“Diabo está nos detalhes”: Red Bull tem motivo para se preocupar após testes no Bahrein?
A Red Bull foi a equipe que menos andou na pré-temporada, enfrentou problemas de confiabilidade e, apesar de um início cheio de sorrisos, o dia final de testes revelou uma equipe mais apreensiva. Será que o time austríaco tem mesmo razão de se preocupar antes do início da temporada em pretende retomar o posto de liderança na Fórmula 1
“Diabo está nos detalhes”. É assim que o chefe da Red Bull, Christian Horner, entende o projeto do RB21, o primeiro sem a assinatura do mago Adrian Newey. A frase foi dita antes de novo carro ganhar a pista e agora faz ainda mais sentido, quando se percebe o trabalho real, o desempenho e a inevitável comparação com os principais adversários do grid. O caso é que a equipe taurina viveu três dias intensos de testes no Bahrein e deixou a pré-temporada com a sensação de que há muito a ser feito — em um cenário bastante diferente daquele de 12 meses atrás, quando ainda havia a impressão de que os energéticos caminhavam para um novo domínio. Neste instante, a história se mostra diferente.
Os engenheiros liderados por Pierre Waché pensaram em um modelo mais simples e limpo, com a meta de ampliar a janela de operação, algo que custou o título mundial em 2024. A verdade é que o carro azul-marinho parece ter potencial, porque em alguns momentos chegou a revelar performance semelhante a da rival McLaren, só que há mais pontos de interrogação do que respostas neste momento. E o desconforto de Max Verstappen na sessão final, na última sexta-feira (28), disse muito sobre a jornada do time pentacampeão da F1.
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Essa sensação é confirmada pela forma como a equipe austríaca levou a pré-temporada. Além da lanterna no quesito quilometragem em Sakhir — foram apenas 304 voltas contra 458 da Mercedes, equipe que mais andou —, o time dos energéticos também enfrentou problemas técnicos e não foi capaz de reproduzir condições de corrida, por exemplo. E se no primeiro dia o tetracampeão saiu do carro falando em “surpresas positivas” e garantindo que “tudo estava sob controle”, porque “pior do que ano passado não poderia ser”, as atividades seguintes mostraram outra realidade. A esquadra enfrentou problemas de confiabilidade logo na sequência e precisou lidar com outros contratempos. Na sessão em que Liam Lawson, o substituto de Sergio Pérez, teve para si, uma perda da pressão de água do motor tirou do time um considerável tempo de pista e limitou os testes aerodinâmicos, as simulações, bem como uma avaliação mais profunda do comportamento dos pneus.
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No fim, foram apenas pequenos stints e o sétimo melhor tempo do dia. É claro que tempo de volta nunca é parâmetro em testes como esses, mas a sessão foi mais tumultuada do que a Red Bull havia programado. No dia seguinte, Verstappen assumiu o RB21 com a missão de levantar mais informações e efetivamente testar configurações e diferentes elementos do modelo. A começar por uma asa dianteira revisada, porque esse foi um ponto de divergência dos austríacos em 2024.
A Red Bull colocou para jogo um novo conjunto de bico e asa dianteira na sexta-feira. A solução visa melhorar o fluxo aerodinâmico no fundo do carro e melhor o equilíbrio geral. A nova frente do modelo taurino — que não é tão nova assim, já que a equipe usou do mesmo recurso no primeiro ano do atual regulamento, em 2022 — tem o bico mais curto, terminando na penúltima aleta da asa dianteira. Tratou-se da mesma filosofia atualmente usada pelas rivais diretas Ferrari e McLaren.
Verstappen dedicou um bom tempo aos testes da conjunto dianteiro, também porque faz parte do objetivo da Red Bull em sofrer menos com pistas onduladas e zebras mais altas. Além disso, a equipe também decidiu avaliar um novo assoalho. Mas o neerlandês não se sentiu confortável com a peça, e o time precisou voltar à versão original rapidamente, depois de apenas algumas voltas. Outro ponto que ficou claro em grande parte da sessão final foi o fato de que Max ‘brigou’ mais com o carro. Na verdade, o modelo estava saindo de frente, e isso provocou enorme desequilíbrio. Por isso, os engenheiros tiveram de mudar acerto e outros elementos.
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Como consequência, o tetracampeão teve mais problemas para domar o RB21 — a rodada na parte final dos testes não foi acaso. “Não estou tão satisfeito quanto poderia estar neste”, reconheceu Waché, após os trabalhos no Bahrein. “Os testes não foram tão bem quanto esperávamos, mas é melhor encontrar problemas aqui do que mais tarde na temporada. É exatamente para isso que estamos aqui: para entender o carro”, completou.
“O clima não estava do nosso lado e não é realmente representativo desta pista, mas tentamos explorar o potencial do carro e entender como ele reage a diferentes configurações. Acho que tivemos sucesso na maior parte. E é possível dizer as quatro principais equipes foram velozes, nós somos uma delas, mas a gente se concentrou em nosso próprio programa”, emendou o engenheiro.
De fato, a Red Bull pode colocar na balança também o clima mais frio no Bahrein, porque certamente impõe um contraponto na análise geral do comportamento do carro. Além disso, os ventos fortes também provocaram um ponto de interrogação sobre a eficiência aerodinâmica. E há um ponto importante: embora não tenha realizado uma simulação de corrida propriamente dita, Verstappen foi capaz de exibir velocidade e compensar o acerto do RB21. Mesmo em stints mais curtos que a concorrência, Max mostrou ritmo. Então, quando ele falou em “dia decente” ao fim da sexta-feira, dá para traduzir como: a equipe austríaca tem potencialmente um carro melhor do que aquele que encerrou a temporada pasada, ainda que precise de maior quilometragem para encontrar essa performance para alcançar a McLaren — que parece muito pronta para a estreia.
Então, sim, há alguns pontos de preocupação nas garagens austríacas antes do início do campeonato, porque, como bem disse Horner, o ‘diabo está mesmo nos detalhes’.
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Com o período de testes coletivos oficialmente encerrado, a próxima atividade da Fórmula 1 é a estreia da temporada, no GP da Austrália. A etapa está programada para acontecer entre os dias 14 e 16 de março, com cobertura completa do GRANDE PRÊMIO.

