Com dupla de peso, Renault dorme pensando na Red Bull e acorda atrás da McLaren

A Renault investiu pesado dos pilotos até o time de engenharia e, com a ida da Red Bull para uma contestada Honda, sonhou com top-3 da F1 2019. A realidade é seguir amargando o pelotão intermediário e já atrás da McLaren, sua equipe cliente

A Renault é uma das maiores decepções da temporada. Tal frase já é bastante repetitiva, mas merece mesmo ser usada de novo nas férias de 2019. Dona de grande orçamento, fabricante do próprio motor e com uma tremenda dupla de pilotos, não há qualquer justificativa plausível para os franceses estarem onde estão até o momento.
 
A verdade é que a gigante parece perdida desde seu retorno em 2016, depois de meia década ausente do grid da principal categoria do mundo. Antes, era uma mistura de falta de conhecimento com pilotos ruins. Depois, foi evoluindo lentamente nesses quesitos e, então, travou de vez. 
 
Em 2016, com o mediano Kevin Magnussen e o tenebroso Jolyon Palmer, bizarros oito pontos com direito a um sétimo lugar totalmente enganoso de K-Mag na Rússia. No ano seguinte, a saída foi dar um tiro certo no grid e Nico Hülkenberg colocou ordem na casa, marcando 43 pontos contra apenas 8 de Palmer, que foi trocado na reta final da temporada por Carlos Sainz.
 
A contratação de Sainz parecia suficiente para ajustar os problemas de escalação, mas os problemas eram bem maiores, ainda que a evolução de um ano para o outro tenha sido clara. Não dá para fingir que andar tão atrás da Red Bull, teoricamente uma mera equipe cliente da própria Renault, era algo agradável. Aquilo mexia até com a honra do time.
Carlos Sainz em: saia da Renault e encontre a felicidade (Foto: McLaren)

Veio 2018 e a Renault investiu pesado no motor, aproximando bastante a unidade de potência ao que tinham Ferrari e Mercedes, o carro melhorou mais um pouco e o resultado foi ter virado a Quarta Força, muito por causa de Hülkenberg. Sainz, um pouco abaixo, foi mandado para a McLaren, que viraria principal e única cliente da Renault com a Red Bull mergulhando no desconhecido e fechando com a Honda após uma série de tretas entre austríacos e franceses para todo mundo ver.

 
Bom, tal movimento da Red Bull somado ao quarto lugar da Renault em 2018 foram suficientes para que os franceses sonhassem alto. Por mais que pareça simples, passar de quarto para terceiro no Mundial de Construtores seria algo enorme, já que a diferença do top-3 para o resto do grid parecia até de uma categoria para a outra. A Renault acreditava e, mais uma vez, investiu pesado.
 
E o investimento foi diferente, foi mais direto: tirou Daniel Ricciardo justamente da rival direta e desafeto completo Red Bull, com uma sedutora proposta de ser piloto de uma equipe de fábrica. Bom, isso realmente mexeu com a Red Bull que, no desespero, promoveu – e já rebaixou – Pierre Gasly para fazer par com Max Verstappen.
 
Só que parou por aí o problema da Red Bull. Em performance, não há nem como comparar as duas equipes que, sim, estão de novo em F1 A e F1 B. Com Verstappen em estado de graça, os austríacos já venceram corridas, estão no pódio toda hora e até pole fizeram, em um papel meio que de equipe de fábrica da Honda. E a Renault? Bom, a Renault vai muito mal.
Nico Hülkenberg não está feliz (Foto: Renault)
Além de não passar nem perto de incomodar as equipes de cima, o time passa longe dos resultados do ano passado e já vê a dupla pesada de pilotos extremamente descontente. A performance é tão modesta que, mesmo com um motor competitivo, o time não está mais no G4 da F1 e quem o tirou de lá foi justamente sua cliente, está acontecendo tudo de novo.
 
Só que a bola da vez é a McLaren, que passou anos em um perrengue danado em parceria fracassada com a Honda. De Renault com uma dupla extremamente jovem, os laranjas estão impressionando e dando um baile nos amarelos, que mais uma vez parecem ter conseguido a proeza de ter um chassi que casa pior com o próprio motor que o de uma outra equipe.
 
E é tão maluco o carro de 2019 da Renault que ele parece render em pistas que, em tese, seriam desfavoráveis para aquele que é um motor ainda abaixo dos rivais. Canadá e Bahrein, por exemplo, foram provas em que os franceses tiveram um ritmo relativamente bom, enquanto Mônaco e Espanha foram de sofrimento total.
Daniel Ricciardo não estava esperando isso da Renault (Foto: Renault)

A única chance real de fazer alguma coisa estava na Alemanha, quando a chuva juntou todo mundo, mas Hülk cometeu um raro erro e foi ao muro no quarto lugar. Outro episódio simbólico da má fase foi o time admitir que esqueceu a estratégia do alemão no Canadá para focar em Ricciardo, que estava poucos metros na frente do companheiro.

 
Resultados ruins, performance péssima, pilotos insatisfeitos, Hülkenberg perto de sair do time, acidente de caminhão e até Alain Prost de diretor-executivo na vaga de Thierry Bolloré marcaram o primeiro semestre do time que, por enquanto, parece ainda confiar plenamente na figura controversa de Cyril Abiteboul para chefiar a reação.
 
Está ficando tarde, 2019 já era e a missão para o resto do ano não pode ser mais do que evitar um vexame ficando atrás da Toro Rosso. Mas e para o futuro? Qual será o tamanho da paciência de uma equipe que historicamente é impaciente? A Renault tem muitas respostas a dar e, se quiser evitar nova saída da F1, é bom que mexa radicalmente em seu comando.

Paddockast #28
INTERROGANDO Flavio Gomes: O Boto do Reno

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