Iron Dames celebra crescimento e “inspiração a mulheres e homens” no automobilismo

Cada vez mais, o rosa pink da Iron Dames ganha as arquibancadas dos circuitos por onde o Mundial de Endurance passa. E o desejo das pilotas Michelle Gatting, Sarah Bovy e Rahel Frey é que o projeto seja exemplo para qualquer pessoa

Uma das concepções que o pós-Segunda Guerra trouxe ao mundo de modo geral foi a associação da cor rosa ao universo feminino. Não era assim no início do século, sobretudo na época que antecede a Primeira Guerra, quando o tom era ligado ao vermelho do sangue, remetendo, portanto, à força e, consequentemente, à masculinidade. Só que a luta pela igualdade de gênero, ainda que embrionária nos anos 1960, fez com que mulheres também tomassem o rosa para si, por mais que a inversão tenha deturpado o sentido original e transformado a cor quase que em sinônimo de fragilidade.

O rosa que veste as Iron Dames, todavia, representa o feminino, a força e também uma fatia crucial no sucesso do projeto: inspiração. E nas palavras de Michelle Gatting, ela não é restrita apenas às mulheres, mas é aberta “a todos que acharem nossa história interessante”. É baseado nessa filosofia que o rosa se expande cada vez mais pelas arquibancadas dos circuitos que recebem o Mundial de Endurance (WEC), como Interlagos.

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No último mês de julho, a categoria retornou ao Brasil após dez anos e desembarcou com algumas das máquinas mais impressionantes quando o assunto é automobilismo, marcas icônicas que representam idealizações aos apaixonados por velocidade. E nesse meio, a Lamborghini rosa pink da classe LMGT3, puxada por Gatting, Sarah Bovy e Rahel Frey, arrebatou a torcida. Único trio feminino do WEC, a equipe Iron Dames nasceu do sonho de Deborah Mayer em oferecer às mulheres um leque maior de oportunidades dentro do esporte a motor, mas o que se vê hoje é um projeto que se tornou referência para qualquer um que ame corridas.

“Não é apenas para mulheres”, pontuou Gatting em entrevista exclusiva ao GRANDE PRÊMIO durante o fim de semana das 6 Horas de São Paulo. “Vemos cada vez mais meninos e homens no paddock graças ao trabalho incrível da nossa equipe de marketing e fizemos muita propaganda, vendemos produtos para o público. Estamos entendendo o quão grande é esse projeto, podemos ver bonés rosa em todos os cantos do paddock”, salientou a pilota.

A Lamborghini #85 arrebata cada vez mais fãs pelo mundo (Foto: Julien Delfosse/DPPI)

“As pessoas em Le Mans andavam com o boné cor de rosa, com as roupas da equipe, portanto fizemos com que elas se tornassem parte do projeto, e era exatamente isso que queríamos alcançar”, celebrou Michelle. “Queremos inspirar não apenas meninas, mas também mulheres; não apenas meninos, mas também homens. Queremos inspirar todos que achem nossa história interessante”, ressaltou.

Gatting compôs o primeiro trio de pilotas da Iron Dames em 2018 junto com Frey e Manuela Gostner. Havia, claro, o propósito de dar mais espaço às mulheres, porém o braço da italiana Iron Lynx jamais imaginou que o empreendimento poderia se tornar tão bem-sucedido. “Quando o projeto começou, é claro que tínhamos sonhos e objetivos, mas não sabíamos exatamente o que queríamos alcançar, já que muitos querem fazer 24 Horas de Le Mans, 24 Horas de Daytona, diferentes calendários, sonhos, e sabemos que muitos deles são difíceis de alcançar.”

“Mas rapidamente percebemos que quando Deborah tem um objetivo, ela o alcança. Então sabíamos que era mais que um projeto de corrida, e o quanto crescemos foi incrível. Mesmo para nós, como pilotas, mas também para quem está por trás disso, alcançamos coisas extraordinárias juntas. Mas como ela também diz, somos um time e ela não poderia fazer isso sem a gente também. A paixão é a mesma para todos, e isso é muito importante. No fim, somos uma grande família. Desde que começamos, percebi que é muito importante aproveitar cada momento, porque é muito raro alguém poder fazer três campeonatos ao mesmo tempo”, destacou Gatting.

“Nosso resultado é a melhor forma de promover o que fazemos”

Um dos frutos deste trabalho é Bovy, que se uniu ao time aos 31 anos e viveu um “divisor de águas” na carreira. Pelo regulamento da LMGT3, são os pilotos nível bronze que disputam as classificações para as corridas, e poucos conseguem ser tão rápidos e certeiros quanto Sarah em volta lançada.

“Diria que eu e o projeto crescemos juntos e diria que, nos últimos quatro anos, ficou ainda maior. Com certeza hoje é difícil pensar em ir para a casa e imaginar que acabou. Acredito que é o meu destino e estou muito conectada com o projeto. Se eles quiserem me manter, espero continuar por muitos anos”, declarou Sarah ao GP.

“Sou muito orgulhosa por isso”, continuou a belga. “Você começa no esporte a motor, pelo menos no meu caso, porque adora competir. Amo a ideia de guiar um carro o mais rápido possível porque gosto de brigar na pista. É por isso que você começa a correr. É um esporte como os outros, e isso significa muito. Esse time ter um propósito significa ainda mais, e sabemos o impacto que isso tem. Não apenas no esporte a motor, mas no geral. É claro que quando estamos na pista tentamos focar no nosso trabalho, porque nosso resultado é a melhor forma de promover o que fazemos. Mas após a corrida, temos um impacto positivo sobre o que fazemos de fora do carro. Sou muito orgulhosa disso e agradecida por poder fazer parte”, destacou.

“Estamos melhorando a cada corrida, estamos trabalhando duro, brigamos pela pole-position em todas as corridas e estamos na briga pela vitória na classe”, frisou Michelle. “E no fim, é isso que os fãs amam. Quando o carro que eles apoiam está no páreo, isso é algo a mais. Então tudo vale a pena. Sou muito orgulhosa de ver tudo isso acontecer”, completou a dinamarquesa.

Sarah Bovy colocou as Iron Dames na pole das 6 Horas de São Paulo (Foto: Iron Dames)

No encerramento da temporada passada, nas 8 Horas do Bahrein, a Iron Dames alcançou um feito histórico ao levar o então Porsche #85 à vitória na extinta classe GTE-Am (hoje LMGT3). Frey detalhou o intenso trabalho preparatório para as provas de resistência, que exigem atenção especial na parte física e também mental. “As corridas de endurance são um trabalho em equipe, então temos uma abordagem um pouco diferente quando comparada às corridas curtas.”

“A preparação física é diferente, o mental também precisa estar pronto para isso. No aspecto físico, você tem de estar pronta para longas sessões, e o time também deve estar na mesma forma, seguir uma dieta adequada. Não é fácil durante a corrida, e às vezes sofremos com o jet lag (a diferença de fuso). Então existe um grande planejamento por trás. Mas como disse, você precisa conhecer a todos com quem trabalha, é preciso confiar um no outro. Temos de dormir bem e treinar mesmo quando não estamos na pista”, afirmou ao GP.

Na hora do revezamento, Rahel enfatizou que até mesmo o descanso é essencial para que a pilota se recupere da melhor forma possível para a jornada seguinte. “Quando saímos do carro, falamos com os engenheiros e damos o primeiro feedback, depois tentamos manter a alimentação adequada para nos recuperarmos da melhor maneira possível e ficamos aos cuidados da fisioterapeuta. Mas durante as sessões, é importante acompanhar o que sua companheira de equipe está fazendo e perceber os feedbacks delas. No fim, seguimos como um time. Para mim, quando se segue unido, tudo se torna mais fácil, e isso vem com experiência. Nós nos conhecemos muito bem e confiamos uns nos outros”, continuou a suíça.

Foi graças a essa comunicação que Bovy foi para a briga pela pole em Interlagos com um trunfo a mais na manga, já que as parceiras passaram à belga os pontos de frenagem e aceleração nas curvas. Esse exemplo, aliás, é a tradução perfeita de como o trabalho em equipe bem ajustado faz toda a diferença, e as conquistas nada mais do que confirmam que o projeto não existe apenas para cumprir cotas em grids.

“Corremos para provar que somos rápidas. Com a Iron Dames podemos fazer isso. Todos se esforçam muito, e isso me deixa muito orgulhosa e me motiva para me esforçar ainda mais”, finalizou Frey.

A Iron Dames ocupa a oitava colocação do WEC 2024, com 42 pontos. O melhor resultado do time até o momento foi o quarto lugar nas 24 Horas de Le Mans. Em Interlagos, Bovy assegurou a pole, mas a Lamborghini #85 abandonou por conta de um vazamento de água.

O Mundial de Endurance retorna de 30 de agosto a 1º de setembro em Austin, com a Lone Star Le Mans, sexta etapa da temporada 2024. O GRANDE PRÊMIO transmite a prova AO VIVO e COM IMAGENS.

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