Filha de Reutemann detona Ecclestone após revelação sobre 1981: “Ponta do iceberg”

Ao GRANDE PRÊMIO, Cora Reutemann falou sobre a polêmica declaração de Bernie Ecclestone no documentário "Lucky!" e detonou o dirigente, afirmando que a situação do suborno é apenas a ponta do iceberg

A exibição do documentário “Lucky”, sobre Bernie Ecclestone, personagem que administrou a Fórmula 1 por mais de quatro décadas, abriu velhas feridas e expôs antigas polêmicas que surgiram ao longo da história da principal categoria do automobilismo mundial. E uma delas, que retornou após longo ostracismo, foi a decisão do campeonato de 1981, que teve duelo entre o Carlos Reutemann, da Williams, e Nelson Piquet, da Brabham, e que foi decidido a favor do piloto brasileiro.

Sobre esta disputa, Ecclestone confessou ter violado o regulamento técnico da Fórmula 1 com o uso da suspensão hidropneumática. Na época, além de chefe da FOCA [Associação de Construtores da Fórmula 1], também era chefe da Brabham, equipe de Piquet. Este elemento permitia que o carro corresse a uma distância menor do solo e favorecesse o desempenho aerodinâmico, mas com o auxílio de um botão, voltava à sua posição original para realizar a checagem técnica nos boxes.

Com este implemento, Piquet venceu o GP da Argentina de ponta a ponta, e por 26s de vantagem para Reutemann. Em outra passagem, o empresário britânico afirma ter subornado um massagista para beneficiar o brasileiro e prejudicar o argentino durante a corrida decisiva do campeonato em Las Vegas.

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O brasileiro Nelson Piquet saiu com o título em 1981, guiando pela Brabham (Foto: Reprodução)

Diante dessas revelações, Cora Reutemann, filha do vice-campeão da F1 de 1981, falecido em julho de 2021, criticou as manifestações de Ecclestone e considerou que seu pai deveria ser coroado campeão daquela temporada devido a violações do regulamento pelo britânico.

“Mais do que tudo, é uma reivindicação moral. Depois de assistir a parte do episódio 4 do documentário Lucky, onde Bernie fala sobre o que fizeram com meu pai, é apenas a ponta do iceberg de tudo que fizeram com ele aquele ano”, comentou Cora em entrevista exclusiva ao GRANDE PRÊMIO em Espanhol. “No começo fiquei feliz, porque lembro que mandei um áudio para Bernie contando o que aconteceu com ele naquela decisão de 1981. Mas no dia seguinte, papai morreu e isso ficou no ar”

“Quando ele declarou o suborno, fiquei feliz porque me pareceu uma forma de me responder publicamente. Mas depois de alguns dias, vendo um pouco mais do episódio, achei meio humilhante. Papai se foi. É algo que deveria ser falado quando ele estava vivo. É como se dissessem “ganhamos, mas trapaceando”, seguiu.

Na Argentina, Piquet saiu da pole para conquistar sua primeira vitória no campeonato (Foto: Reprodução)

No campeonato de 1981, Reutemann começou como líder indiscutível, porém, perdeu fôlego ao longo da temporada e chegou à definição em Las Vegas apenas 1 ponto à frente de Piquet. Naquele final de semana, os dois pilotos tiveram um incidente no treino classificatório, quando o argentino já havia feito a pole position, obrigando-o a trocar de carro e rodar com o carro reserva da equipe. Nesse caso, para a filha do saudoso piloto, apesar de ter conquistado a pole position, a influência de Ecclestone foi decisiva para que o brasileiro fosse o campeão.

“Antes de começar, meu pai sabia que tinha acontecido uma trapaça, e que ele não ganharia o campeonato. Nem a corrida, nem o campeonato. Bernie era dono da Brabham e da F1. Você acha que ele ia deixar outra pessoa ganhar quando era dono de tudo?”, adicionou Cora. “O campeonato de 1981 deixou uma ferida. No ano seguinte, não quis mais correr”, completou.

Nelson Piquet na corrida que lhe garantiu o título, em Las Vegas (Foto: Reprodução/Reddit)

Após a decisão em Las Vegas, Reutemann se aposentou da Fórmula 1 em 27 de março de 1982, após abandonar o GP do Brasil. A partir daí teve uma breve participação no Campeonato Mundial de Rali com a Peugeot, em 1985, e iniciou carreira na política em 1991. Foi duas vezes governador da província de Santa Fé, pré-candidato à presidência em 2003 e depois senador. Durante seu último mandato, ele morreu de hemorragia digestiva em 7 de julho de 2021, quando tinha 79 anos.

“Ecclestone foi uma das primeiras pessoas a prestar condolências quando meu pai morreu. Nunca tive problemas com ele, pelo contrário. Mas depois de assistir este episódio, realmente não gosto da maneira como o narra”, recordou Reutemann. “Embora Ecclestone não seja mais dono da F1, ele ainda tem influência. Ele me ligou há dois dias, mas eu não atendi. Se quiser fazer um esclarecimento, faça-o publicamente, como disse no documentário”, seguiu.

Com esse panorama, a filha do ex-piloto estuda para lutar pelo reconhecimento oficial para que Reutemann possa sagrar-se campeão da temporada de Fórmula 1 de 1981.

“Não planejei fazer uma reclamação formal, mas muitas pessoas me pedem para reivindicar o título do meu pai. Eu vou pensar. Para Ecclestone dizer que ganhou trapaceando, já é enorme”, disse. “Não acho que o título pode ser tirado de Piquet. Não tenho nada pessoal contra ele, mas é justo que meu pai seja campeão. Deixo para as autoridades competentes decidirem o que é apropriado. Meu pai se foi, mas acho que isso seria curador para ele. Ele lutou contra todos e até contra seu próprio time. E chegou muito longe tendo o mundo contra ele naquele 1981”, concluiu.

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