FIA admite imprudência com trator e anuncia medidas após revisão dos atos no GP do Japão

A entidade divulgou um comunicado em que lista os procedimentos tomados em Suzuka e as correções que pretende fazer na Fórmula 1 já a partir da etapa em Austin, como o fim do rodízio de diretores de prova

A FIA anunciou nesta sexta-feira (21) o resultado da revisão dos atos que causaram discordância e irritação a pilotos, equipes e público no GP do Japão de Fórmula 1. Em comunicado, a entidade listou os procedimentos que foram avaliados e as decisões que serão postas em prática já a partir deste fim de semana no GP dos Estados Unidos, mas deixou claro que foi imprudente ao soltar um trator para resgate do carro de Carlos Sainz, acidentado na primeira volta, e que vai pôr fim ao esquema de revezamento entre os diretores de prova, escolhendo Niels Wittich até o fim do ano.

Antes do início dos treinos livres da 19a etapa do Mundial 2022 da F1, em Austin, a entidade máxima do automobilismo emitiu uma nota em que lista as revisões supervisionadas por seu vice-diretor esportivo, Robert Reid, depois de um “processo de reflexão crítica”, do feedback da GPDA (Associação dos Pilotos da F1) e, em específico, do presidente George Russell e de Pierre Gasly, personagem importante em toda a cena da corrida em Suzuka.

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O francês acabou batendo em uma placa de publicidade na pista e precisou fazer uma parada para trocar a asa dianteira naquele momento da corrida. Com o safety-car na pista e a bandeira vermelha já acionada, o piloto da AlphaTauri voltou atrás e começou a rumar de volta para os boxes, até que se deparou com o trator no meio da na pista. Gasly, depois da corrida, acabou sendo punido por não ter, segundo a FIA, respeitado a velocidade em regime de bandeira vermelha.

Tanto no momento quanto depois, Gasly vociferou. “Eu podia ter me matado, porra. É inaceitável”, disse.

Na revisão dos fatos, a FIA entendeu primeiramente que, para a largada ter sido dada, “as condições eram adequadas o suficiente”, salientando que “todas as equipes largaram com pneus intermediários após as voltas de reconhecimento do grid, mas que a chuva mais forte na hora da largada fez com que o controle do carro com pneus intermediários fosse mais desafiador”.

FIA investigou as decisões polêmicas da direção de prova no GP do Japão (Foto: Toshifumi Kitamura/AFP)

Então veio o acidente de Sainz depois do grampo de Suzuka, na curva 12. A direção de prova acionou rapidamente o SC. Daí veio a primeira confissão de erro da FIA. “A revisão observou que, em tais condições, um veículo de recuperação não deve ser acionado a menos que todos os carros estejam alinhados atrás do safety-car”, disse a federação. “Dadas as condições da pista e a visibilidade geral dos pilotos, comissários e equipe de recuperação na época, inicialmente sob um safety-car seguido de uma bandeira vermelha, e como os esforços estavam focados na recuperação segura, a AlphaTauri de Pierre Gasly no pit-lane não foi imediatamente detectada”, admitiu.

A sequência da explicação denotou a gravidade da questão. “O Controle de Corrida não monitora necessariamente todos os carros que podem parar durante os períodos de safety-car, pois estão mais preocupados com qualquer área que contenha um incidente e neutralize o campo atrás do SC”, completou a FIA. Ou seja: a direção de prova, até o GP do Japão, não tinha 100% de conhecimento do posicionamento de todos os carros em uma corrida de Fórmula 1 no momento em que o carro de segurança é acionado.

Na continuação do comunicado, veio a admissão de imprudência da direção de prova, sobretudo em uma pista onde houve o acidente que acabou matando Jules Bianchi em 2014. “O painel de revisão reconheceu que ter guindastes de recuperação na pista em Suzuka durante as condições climáticas é um assunto delicado em vista dos trágicos incidentes do passado. O painel determinou que, em retrospectiva, como as condições climáticas estavam mudando, teria sido prudente atrasar a implantação dos veículos de recuperação na pista”, salientou o trecho.

Pierre Gasly bateu em uma placa de publicidade logo na largada após o acidente de Carlos Sainz (Foto: Philip Fong/AFP)

Sobre o caso específico de Gasly, a FIA disse que “os dados mostraram que, em um esforço para fechar o tempo delta para o safety-car, ele estava acelerando em velocidades que ultrapassaram 200 km/h antes da cena do incidente de Sainz – e, depois de passar a Ferrari atingida por Sainz sob bandeira vermelha”.

Houve também uma admissão de que há um desconforto com a performance dos pneus Pirelli para chuva intensa. “Discutiu-se o desempenho dos atuais pneus de chuva em condições extremas. A análise do desempenho dos pneus em condições de chuva está em andamento entre o Departamento Técnico da FIA e o fabricante oficial de pneus”, revelou a nota.

Ainda, há uma “constante revisão” da Comissão dos Circuitos sobre “a questão da fixação de placas de publicidade, sua construção, localização e materiais”.

O comunicado, então, chegou ao ponto das medidas a serem tomadas com efeito imediato. São as seguintes, ipsis litteris:

Fornecimento de informação às equipes através de mensagem pelo sistema de mensagens oficial e comunicada através do sistema de intercomunicação da FIA para notificar as equipes que um veículo de recuperação está em andamento, com a obrigação das equipes de informarem os seus pilotos.

Desenvolvimento de uma janela de monitoramento VSC/SC ao vivo para exibir o status de todos os carros, na pista, atrás do SC e nos PITS para ser usado pelo Direção de Prova.

Atualização do Procedimento de Direção de Prova para definir melhor a alocação de tarefas em toda a equipe de Direção de Prova (incluindo delegação de tarefas de monitoramento conforme necessário) sob o procedimento de SC ou VSC. Em relação especificamente a esta revisão, a delegação de monitoramento de carros que entram no pit-lane em condições de SC e o consequente comprimento em regime de SC.

O Diretor de Prova da FIA fará uma revisão dos incidentes em Suzuka durante o briefing dos pilotos do GP dos Estados Unidos para explicar quais soluções a FIA planeja introduzir para evitar uma repetição da situação no futuro e para lembrar os pilotos das regras relacionadas para carros de segurança e bandeiras vermelhas.

VSC Dinâmico: implementação de uma nova função que alteraria a velocidade delta necessária para o piloto seguir antes e nos setores onde há um incidente. Isso ajudaria os pilotos a saber onde os incidentes foram apontados.

Em conjunto com as equipes, será feita uma revisão dos precedentes de punições para os pilotos que não respeitarem as regras relativas às condições de bandeira amarela, amarela dupla, VSC e SC.

Avaliação da aplicação atual dos painéis publicitários, sua construção, localização e materiais utilizados para evitar o risco de serem arrancados e jogados na pista.

Somam-se a esses pontos uma decisão importante: a FIA vai acabar com o revezamento dos diretores de prova, rifando Eduardo Freitas até o fim da temporada 2022 da Fórmula 1. Wittich assume, pois, o comando das corridas nos EUA, no México, no Brasil e em Abu Dhabi.

Por fim, a entidade disse que a aplicação total dos pontos ao GP do Japão foi correta, mas que “a redação do regulamento será revisada com o objetivo de trazer mais clareza durante a próxima revisão do Regulamento Desportivo. No fim da corrida, como pano final do desastre, ninguém sabia se o vencedor, Max Verstappen, havia sido campeão. O fato só ocorreu mesmo quando o piloto da Red Bull estava na antessala do pódio. Sem graça, Verstappen celebrou o bicampeonato em uma poltrona especial.

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