor-esportivo conversavam o tempo todo, às vezes recorrendo também a Gigi Dall’Igna.
A dúvida que pairava no ar era: a casa de Borgo Panigale vai mandar Bastianini se afastar ou deixar Pecco ganhar? Em determinado pouco da corrida, a decisão pareceu estar nas mãos de Marco Bezzecchi. Sim, pois o novato vinha chegando em Quartararo e, se o piloto de Nice fosse parar fora do pódio, a vitória renderia o campeonato a Francesco.

O piloto da VR46 bem que remou, mas não conseguiu chegar. Bagnaia acabou passando Bastianini, que não conseguiu dar o troco. Enea garante que lhe faltou tração. E Tardozzi insiste que a única orientação é para que os pilotos evitem manobras agressivas entre eles.
Assim como para Quartararo, Bagnaia considera que a largada foi um ponto chave da corrida, já que foi ali que ele conseguiu avançar bastante.
“Sabia que o mais importante era ganhar posições. Nunca tinha feito uma largada tão boa, nem mesmo nos treinos. Avancei muitas posições e quando cheguei à primeira curva, eu freei mais forte e fiquei em segundo”, relatou Bagnaia. “Tentei seguir o Martín nas primeiras voltas, mas o ritmo dele era muito mais forte. Queria economizar pneus para o final da corrida e nesse ritmo ia ficar sem. Então, pensei: ‘está tudo bem, fique aqui e depois vamos ver o que acontece’. Jorge teve o azar de cair e foi aí que ficamos em primeiro lugar”, seguiu.
“A luta com o Enea foi muito forte, ele me ultrapassou, mas me esforcei para passar de novo. Achei que ele tentaria me ultrapassar novamente, aí me afastei um pouco, mas nas duas últimas voltas estava ouvindo o motor da moto dele. Na última volta, tentei frear o máximo possível para me defender e vencer”, completou Bagnaia.
De acordo com Pecco, a solicitação que fez à Ducati antes do GP da Malásia foi a de ser informado sobre a posição de Quartararo apenas no caso de isso dar a ele o campeonato.
“Com a equipe, antes da corrida, falamos em só me avisar sobre a posição do Fabio seu eu fosse campeão, mas, no fim, eles não avisaram nada, então eu sabia o tempo todo”, destacou. “Mas queria ganhar, somar o máximo de pontos. Esforcei-me ao máximo, mais do que na Austrália, porque precisava dessa vitória para chegar a Valência com mais calma”, justificou.
Ao contrário de Pecco, Fabio não precisou de avisos por parte da Yamaha, já que sempre soube onde o rival estava.
“Foi difícil. Na primeira curva, vi que Pecco fez uma boa largada, freou muito bem, então disse para mim mesmo que era tudo ou nada. Tudo correu bem, e fiz mais do que uma boa largada, uma boa primeira volta”, comentou. “Depois consegui um bom ritmo, tentei dar o meu melhor. Foi o que fiz. Estou muito satisfeito com a minha corrida. Sei exatamente onde tenho perdido esses décimos. Acho que foi uma das corridas em que melhor pilotei”, avaliou.
Correndo em um traçado com duas longas retas, Fabio sabe que a YZR-M1 sofreu particularmente no último trecho do circuito, mas celebrou o fato de ter conseguido impedir a conquista de Bagnaia.
“Tentei de tudo, mas perdia muito nas duas retas. Era bom no setor 2, mas faltou velocidade. Mas, sinceramente, estou feliz, dei tudo. O objetivo era impedir Pecco de ganhar o título, e foi o que fizemos”, declarou. “É quase impossível [conquistar o título], mas nada é impossível. Acreditamos até o fim”, avisou.
Antes de seguir para Valência, Quartararo tem outra pendência a resolver: uma revisão médica no dedo fraturado.
“O dedo não parece muito bom, vamos ver. Vamos examinar melhor quando eu voltar para casa e ver o que terá de ser feito, mas eles cuidaram bem de mim. Tomei analgésicos, e [a dor] não me incomodou tanto durante a corrida”, apontou.
Com 23 pontos de atraso, Quartararo entende que só a vitória lhe interessa no circuito Ricardo Tormo no próximo dia 6 de novembro. Ainda que o desfecho do campeonato não esteja nas mãos dele.
“Tudo pode acontecer lá [em Valência]. A primeira coisa que temos de fazer é vencer a corrida em um circuito que é muito complicado para nós, mas estou bastante motivado. Não gostei muito de pilotar a moto nas últimas corridas, mas hoje curti como se tivesse vencido”, concluiu.
A MotoGP volta às pistas daqui a duas semanas, em 6 de novembro, para a disputa da etapa de Valência, que encerra a temporada. O GRANDE PRÊMIO acompanha todas as atividades do Mundial de Motovelocidade.

