Após 13 anos de batalha judicial, ele tem novo nome e quase R$ 200 milhões: a incrível história de Rubén Fangio

A vida de Rubén Álvarez foi comum. Um proletário como tantos outros na Argentina e mundo afora, trabalhou em oficina, ferrovia e hotelaria até ouvir de muita gente que era fisicamente parecido com Juan Manuel Fangio. Questionou a mãe e soube, aos 63 anos de idade, que era filho da lenda argentina. 13 anos depois, recebeu o direito de ser o herdeiro universal de Fangio

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Imagine você viver sua vida toda como um cidadão como tantos outros: um proletário comum, que leva o dia a dia no limite do que o dinheiro e o trabalho permitem e espera conseguir manter a família ao fim de cada mês. Que se casa e vive a vida possível, com seus bons e e maus momentos, vendo o que de bom e ruim ela tem a oferecer. Imagine fazer isso por 76 anos e depois ficar rico. Rico, apenas, não: muito rico. Podre de rico. E, agora reconhecidamente pela justiça, como parte de uma lenda. Essa é a vida de Rubén Fangio, filho de Juan Manuel Fangio.

 
Antes de ser Fangio, sobrenome que a justiça lhe conferiu apenas em 2016, Rubén era Álvarez. Hoje ele vive com a esposa de 44 anos, Ercilia, e perto dos filhos e netos na cidade de Cañuelas, na Grande Buenos Aires. Mas não foi lá que ele nasceu e foi criado. Rubén nasceu em Balcarce, na mesma região, cidade que tem exatamente em Fangio o seu filho mais ilustre.
 
Fangio apadrinhou Rubén e um dos irmãos do pentacampeão da F1 chegou a trabalhar junto do protagonista desta história de cinema numa oficina, durante algum tempo há muitos anos. A vida era dura e as vizinhanças foram várias. 
 
"De Balcarce fomos para Maipu e lá me batizaram, porque meu pai Vázquez mudou de trabalho. Depois fomos viver Mar del Plata, depois Escalada. E, no fim das contas, em Cañuelas, que é onde estou até hoje", disse em entrevista para o site argentino 'Infobae'.
 
Rubén cresceu, se casou e teve três filhos. Trabalhou muitos anos na ferrovia local, mas uma demissão em massa pós-privatização nos anos 1990 fez com que ele deixasse o posto. Foi trabalhar num hotel e começou a ouvir de pessoas diversas a mesma coisa: que se parecia com Fangio.
Juan Manuel Fangio e Rubén Fangio (Foto: Reprodução/Twitter)

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"Aqueles que mais me diziam não eram meus conhecidos, era gente que vinha de outros lugares. No hotel que eu trabalhei, escutava isso de gente que vinha de outros países: alemães, italianos, pessoas de toda parte. Isso que me deixou curioso", contou. 

 
Era uma questão curiosa. Rubén, afinal, só havia encontrado Fangio pessoalmente uma única vez na vida, numa situação que ele mesmo avalia como "sem muita importância". Mas resolveu tirar a limpo e perguntar para a mãe, Catarina Basili, que morreu aos 102 anos em 2012.
 
Para a surpresa dele, sua mãe confirmou: teve um caso com Fangio durante algum tempo na década de 1940. "Eu sei bem que há coisas que são difíceis de falar com a sua mãe. Custou-me horrores. Mas, depois de uma longa conversa, me disse que, sim, Fangio era meu verdadeiro pai."
 
Começou então a busca de Rubén pelo reconhecimento. A mãe assinou um documento reconhecido em cartório afirmando que Juan Manuel Fangio era pai de seu filho e, em 2005, Rubén lançou o processo de paternidade.
 
"A batalha foi terrível. A gente olha para o passado e é incrível ver tudo que já passou. Tivemos um caminho longo e tortuoso para provar a paternidade, revogar a filiação anterior e substituí-la por quem é o verdadeiro pai, Juan Manuel Fangio", disse Miguel Ángel Perri, advogado de Rubén, também ao 'Infobae'.
Juan Manuel Fangio foi campeão com a Mercedes em 1954 após iniciar o ano de Maserati (Foto: Daimler AG)

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Na última semana, após a extensa batalha, a justiça decidiu que Rubén é o único administrador, ao menos por enquanto, do patrimônio material e cultural de Fangio, morto em 1995. Propriedades, publicidade mundial, carros, um hotel na cidade natal de Balcarce e uma fundação. A fortuna é avaliada em ao menos US$ 50 milhões – cerca de R$ 195 milhões.

 
Fangio não reconheceu filhos em vida. A fortuna tem sido administrada há anos por um fundo de investimento comandado por sobrinhos. 
 
"São coisas que fazem com que uma pessoa seja agradecida aos que te acompanham: sobretudo a família e os advogados. Sem eles, isso não teria um final feliz, porque sofremos muita pressão e encontramos muitos problemas no caminho. Mas, bem, tudo termina. Às vezes é tarde demais… Eu comecei a brigar pelo meu reconhecimento de paternidade aos 63 anos", lembrou.
 
O advogado Perri destaca que "esses anos foram muito difíceis. Sofremos mais ataques do que as pessoas podem imaginar, enfrentamos muitos obstáculos. A família Fangio demorou a responder os ofícios que eram enviados pelos magistrados. Houve uma batalha para evitar a exumação do corpo de Fangio."
 
No aniversário de 105 anos do pentacampeão, em 2016, enfim, os restos mortais de Fangio foram exumados para que se obtivesse uma mostra genética para o teste de DNA.
 
"Colocaram todo tipo de trava, nos chamaram de manipuladores, disseram que éramos bandidos, que Rubén era uma fraude e não tinha vínculo algum. Aconteceu de tudo até que o teste de DNA nos deu razão", contou Perri.
Rubén só conseguiu ter Fangio em sua identidade em 2016 (Foto: Infocielo)

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A nova identidade chegou em 2016. Rubén Álvarez era finalmente Rubén Fangio. Começou então uma nova disputa: um litígio de herança. "Uma vez que a paternidade foi confirmada, começamos o processo no tribunal de sucessões. Na semana passada conseguimos uma declaração universal de herdeiro em nome de Rubén Fangio."

 
Na prática, a decisão da justiça significa que Rubén é o herdeiro universal de todos os direitos, bens, marcas, nomes e patrimônio de Fangio. O administrador de toda a herança. Entretanto, logo deve ganhar um irmão oficial. Oscar 'Cacho' Espinosa é outro homem que entrou com processo de paternidade de Fangio. Um teste de DNA definiu que ele também é filho do piloto, mas a questão judicial ainda não chegou ao mesmo patamar daquela movida por Rubén.
 
"Nunca negamos a existência de Cacho", disse o advogado. "Mas acontece que o processo dele está um pouco atrasado em relação ao nosso, ainda não foi declarado herdeiro. É uma questão técnica."
 
Os dois irmãos, entretanto, têm boa relação.
 
"Viajamos juntos, sempre falamos pelo telefone. Ele vive em Mar de Plata; eu, em Cañuelas. Estamos longe um do outro mas nos damos muito bem. Temos uma viagem programada para a Europa nos próximos dias. Vamos ver uma corrida da F1, a de Silverstone. É uma experiência linda", afirmou.
Juan Manuel Fangio vencendo na Alemanha em 1957 (Foto: Forix)

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Quem escuta a história pode imaginar que Rubén está queimando o dinheiro que começou a ganhar, mas ele jura que não é o caso. Ele quer seguir vivendo na cidade de Cañuelas e na mesma casa onde vive há 44 anos. "Todo mundo gosta de ter dinheiro, mas não é minha preocupação. Eu vivo tranquilo. Vivo com um salário de aposentado e sem muitos problemas. Com algumas necessidades, como todo mundo, porque a aposentadoria é curta, mas ganhar tanto dinheiro não me tira o sono."

 
"O que quero é justiça. E que aqueles que usufruíram do nome e dos bens devolvam o que não é deles", garantiu.
 
No meio de tudo, Rubén faz questão de jurar amor a Ercilia, a companheira da antiga vida e da nova. "Ela sempre me acompanhou, ficou ao meu lado e escutou meus problemas e as dores internas do meu coração. Somos pessoas simples e essas coisas machucam muito. Mas, bem, o nosso couro está mais duro. Os anos vão passando e nos fortalecendo", divagou.
 
E lembrou do passado, de quando não sabia quem era de verdade. De quando colocava as mãos num volante e do que pensava, assim como pensa toda Argentina.
 
"Todo mundo que dirige sempre se imagina sendo Fangio quando está num carro. Eu também pensei nisso até descobrir quem sou."
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