Fábricas aprimoram estratégia e transformam equipes satélites em rivais na MotoGP

Na temporada 2020, os times privados ficaram com 54,5% das vitórias nas 11 corridas disputadas até aqui. No quesito pódios, as estruturas oficiais levam vantagem, com 23 aparições no top-3

A temporada atual da MotoGP tem a marca da esquisitice de 2020. Além do calendário mais curto e restrito à Europa, com repetições de praças como Jerez de la Frontera, Red Bull Ring, Misano, MotorLand e Valência, e a ausência inesperada de Marc Márquez, o campeonato deste ano também se destaca pelo confronto entre fábricas e equipes satélites.

Nas 11 corridas disputadas até aqui, foram seis vitórias de estruturas particulares ― a SRT Yamaha venceu cinco vezes, três com Fabio Quartararo e duas com Franco Morbidelli, enquanto a Tech3 triunfou uma vez com Miguel Oliveira ―, com as fábricas levando as outras cinco corridas ― duas vitórias da Ducati, uma com Andrea Dovizioso e outra com Danilo Petrucci, uma da KTM com Brad Binder, uma da Suzuki com Álex Rins e uma da Yamaha, com Maverick Viñales.

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Os times não-oficiais também levam a melhor no quesito poles, onde o placar é 7 a 4, puxado especialmente pela SRT, que largou na frente cinco vezes. No total de pódios, porém, as fábricas ocuparam 69,9% das 33 posições no top-3 disponíveis até aqui, com a Suzuki responsável por 43,47% das visitas ao palco da categoria principal do Mundial de Motovelocidade feitas pelas gigantes do campeonato.

Fabio Quartararo e Maverick Viñales: equipes diferentes, motos iguais (Foto: SRT)

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A classificação geral, contudo, tem o jogo empatado em 5 a 5, com metade dos pilotos do top-10 defendendo estruturas oficiais ― com o líder Joan Mir, Viñales em terceiro, Dovizioso em quinto, Rins em sexto e Pol Espargaró em oitavo ― e a outra metade vestindo as cores satélites ― Quartararo tem a vice-liderança, com Morbidelli em quarto, Takaaki Nakagami em sétimo, Jack Miller em nono e Oliveira em décimo.

No cenário geral, todavia, chama atenção o fato de as satélites ameaçarem o domínio das fábricas. Dos quatro principais candidatos ao título deste ano, três guiam motos Yamaha e dois deles defendem a equipe de Razlan Razali.

Mas que mundo é esse em que as estruturas menores conseguem fazer frente ao poderio das fábricas? Se você caiu na tentação de responder ‘2020™’, saiba que, por incrível que pareça, desta vez não é culpa deste estranho ano.

Já há alguns anos, as estruturas oficiais adotaram a prática de colocar na pista mais protótipos atualizados, uma medida que não só ajuda a desenvolver as motos, mas também altera a competitividade do grid. A Yamaha, por exemplo, foi quem mais resistiu em dar motos atualizadas para equipes privadas, mas quando o fez ― em 2019, com Morbidelli e Quartararo, embora a YZR-M1 do francês fosse ligeiramente menos potente do que as demais ―, viu a competição interna da marca como um todo aumentar sensivelmente.

A Ducati, por exemplo, tem hoje quatro Desmosedici de 2020 no grid, contra duas GP19, as de Johann Zarco e Tito Rabat. No caso da marca dos três diapasões, são quatro M1 do ano, mas Franco conta com uma moto inferior, uma especificação B. O ítalo-brasileiro, por exemplo, foi o último entre os pilotos equipados pela casa de Iwata a contar com o chamado dispositivo holeshot, que modifica a altura da suspensão, e só conseguiu a peça depois de muito insistir.

Miguel Oliveira deu à tradicional Tech3 a primeira vitória na MotoGP (Foto: Red Bull Content Pool)

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A Honda, por sua vez, tem três RC213V do ano e apenas Takaaki Nakagami com a versão 2019, algo que vai mudar na próxima temporada, já que a fábrica da asa dourada aceitou dar um protótipo atualizado para o japonês após o salto de performance deste ano.

Embora ainda em um estágio mais intermediário de desenvolvimento, a KTM fez a opção de alinhar quatro RC16 na versão mais nova. Assim, Miguel Oliveira e Iker Lecuona contam com o mesmo equipamento de Pol Espargaró e Brad Binder. As exceções ficam por conta de Suzuki e Aprilia, que não contam com equipes satélites.

A nova estratégia das marcas mudou a cara do esporte. A MotoGP é hoje mais competitiva não só pela acerto do combo Dorna e FIM (Federação Internacional de Motociclismo) com o regulamento, mas também pelo esforço extra das marcas de oferecer mais protótipos, aumentando a competitividade das equipes menores. E, óbvio, acelerando o desenvolvimento, já que são mais pilotos para dar feedback e mais gente para provar novidades.

Com um bom equipamento em mãos, SRT e Tech3, por exemplo, conseguiram vencer em 2020 e, no caso da equipe malaia, ainda brigar pelo título. Até a Avintia, a mais pobre e menos expressiva das equipes, conseguiu debutar no pódio neste ano, graças também a um vínculo mais estreito com a casa de Borgo Panigale.

É claro que triunfar com a estrutura oficial é sempre melhor para as fábricas, mas não chega a ser negativo perder para a própria moto.

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