Sainz fica ‘para titio’ e recebe dura mensagem: não é visto como piloto de ponta pela F1
Ida para Williams, sem real interesse de equipes maiores, é demonstração de como mercado da Fórmula 1 recebeu temporadas de Carlos Sainz na Ferrari
O grande coringa da silly season 2024 da Fórmula 1 definiu oficialmente a vida na última segunda-feira, para abrir o recesso de agosto com o futuro em pratos limpos. Carlos Sainz será piloto da Williams pelos próximos dois anos, num acordo que finalmente dá o destino posto à prova pela decisão da Ferrari de seguir em frente sem ele. Escolha, essa, feita em janeiro, quase sete meses atrás, e que de imediato pôs Sainz como agente livre. O novo caminho que alinha é demonstração de um piloto que gera visões bastante distintas pelo mundo a motor.
Sainz ficou por meses a fio no mercado desde o momento em que a Ferrari anunciou um acordo arrasa-quarteirão para tirar Lewis Hamilton da Mercedes em 2025. Uma decisão unilateral dos rossos que descartou Carlos, mas o colocou na pista com tempo para resolver a vida e num ano em que se sabia desde há muito que o mercado estaria aquecido, por conta do alto número de contratos pertos do fim. Com um adendo, ainda: com três anos concluídos e um quarto em desenrolar da melhor vitrine da F1, a Ferrari.
Os elementos estavam dispostos para que Sainz pegasse a melhor vaga possível restante no grid e o tempo de Ferrari, time de ponta e com carro que viveu todas as fases possíveis desde 2020, funcionava como melhor vestibular possível. Ao longo do período, houve quem se encantasse com Carlos, mas o encantamento era muito mais do público, livre para se deixar levar por pequenas sequências, que para as equipes grandes, levadas a pensar mirando teto de rendimento e consistência.
As equipes grandes – e, por grandes, entendam Ferrari, Mercedes, Red Bull e McLaren – tomaram a decisão consciente de não contar com Carlos. Dá-se um desconto para a McLaren e sua dupla de contratos longos, mas a Ferrari sequer titubeou em preteri-lo por Charles Leclerc e trazer Hamilton mesmo aos 40 anos e vindo do pior ano da carreira; a Mercedes, com vaga aberta, prefere um piloto que há um ano atrás estava fora do circuito da F1, na FRECA; a Red Bull, mesmo com Sergio Pérez em péssima jornada há um ano e meio, também não o quis.
É possível tergiversar, se o leitor assim quiser, e buscar qualquer subterfúgio possível para explicar os motivos pelas quais as equipes disseram ‘obrigado, mas não, obrigado’ a Sainz, mas a realidade se impõe a tudo isso. E a realidade é dura e seca: as equipes de ponta da Fórmula 1 não enxergam Sainz como um piloto digno de fazê-las sair do caminho e mudar o futuro. É, em suma, mais um bom piloto num grid cheio deles.
Ou alguém consegue imaginar que Leclerc, Lando Norris ou George Russell ficaria sem vaga numa destas equipes caso saísse de outra? É evidente que haveria fila para levá-los. Pudera, mesmo sem atingirem o mercado os três já foram frutos de conversas, recordem. Norris renovou com a McLaren bem quando era assediado pela Red Bull, que também manifestou interesse no futuro de Russell; Leclerc, por sua vez, foi cortejado publicamente pela Mercedes.
Sainz, não. Quando foi levado pela Ferrari, em 2020, chegou com um momento excelente vivido no começo do renascimento da McLaren, então equipe de meio de pelotão. Foi ali que se alçou aos olhos dos carros mais fortes. A verdade é que desde então uma realidade esteve sempre clara: Sainz é melhor quando o carro é pior. Em 2022, quando a Ferrari teve o melhor carro do grid por quase meia temporada, o espanhol viveu o pior momento dele frente a Leclerc.
É algo que escancara a visão macro das equipes que mais podem. Sainz é um piloto deficitário quando tem carros de ponta, porque não tem esse nível de talento. Mas brilha quando tem um carro que pode menos, porque tem como maior predicado a capacidade de aparar arestas. O que faz dele excelente piloto de equipes intermediárias. Mais até que isso: é o melhor piloto de pelotão intermediário da F1 atual. O que quer dizer muita coisa, não é pouco.
Sim, talvez Sainz seja mais líder que Leclerc ou mais corajoso que Norris. Só que não é mais rápido, não está sequer na mesma prateleira, e é isso que separa craques em potencial de produtos finais médios.
Há uma boa vontade inerente com Sainz, como há com pilotos de sobrenomes famosos, que se transpõe para uma projeção desejosa – o famoso wishful thinking – do que se gostaria que ele fosse, mas que ele não é e nunca foi em 10 anos de F1. Está claro quem Carlos é.
Para a Williams, trata-se de grande contratação. Ao lado de Alexander Albon, formará a melhor dupla do meio do grid, enquanto Alpine e Audi continuam por aí buscando quem melhor se enquadre. Se foi bom para Sainz, isso apenas o futuro vai dizer, visto que a Williams é a única entre as três candidatas que tem ao menos um norte.
O mercado da F1 enxergou com a seriedade possível aquilo que Sainz é: as equipes de ponta passaram direto, mas o pelotão intermediário lutou com adagas e correntes por ele. Sem afetações de discutir se é melhor ou não que Leclerc, porque é uma discussão absurda. É claro que não é. Mas é um excelente nome para transformar um carro nota 6 em nota 7,5. Na Williams, é isso que se espera dele.
A Fórmula 1 agora faz a tradicional pausa para as férias de verão na Europa e volta de 23 a 25 de agosto em Zandvoort, para a disputa do GP dos Países Baixos.
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