Embora chocados com morte de Bianchi, pilotos rejeitam mudança de postura e se dizem acostumados ao risco da F1

Em uma coletiva da FIA, Nico Hülkenberg, Felipe Massa, Sergio Pérez, Roberto Merhi, Romain Grosjean e Felipe Nasr descartaram mudar de postura na F1. Pilotos afirmaram que se acostumaram com os riscos do esporte

A F1 chega à Hungria ainda impactada pela morte de Jules Bianchi. Depois de mais de nove meses lutando com as sérias lesões sofridas no grave acidente do GP do Japão de outubro passado, o francês de 25 anos não resistiu e faleceu na última sexta-feira (17).
 
Na volta 43 do GP do Japão, Bianchi perdeu o controle na curva 7 e acertou em cheio o guindaste que tinha entrado na área de escape para remover o carro de Adrian Sutil, que tinha batido no giro anterior. Socorrido ainda na pista, Jules foi levado ao hospital e submetido a uma cirurgia de cerca de 4 horas. Um boletim médico divulgado pela Marussia dois dias depois da batida informou que o piloto de 25 anos sofreu uma lesão axonal difusa, que é uma lesão ampla e devastadora e que, em mais de 90% dos casos, deixa suas vítimas em coma definitivo.
 
Sete semanas após o acidente, Jules foi transferido para um hospital em Nice, na França, onde permaneceu inconsciente até o fim.
Tomados pela emoção, pilotos participam de entrevista coletiva nesta quinta-feira na Hungria (Foto: Reprodução)
Participando de uma coletiva de imprensa organizada pela FIA (Federação Internacional de Automobilismo) em Hungaroring nesta quinta-feira (23), Nico Hülkenberg, Felipe Massa, Sergio Pérez, Roberto Merhi, Romain Grosjean e Felipe Nasr reconheceram que a morte de Bianchi os lembra do perigo do esporte, mas descartaram mudar de postura.
 
“Isso abre os nossos olhos e mostra que ainda tem alguns riscos no que estamos fazendo”, disse Hülkenberg. “Acho que você precisa estar ciente disso e fazer suas próprias escolhas dentro do carro, o risco que está disposto a correr e estar confortável com isso. Para mim, pessoalmente, não vai mudar muito”, seguiu.
 
Massa, por sua vez, recordou o acidente que sofreu na mesma Hungaroring em 2009 e disse que, mesmo assim, não pensa no que lhe aconteceu quando está guiando.
 
“Quando você fecha o visor, você quer lutar, quer terminar na frente e fazer o melhor que puder. As manobras, as ultrapassagens, a forma como você guia, acho que isso não vai mudar, porque lembro de quando tive o meu acidente aqui, quando eu comecei a guiar novamente aqui na Hungria, eu não lembro daquilo sempre que passo naquele lugar. E eu sofri o acidente lá”, explicou Felipe. “Você realmente não pensa a respeito. Talvez, quando sair do carro, me lembre de Jules ou do meu acidente, mas não quando estou guiando”, garantiu. 
 
 “Eu nem ao menos penso que tenho uma mãe, um pai, um filho, a minha esposa, ou o que quer que seja, você não pensa nisso, só pensa no seu trabalho. E eu não acho que isso vai mudar, mas agora eu tenho Jules na minha mente o tempo todo”, completou.
 
Pérez frisou que os pilotos são conscientes dos riscos que correm, mas avaliou que a morte de Bianchi não vai mudar a postura de ninguém. 
 
“Obviamente, quando uma coisa assim acontece, você toma ciência dos riscos”, começou. “É o que nós amamos fazer. Quando uma coisa assim acontece com um colega, nós todos sabemos que podia ser um de nós naquele carro. Mas isso realmente não muda nada”, seguiu. 
 
“Você sabe que o risco está lá, nós todos sabemos, pode acontecer em um treino, em qualquer dia. Quando você entra no carro, você sabe que o risco é alto, mas isso realmente não muda nada. Como o Felipe disse, nós queremos dar o nosso melhor, queremos ser bem sucedidos, tirar cada décimo do carro, então nós temos de dar tudo e não acho que isso vai mudar. Nós todos temos de deixar Jules muito orgulhoso”, defendeu.
 
Merhi foi na mesma linha, mas admitiu que não se sentiu seguro ao ver um guindaste na pista durante uma etapa da World Series.
 
“Não acho que mude muita coisa, mas com certeza você pensa mais nisso. Por exemplo, eu estava correndo aqui com a World Series e, na saída da última curva, teve um acidente e um guindaste veio remover o carro e eles não colocar o safety-car. Honestamente, quando vi aquela situação, as bandeiras amarelas, eu realmente reduzi a velocidade”, contou. “No passado talvez eu não tivesse reduzido tanto, mas depois daquilo você pensa mais a respeito. Você tem mais medo de que as coisas possam acontecer. Eu não me senti muito confortável naquela situação e acho que perdi três décimos por volta naquela curva, pois achei que era uma curva perigosa e uma situação perigosa”, relatou. 
 
“Desta vez, quando deixei a minha casa, não foi a mesma coisa dizer tchau para a família e tudo isso, porque você sabe que essas coisas podem acontecer e talvez antes a gente nunca tenha parado um minuto para pensar nisso”, ponderou.
 
Titular da Lotus, Grosjean contou que os pilotos se acostumam com os riscos, especialmente porque é sempre muito importante ficar completamente focado.
 
“Acho que ao longo da carreira ficou natural correr riscos. Acho que quando você guia, especialmente um carro de F1, assim rápido, você precisa estar 100% dentro do carro e não pensando no que poderia acontecer se e se”, defendeu. “Nós sabemos que é um esporte perigoso, e é uma forma dura de sermos lembrados disso, mas quando o visor fecha, é 100% corrida e é isso que nós fazemos. É o que um piloto sempre vai fazer”, assegurou.
 
Último a falar, Nasr concordou que os pilotos não pensam nos riscos, mas lembrou que o acidente de Bianchi já trouxe mudanças para deixar o esporte mais seguro.
 
“Eu concordo com o que todo mundo disse. Nós estamos correndo, é para isso que viemos aqui. Nós às vezes corremos algum risco, mas acho que, desde então, a coisa do safety-car virtual foi um ponto positivo no sentido de evitar o tipo de circunstancias como aconteceu com Jules, mas também cabe a nós saber desse tipo de circunstância, e estar ciente de que em condições perigosas, nós todos temos de saber o que é bom para nós, o que temos de fazer, o que é seguro. Mas quando nós estamos correndo, nós não pensamos no perigo”, encerrou.
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